Capítulo 6

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Ainda de olhos fechados percebi uma certa claridade vinda de algum lugar e que preenchia parcialmente o local em que me encontrava, até então desconhecido por mim.

Descolei levemente minhas pálpebras e dei uma checada básica ali no recinto. O mais estranho era que a cortina roxa estava ali como sempre esteve, o guarda roupa branco com uma fresta em sua porta de correr, os livros todos em seus devidos lugares e a janela acanhada de forma a deixar toda a claridade de um dia ensolarado entrar em forma de raios retilíneos, atravessando toda a janela do pequeno quarto, que por incrível que pareça, é o meu quarto na casa do Christopher.

Fiz um movimento brusco, esquecendo-me até da minha ressaca e me sentei na beirada da cama, tendo uma leve onda de náuseas.

O que posso dizer de estar bêbada? É uma merda, além de estar com muita ânsia e dor de cabeça, não me lembro do que fiz ontem à noite, exceto até o momento em que desci da pista de dança...

Olhei mais uma vez atentamente e percebi que havia um conjunto de diferentes coisas sobre minha pequena cômoda bege, um cartão dobrado em quatro partes iguais, um comprimido branco e um copo cheio até a metade com água.

Tateei os objetos que estavam em cima da cômoda, alcancei o papel e li o que nele estava escrito:

"Você deveria agradecer a mim e a Jackson, como foi capaz de beber tanto ao ponto de cair? Sendo irresponsável mais uma vez não é mesmo Sandy? Agradeça ao seu amigo que viajouhoras para te encontrar jogada em um chão qualquer de uma casa noturna, te trouxe até aqui e ainda comprou remédio para a sua ressaca. Fomos à padaria comprar algo para você comer."

Assinado: Christopher.

Ótimo, além de estar com uma puta de uma ressaca, ainda vou ter que aguentar Christopher me enchendo o saco, pelo menos tem uma parte boa disso tudo, meu melhor amigo finalmente veio para cá, claro que não pelas circunstâncias que deveria estar usando, mas acho que isso já vale de alguma coisa.

Joguei o pedaço de papel no chão, peguei o comprimido, coloquei-o na boca e engoli junto ao pouco de água que havia acabado de colocar na mesma. Levantei-me novamente com mais cuidado para evitar uma possível tontura, fui até o banheiro, despi-me enquanto escovava os meus dentes e deixava que a ducha esquentasse um pouco mais.

Acabei o que estava fazendo, fitei o meu reflexo no espelho e deixei a toalha que estava envolta em toda a extensão do meu corpo escorregasse e caísse indo de encontro ao chão. Entrei dentro do boxe e fiquei parada sob a água, esperando que ao escorrer a mesma levasse todas as minhas impurezas para longe.

Tudo está girando, tomara que eu consiga no mínimo terminar o meu banho. Estou acabando de me ensaboar, mas novamente a droga do vômito sobe pelo meu corpo e eu não consigo evitar e muito menos chegar até a bacia, tudo que consigo fazer, é segurar meus cabelos de forma desajeitada, e claro deixar o vômito sair pela minha garganta.

Limpo tudo, me seco ainda dentro do boxe e saio cambaleando com fortes pontadas na cabeça.

- Oh droga! - Murmuro alto para mim mesma.

- Que coisa feia em Sandy?! - Ouço a voz do meu melhor amigo e paro de encarar meus próprios pés para encarar Jackson que está em frente a minha mesa de cabeceira segurando um porta-retratos. Coço meus olhos, abaixo os mesmos e fito Jack novamente, tendo a certeza e vaga noção de que meu melhor amigo está parado mesmo ali à minha frente, encarando-me com as sobrancelhas arqueadas e o peso do corpo sendo apoiado todo em uma única perna.

- Jack? - Sussurro.

- Eu mesmo, em carne e osso.

- Ou meu Deus, Jack! - Exclamo esquecendo a minha breve dor de cabeça e pulando em seu colo, sendo embalada como um bebê em seus braços tão familiares. - Jackson, senti tanto a sua falta. - Admiti. Jackson tinha esse poder em mim, fazia com que eu conseguisse ser eu mesma. Talvez seja pelo fato de que ele sempre esteve ao meu lado me apoiando quando ninguém mais esteve. Para quem olhe, é estranho um homem lindo como meu melhor amigo andar comigo, mas a verdade é que Jackson nunca se importou com isso, e essa é uma das coisas que mais me impressiona nele, ainda hoje depois de anos.

- Também senti a sua meu anjo. Já tomou o remédio que deixei aqui para sua dor de cabeça? - Neguei com a cabeça. - Sempre a mesma, em? Vem aqui minha maluquinha. - Chamou, pegando-me em seus braços e me levando em direção à cama, sem mesmo se importar com meus trajes.

- E você Jack, o que fazia com aquele maluco do Christopher, achei que você o assassinaria não que iria acompanha-lo até a padaria, sua bicha louca. - Acusei.

- A qual é meu docinho de coco, até que entendi o cara, ele só estava querendo te proteger... - Cortei-o.

- Não acredito que irá dar razão para aquele babaca, Jack.

- Ok, ok. Mas, você sabe muito bem que só quero o seu bem... E ele também.

Resolvi mudar de assunto, não quero brigar com meu melhor amigo, quero colocar o papo em dia se é que me entende.

- Jack, como está Lydia? Aliás, como vocês estão? - Vi uma névoa de tristeza beirar o olhar do meu melhor amigo, mas então ele escondeu o mesmo e se recuperou, por isso pensei ter sonhado, eram extremamente raros esses momentos do meu melhor amigo.

- Nós terminamos San. - Disse por fim.

- Quê? Por quê? - Indaguei sem entender, segurando a sua mão e puxando-o até a cama. Vi ele pegar o copo de água, entregar-me o mesmo e o remédio, suspirar e começar a desabafar.

- Você sabe, nós já não... - Fez uma pausa. - Dormíamos juntos há um bom tempo, e de uns tempos para cá, comecei a desconfiar dela, ela estava muito afastada, recebia diversas ligações, ficava horas no celular e me dava menos atenção do que antes, quando ainda estava na faculdade. A questão é que um mês atrás, a peguei com outro na cama que seria nossa. - Minha boca literalmente secou e meu queixo caiu. Sim eu sei que sou insensível, mas só até certo ponto, caramba tenho sentimentos e um coração, e sei o quanto meu amigo é um romântico incurável, ele realmente amava aquela vagabunda. Planejava até se casar e ter filhos.

Passei as costas da minha mão em seu rosto e o abracei do meu jeito meio desastrado, mas o abracei. Sei muito bem pelo que ele está passando e o que está sentindo, essa dor é horrível, porém tenho que deixar claro que sempre estarei aqui, nos momentos felizes e tristes da nossa vida.

Sinto suas lágrimas na curva do meu pescoço e ele me abraça ainda mais forte do que antes. Sinto sua mão esquerda apertar ainda mais a minha cintura, a direita ir para a minha nuca e nossos lábios se colarem em uma sintonia perfeita. Sei que é errado, mas me pareceu... Certo, e sei que nesse momento ele precisa disso, por isso correspondo o beijo e sinto suaslágrimas salgadas se misturarem ao nosso toque tão íntimo. De repente ouço a batida na porta, porém nem me importo, apenas aperto seu braço tentando confortá-lo. A porta se abre e escuto a voz que menos queria ouvir no momento:

- Estou atrapalhando algo?

Um novo recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora