"Se a lua toca no mar
Ela pode nos tocar
Pra dizer que o amor não se acabe."
Na pequena tribo indígena o dia começava bem cedo. O sol mal tinha raiado e os homens já tinham saído para caçar e as mulheres mais jovens da aldeia já se iam para o Rio com seus grandes cestos de roupas em cima das cabeças.
As crianças da tribo corriam de um lado para o outro numa mistura de gritos e risadas.
Sentada diante de sua oca, a velha anciã Amana olhava para elas com uma alegria crescente.
Como era de costume em todas as manhãs, assim que as crianças viram a anciã sentada ali, correram todas até ela.
— Amana conta uma história!- elas pediam. — Conta. Conta!
Elas começaram a falar e gritar ao mesmo tempo.
— Tudo bem. Se acalmem.
Quase que imediatamente todas se silenciaram e olharam esperançosas para a anciã.
— O que querem ouvir hoje?
Uma nova algazarra se fez. Amana teve que bater sua pesada bengala no chão repetidas vezes para fazer elas ficarem quietas de novo.
— Que tal deixarmos Aruanã escolher hoje?
Os olhos das crianças se voltaram para a menina mais nova do grupo.
Ela sorriu triunfante por ter sido escolhida. Dando um passo à frente ela olhou para a anciã de queixo erguido.
— Quero ouvir a história de Îasy e Paranã! (Lua e Mar) — Ótima escolha. Agora sentem-se.
Todas elas se sentaram no chão de terra, com suas pernas cruzadas e olhos atentos na anciã.
— Há muitos anos atrás, no início do mundo...
"Îasy vivia sua existência tranquila e monótona nos céus. A única companhia que tinha eram as pequenas e brilhantes estrelas.
Mas nem mesmo elas conseguiam aliviar aquela sensação de que alguma coisa lhe faltava.
Um dia, enquanto brilhava alto no céu, iluminando a terra com sua luz, ela se deparou com um jovem casal que se declarava um para o outro.
Naquele momento ela compreendeu que era aquilo que lhe faltava. Amor.
Disposta a conhecer mais desse lindo sentimento, na noite seguinte, quando tomou seu posto no céu, ela brilhou mais intensamente, lançando suas luzes sobre a terra. Ela procurava por amor.
Paranã, que vivia uma existência solitária e triste nos mares da terra, sentiu em si o brilho intenso de Îasy naquela noite. E pela lua foi se apaixonar.
Mas o amor para os dois era quase impossível. Um estava eternamente fixo na terra e o outro no céu.
Paranã tentou de todas as formas demonstrar seu amor por Îasy, torcendo para que ela o ouvisse e o correspondesse.
Afinal, se um coração diz que sim a paixão. Como pode o outro dizer não?
Îasy, reconhecendo os esforços de Paranã, começou então a nutrir sentimentos pelo mar.
Todas as noites ela lhe lançava fortes luzes, na esperança que seu amor por ele pudesse alcançá-lo.
Paranã estava fascinado pela beleza de Îasy. Todas as noites quando ela brilhava no céu, ele absorvia sua luz e a refletia em sua superfície para que todos pudessem ver a beleza e a grandeza dela.
Mas os deuses não aprovaram esse amor. Jamais poderiam aceitar a união do céu e da terra.
Paranã revoltado com a decisão dos deuses, provocou muitos desastres na terra.
Daí vieram os maremotos, tsunamis e todos os desastres marítimos.
Percebendo que essa revolta de Paranã traria grandes consequências para a humanidade, os deuses ofereceram uma solução.
Embora eles jamais pudessem se tocar, eles permitiram que Îasy se aproximasse de Paranã o bastante para que eles pudessem ouvir e se ver melhor.
Com essa decisão, os dois apaixonados puderam enfim se declarar um ao outro, como o casal que Îasy tinha visto.
— Luz que banha a noite e faz o sol adormecer, mostra quanto eu amo você.- Îasy se declarava a Paranã com grande amor.
— Se cada um faz a sua história, a nossa pode ser feliz também.- prometia Paranã.
E assim, de 3 a 4 noites por ano, Îasy se aproxima da terra lançando sua luz sobre Paranã para lhe mostrar o quanto ela o ama.
Enquanto Paranã reflete a imagem de Îasy todas as noites em sua superfície para poder
contemplá-la e admirá-la."
— Esse fenômeno é chamado hoje pelos homens de Superlua.- concluiu a anciã.
— Amana. Amana.- uma criança levantou a mão.
— Sim pequeno?
— Mas essa é uma história triste ou feliz?
A velha anciã lhe sorriu.
— Ah, isso depende do que o seu coração lhe diz pequeno. Cada um vê a história de uma maneira diferente. Mas a história de Îasy e Paranã nos deixa uma linda lição.
— E qual é?- outra criança pergunta.
— Se a lua consegue tocar o mar então ela também pode nos tocar. E ela nos diz que o amor nunca acaba.
As crianças fizeram várias perguntas. Mas não durou muito. Assim que os homens chegaram com a caça do dia, todas se levantaram animadas e correram.
— Elas nunca param.- uma mulher disse olhando as crianças.
— Crianças são assim mesmo. O interesse delas sempre mudam. Elas não são estáticas e isso é bom. É uma boa época para ser enérgico.
A mulher sorriu para ela e lhe deu uma porção de beiju.
Amana agradeceu a mulher, se levantou de seu lugar e saiu para caminhar.
Foi dar-se em um pequeno trecho do rio Acuípe onde se sentou à margem, em uma pequena pedra, para comer sua porção de beiju.
Olhando para o céu, ela não pôde deixar de pensar naquela história de Îasy e
Paranã. Mas o que tinha dito àquele curumim era verdade.
Se a lenda dessa paixão, faz sorrir ou faz chorar, o coração é quem sabe.
a lenda - sandy & júnior
NuvemRosa
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•𝐂𝐨𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐋𝐮𝐳 𝐞 𝐒𝐨𝐦•
Short Story𝐀 𝐋𝐞𝐧𝐝𝐚 - 𝐍𝐮𝐯𝐞𝐦𝐑𝐨𝐬𝐚 𝐍𝐨𝐬 𝐂𝐨𝐧𝐟𝐢𝐧𝐬 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐬𝐦𝐨𝐬 - 𝐀𝐩𝐞𝐧𝐚𝐬𝐎𝐮𝐭𝐫𝐨𝐀𝐧𝐨𝐧𝐢𝐦𝐨 𝐀 𝐔𝐥𝐭𝐢𝐦𝐚 𝐆𝐫𝐚𝐧𝐝𝐞 𝐃𝐢𝐧𝐚𝐬𝐭𝐢𝐚 𝐀𝐦𝐞𝐫𝐢𝐜𝐚𝐧𝐚 - 𝐑𝐚𝐲𝐃𝐞𝐥𝐯𝐞𝐚𝐮𝐱