1. Oi

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Flávia Santana

Chequei o aplicativo de mapas novamente em meu celular e encarei a mansão à minha frente. Era uma casa imponente, de arquitetura clássica... e não tinha nada a ver com a nossa banda. Mandei mensagem para Murilo para me certificar de que estava no lugar certo e, quando ele confirmou, tive vontade de sair correndo.

Quando recebemos a proposta para tocar no lançamento de uma marca de roupas inclusiva, por um cachê consideravelmente maior do que o que costumávamos receber, foi impossível dizer não. A QMVM era uma banda iniciante, composta por mim, Murilo e Vanda. Nos conhecemos na Pulp Fiction, onde trabalho como dançarina de pole dance e eles me convidaram para integrar a banda como vocalista.

Esse era nosso primeiro trabalho longe da boate, e era justamente na casa de alguma família ricaça do Leblon. Respirei fundo e toquei a campainha, sendo recebida por uma moça sorridente que se apresentou como Nilce.

— Ah! Você deve ser da banda, né? Pode entrar! Seus amigos já estão arrumando os instrumentos na área da piscina! — Nilce me acompanhou até a área de trás da casa estupidamente grande, onde encontrei Murilo e Vanda terminando de montar os instrumentos.

Quando a empregada desapareceu pela porta de trás da casa, me virei para Murilo.

— De quem é essa casa, Murilo? Do Bill Gates? Como essa gente ficou sabendo da gente? — Questiono depois de colocar minha mochila atrás do palco — Achei que era um lançamento de roupa?

— Olha, eu não conheço o dono da casa, só sei que é rico... E a coleção de roupas é assinada pela filha dele, que conheceu nossa banda pelas redes sociais!

— É a Luciana Ribeiro, Flávia! — Vandinha esclarece jogando um olhar impaciente para Murilo — Apenas a única influencer que seguimos!

Levo um momento para assimilar as palavras de minha amiga; aquela era a casa de Luciana Ribeiro?! Herdeira do magnata Marcos Ribeiro e top model?! Eu vinha acompanhando a carreira de Luciana desde que ela lançou seu canal no Youtube, retratando seus desafios e sua superação desde o acidente que a deixou tetraplégica na Jordânia. A mulher era simplesmente a minha inspiração diária!

– Murilo! Como você deixou passar o detalhe essencial de que a marca de roupas é a Papillon?! – Dou um tapa no ombro de nosso guitarrista – Se eu soubesse, teria me vestido melhor!

– O quê? Acha que a sua ídola não vai gostar da peruca da Pink? – Ele brinca e eu reviro os olhos numa tentativa de disfarçar o fato de que ele está completamente certo.

Sou fã da Luciana desde que eu tinha meros treze anos, e a ideia de que ela conhecerá a Pink me deixa com um frio enorme na barriga. Ainda tenho que lidar com o fato de que, desde os treze anos, também cultivo uma queda gigantesca (que está mais pra um penhasco) pelo marido dela, o Doutor Miguel Guimarães.

Eu sei, eu sei, eu sei... Não deves cobiçar o homem da próxima e tudo mais, mas será que alguém pode realmente me culpar? O Miguel é o homem mais amoroso, simpático e lindo que já respirou, e o jeito com que ele cuida da Lu... Enfim, homens, tomem nota!

A minha linha de pensamento me faz bufar de desgosto ao lembrar de meu próprio namorado, Marcelo Pereira, que em nada se assemelha ao príncipe que Miguel é com Luciana, mas que dá pro gasto.

Meu Deus, eu sou uma pessoa horrível.

– Oi! – Uma voz conhecida surge no jardim e meu coração dá pulinhos dentro do peito – Vejo que já deixaram tudo organizado pro evento! Que bom!

Luciana é ainda mais bonita ao vivo, com seu bocão de Angelina Jolie e seus olhos cor de mel, que conseguem ser ofuscados pela luz que ela emite. Realmente combina com o marido. Ela se aproxima de onde estamos usando sua cadeira de rodas automatizada e sorri para nós.

Amor por Metro Quadrado - Jorge e Flávia (shortfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora