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-TENTE novamente.- Sebastian ordenou.
Iris levantou suas mãos mais uma vez na frente do corpo, e tentou focar na água, imaginar ela se movendo de alguma forma, mas nada aconteceu.
Merda.
Ela sentiu vontade de gritar e colocar a frustração para fora.
O som de passos se aproximando fez com que desviasse o olhar do lago, e ela viu Lissa e Gabriel se aproximando deles.
-O que eles estão fazendo aqui?- Perguntou á Sebastian. Iris virou-se para ele abaixando os braços e sentindo suas bochechas voltarem a corar, agora de vergonha por ter seus companheiros de equipe ali enquanto fracassava.
- O treinamento será aqui hoje.- O Mestre virou-se para receber os outros dois.
- Iris- Gabriel começou se aproximando. Ele parou a alguns passos de distância e cruzou os braços na frente do corpo. A garota revirou os olhos. - Estamos no seu possível habitat natural?
- Óbvio que não. Afinal, um esquisito que nem você não seria bem vindo.
Ao dizer aquilo, se deu conta de que Gabriel não estava usando aquele seu colã ridículo dos dias anteriores. Desta vez vestia uma camisa de algodão branca e calça preta de tecido fino.
Teria ele percebido o quão patético era aquela roupa?
- Não perca o foco, Iris.- Sebastian os cortou em suas farpas que já viravam costumeiras.
O olhar dela alternou entre seu Mestre e o lago atrás deles.
-Eu...Eu...- "Eu não estou conseguindo fazer isso", queria dizer, mas seu orgulho era maior e sabia que não conseguiria falar isso na frente de Gabriel e Lissa.
Eles eram tão bons.
Não era surpresa nenhuma que ela era horrível e fraca, mas dizer isso em voz alta, na frente deles, seria o fim. Iris queria ter o respeito deles, mesmo negando que não, que não deveria se importar com o que eles pensavam.
Mas ela os admirava, e queria que esse sentimento fosse recíproco. Mesmo trocando farpas com Gabriel, e o achando arrogante e mimado, reconhecia que ele era ótimo em ser um Dominator.
- Você continua treinando aqui, enquanto acompanho os outros.- Sebastian disse a ela.
- Isso não está dando certo.- Sua voz saiu entre dentes e subiu algumas oitavas a mais.
Iris queria gritar com ele.
O olhar gélido de Sebastian a calou, a fazendo engolir em seco.
A garota observou os três se distanciarem, a deixando só perto daquele lago que começava a irritar.
Ela fechou seus olhos e tentou, de novo, esvaziar a mente, focar-se na água, na sua temperatura, densidade e cor.
Entretanto, sabia que, mesmo de longe, os olhos de Sebastian estavam sobre ela, assim como os de Lissa e o do príncipe.
Ela estava muito consciente disso.
Iris tentou expulsar aqueles pensamentos da cabeça, concentrando-se em movimentar a água.
Abriu os olhos determinada e posicionou suas mãos na frente do corpo.
Vamos lá. Vamos lá.
Sua cabeça voltou a doer e depois de algum tempo sentiu sua visão escurecer.
Iris estava exausta.
A garota olhou para seus companheiros de equipe, e os viu se aquecerem e depois começarem a praticar os golpes que Sebastian havia ensinado no dia anterior. Eles haviam treinado em casa, era óbvio, pois seus movimentos chegavam quase a perfeição.
Ela sentiu-se encolher por dentro.
Enquanto eles treinavam duro todo o resto do dia de treinamento, ela havia capotado e só acordado de manhã. Em nenhum momento havia se quer passado em sua cabeça treinar depois do "expediente".
Eu preciso me dedicar mais., pensou chateada com aquilo.
Iris ficou no seu canto, tentando fazer aquela maldita água se movimentar, nem que fosse só um pouquinho, mas nada adiantava. Com o passar das horas, percebeu que na verdade só estava matando tempo, pois sua cabeça latejava tamanho o esforço mental que fazia e ela se quer conseguia manter o mínimo de foco necessário.
