"My kitten died"

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Como sempre, Jisung fechava os olhos, mergulhando em pensamentos sombrios sobre não acordar mais. Será que, se simplesmente deixasse de existir, alguém sentiria sua falta? As pessoas chamam quem tira a própria vida de covarde, mas não entendem que, às vezes, continuar tentando é insuportável. Talvez acabar com tudo fosse a solução para a dor que sentia.

Esses pensamentos o assombravam sempre que estava sozinho em seu quarto, o que era frequente. Era difícil escapar.

Batidas suaves na porta ecoaram pelo cômodo escuro, fazendo-o apertar os olhos com força. Como uma criança, cobriu a cabeça, não querendo ser incomodado.

— Maninho, trouxe comida — a voz abafada de Chan soou do outro lado.

— Não quero, hyung — murmurou, quase inaudível.

O suspiro do irmão apertou o coração de Jisung. Sabia que não era fácil lidar com ele, que muitos o consideravam dramático, mas simplesmente não conseguia se levantar naquela manhã. Não queria ver ou falar com ninguém, nem mesmo com seu irmão mais velho.

— Certo, Hanji. Vai estar na geladeira se quiser — disse com um suspiro. — Vou para o trabalho agora. Qualquer coisa, não hesite em me ligar, tá bom?

Chan esperou por uma resposta, mas já estava acostumado ao silêncio de Jisung, que economizava palavras.

— Também te amo, criança.

E assim, Bangchan saiu, deixando-o sozinho, como todos os dias. Se pudesse, ficaria para ajudar caso o irmão tivesse uma recaída mais pesada, mas precisava manter o emprego.

Com um suspiro, Jisung olhou para o celular: 8h30. Bloqueou o aparelho e voltou a dormir, como fazia todas as manhãs nos últimos três anos.

Sem uma rotina fixa, Jisung acordava sem motivação, dormia até tarde, e em muitos dias saía da cama apenas para tomar banho ou beber água. Sentia-se preso, mas era incapaz de escapar.

Eram 16h40 quando finalmente se levantou, lavou o rosto e vestiu algo mais quente. Puxou a touca do moletom e saiu de casa pela primeira vez em semanas. Bangchan ficaria orgulhoso se visse isso.

Respirou fundo, o ar gelado invadindo seus pulmões, trazendo uma sensação de alívio. Andava sem rumo pelas ruas desertas, num dia frio e cinzento.

No parquinho, avistou uma figura pequena se balançando em silêncio. Com um pouco de coragem, Han se aproximou, sentando-se ao lado.

Os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, apenas o som do vento e das correntes enferrujadas quebrando a quietude.

— Você está bem? — Han ousou perguntar.

O garoto, de cabelos ruivos escondidos sob uma touca, tinha uma expressão triste.

— Meu gatinho morreu — respondeu, a voz embargada pelo choro.

A voz grave do pequeno surpreendeu Jisung, que não esperava aquele tom vindo de uma figura tão frágil.

Han mordeu os lábios, querendo consolar o garoto, mas sem saber como.

O ruivo se virou para ele, revelando sardas que cobriam seu rosto e pescoço. Quando seus olhos escuros e sem vida encontraram os de Jisung, ele sentiu algo estranho, uma sensação que se intensificou quando o sardento esboçou um sorriso tímido.

— Sou Lee Felix — disse, com um sotaque australiano que fez Jisung rir levemente.

Depois de tanto tempo sem ver outro rosto além do de Bangchan, aquele sorriso genuíno trouxe uma leveza indescritível a Jisung.

— Han Jisung — respondeu gentilmente.

E o silêncio voltou a se instalar, mas desta vez, de forma confortável.

Jisung fechou os olhos, balançando de leve, cantando uma música em sua mente.

— Desculpe por me conhecer assim — Felix falou, um pouco envergonhado. — Juro que sou mais feliz do que isso.

Ele riu, ajeitando o gorro. Apesar de Jisung não conseguir ver claramente o rosto do garoto, sentia que Felix emanava uma aura angelical, o que o deixava mais calmo e relaxado.

— E você, por que está com essa cara? — perguntou Felix. — Acabou de acordar?

Han assentiu, mordendo o lábio como sempre fazia quando estava nervoso ou pensativo.

— Ei! Seu lábio.

Felix tocou suavemente os lábios de Jisung, passando os dedos sobre a área machucada. Han ficou paralisado com o toque, algo que não sentia há muito tempo. Felix limpou o dedo sujo de sangue na própria calça preta, sem se importar.

— Você cortou — explicou.

Com o coração acelerado, Han se levantou e voltou para casa, deixando o ruivo confuso. Será que tinha feito algo errado?

Jisung entrou na casa vazia, já passava das 18h. Retirou o moletom e os tênis, tomando coragem para tomar banho. A água morna escorria por sua pele pálida, trazendo conforto, enquanto fechava os olhos, aproveitando aquele momento tranquilo.

A voz grave de Felix invadiu sua mente, trazendo uma sensação de arrepio. O sorriso daquele estranho clareou os pensamentos sombrios de Jisung. Queria ter aproveitado mais aquele simples momento.

Ele não gostava de sair porque temia encarar as pessoas e conversar. Isso o aterrorizava, causando dor de estômago só de pensar. Mas conversar com Felix era diferente, era confortável. O que ele estava pensando? Provavelmente nunca mais veria aquelas sardas.

Naquela noite, preparou uma refeição e esperou seu irmão. Bangchan ficou surpreso ao ver Jisung fora de sua zona de conforto, com uma expressão leve no rosto, os olhos brilhando como se algo incrível tivesse acontecido.

— O que aconteceu, Hanji? — Bangchan perguntou enquanto comia um pouco de arroz.

— Ah, Chan, eu saí hoje — respondeu. — Conversei com um menino, foi interessante.

Bangchan sorriu de orelha a orelha, feliz por ver o irmão se abrindo, se comunicando com outra pessoa por vontade própria.

— Ah é? E como ele era? — perguntou animado.

Han sorriu ao se lembrar.

— Ele era... como posso dizer? — pensou. — Pequeno e magro, cabelos ruivos como fogo, sardas como estrelas.

Os olhos de Jisung brilhavam.

— Ele estava triste por causa do gatinho que morreu, mas mesmo assim sorriu para mim. Limpou minha boca quando mordi o lábio forte demais — Jisung olhou para o irmão. — Ele poderia ter me ignorado, mas não...

— Viu, Hanji? Nem todas as pessoas são ruins.

Bangchan bagunçou os cabelos do irmão e ambos riram. Pela primeira vez em anos, tiveram um jantar feliz em família.

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❝𝐒𝐔𝐍𝐒𝐇𝐈𝐍𝐄❞ - jilix.Onde histórias criam vida. Descubra agora