Quando Sebastian os liberou, agradeceu aos céus e voltou para a Casa Aurora se rastejando, forçando-se a colocar um pé atrás do outro. Desta vez seu cansaço não era físico, e sim mental, o que era mil vezes pior. Ela queria se dedicar mais, treinar mais, para, quem sabe, ser metade do que Lissa e Gabriel eram, mas estava acabada.
Sebastian tinha razão quando lhe cobrava mais resistência.
Ao passar pelas portas de entrada do prédio, Iris deu de cara com a Sra. Duncan, que a esperava de braços cruzados e batendo o pé.
- Boa tarde, Sra. Duncan.- A garota falou cautelosamente, sabendo que pela cara da velhota, não vinha coisa boa.
- Boa tarde, Sra. Duncan? BOA TARDE?- Vociferou.- Menina, você tem idéia de como fiquei preocupada com você ontem e hoje?- Ela começou seu sermão, e Iris foi pega de surpresa.
Definitivamente não esperava aquilo.
Já estava até começando a refazer seus passos, procurando algo que havia feito que a velhota poderia não ter gostado. Com certeza não tinha imaginado que sua cara emburrada era porque estava preocupada com ela.
- Te chamei inúmeras vezes ontem no seu quarto, mas você não respondia. E hoje saiu tão cedo que nem pude ver se estava inteira.-Continuou a falar, e a única coisa que Iris conseguiu fazer foi soltar um sorriso bobo para ela. - O que você está achando engraçado?- Apontou a bengala para Iris, semi cerrando os olhos ameaçadoramente.
-Nada, nada.- A garota logo tratou em dizer, dando alguns passos para trás discretamente antes que recebesse algumas bengaladas. Entretanto, o sorriso não saiu dos seus lábios. - Eu só não esperava que você se importasse tanto assim comigo.
-Ora, criança.- Ela falou aliviando um pouco seu tom de voz e seu olhar. A Sra. Duncan abaixou a bengala, fazendo com que Iris voltasse a respirar normalmente.- É claro que me importo. Me importo com todos os meus meninos e meninas. Vocês são como filhos para mim.
A velhota fez uma pausa para a analisar, olhando-a com aqueles olhos castanhos que agora transmitiam ternura e compaixão. Por um momento Iris sentiu-se uma criancinha ouvindo o sermão de sua avó.
- Iris, sei que ser abandonada é difícil e doloroso, ainda mais na sua idade.- Suas palavras tocaram em uma ferida no coração de Iris que ainda sangrava.- Mas você não pode deixar de se cuidar, de se alimentar. Para se ter um bom empenho em seu treinamento, você não pode estar desmaiando de fome. Suba para seu quarto, tome um banho e desça para almoçar.
-Tudo bem, Sra. Duncan.- Ela achou sua voz no fundo da garganta, e se viu segurando as lágrimas que umideceram seus olhos. -Obrigada.
-Imagina, menina. Agora vá.
Iris obedeceu suas ordens e passou por ela com a cabeça baixa, indo em direção as escadas. Subiu os lances até seu andar com dificuldade. Além do cansaço físico e mental, as lágrimas grossas que escorriam por suas bochechas e embaçavam sua visão dificultavam todo o processo.
As palavras da Sra. Duncan haviam tocado em em assunto no qual ela vinha tentando não pensar, esquecer. Iris sabia que estava sendo tola. Nunca poderia esquecer sua mãe ou o que havia acontecido entre elas.
Ela sentia falta dela. Muita.
Sentia falta de seu apoio, de suas palavras reconfortantes e de seu gênio forte, que até lembrava o da Sra. Duncan. Iris estava com saudades dela, de saber se estava bem, de ter um colo para deitar sua cabeça e contar como estava sendo horrível no seu treinamento.
Ela entrou debaixo do chuveiro, e somente quando sentiu as lágrimas cessarem e seus músculos relaxarem, desligou, vestindo uma roupa confortável.
Estava terminando de se arrumar quando ouviu alguém batendo na porta.
Era Miles.
***
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Lost Mirror
RomanceIris Agnes Parker viu sua vida virar de cabeça para baixo em minutos... Ela perdeu tudo o que conhecia: sua amada mãe, a casa em que morava, a única e melhor amiga de infância... Arriscava dizer que havia perdido até a si mesma. Seus ideais, valore...