Capítulo Um.

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Era manhã de sexta-feira quando Ramona acordou. A luz batia de forma bem fraca na janela do seu quarto, sendo coberta pelas cortinas. Tinha um quarto só para ela, visto que era a primeira vez na vida que ela tinha o seu próprio quarto. Ela havia crescido em New York, ou melhor, no Queens com a sua mãe. A mãe de Ramona era costureira e trabalhava em média doze horas por dia para sustentar o pequeno apartamento em que viviam até Ramona ser aceita como bolsista em uma das mais renomadas escolas de artes de New York, A Juilliard.


"Os melhores estavam na Juilliard", era o que ela sempre escutava desde que se lembra. Ramona teve sorte é claro, de crescer em New York e com o trabalho que a sua mãe tinha. Carmen era costureira e trabalhava como ajudante de figurino em diversas produções da Broadway. Não pagava tão bem, mas pagava o suficiente para ter uma vida digna e sustentar a própria filha. Por conta disso, Ramona viveu em meio as coxias das peças teatrais da Broadway e desde pequena, soube o que queria ser. Ela queria estar ali, no palco. Queria ser uma das garotas da Broadway, ser uma das bailarinas que se apresentavam nos musicais que ela sabia de có desde os sete anos de idade.


Quando completou oito anos, ela insistiu o máximo que pôde para sua mãe lhe matricular nas aulas de ballet, o que estava muito além do seu orçamento. Carmen era imigrante porto-riquenha, havia entrado ilegalmente no país e demorou dez anos para conseguir o seu visto de cidadã americana. Não ganhava bem e não sobrava dinheiro para pagar aulas de ballet para Ramona. Mas então surgiu ela, sua fada madrinha com saltos de quinze centímetros, cílios postiços enormes e muita, mas muita maquiagem e brilho: Lola LaBelle, uma drag queen que era não apenas a melhor amiga de sua mãe, como também o seu padrinho quando estava desmontada, atendia pelo nome de Tony Renolds, diretor criativo do George Gershwin Theatre, um dos teatros mais conhecidos da Broadway com seus espetáculos fascinantes.


Durante mais de dez anos, Ramona fez todas as aulas possíveis para conseguir aquela vaga na Juilliard. Canto de manhã, escola na parte da tarde e ballet oito horas por dia, cinco dias por semana. Aquela foi a sua rotina até terminar o colegial e ter feito a sua apresentação na Juilliard para ser aceita. É claro que Tony mexeu os seus pauzinhos, mas isso não tirava o seu mérito. Ela era uma bailarina dedicada e uma cantora com uma voz poderosa por trás dos grandes olhos cor de esmeraldas, herança de um pai que ela nunca teve contato.


No momento em que foi aceita, ela soube que estava no caminho certo da sua vida e que tudo o que tinha feito e batalhado até ali, o suor, os dedos doloridos, as noites em claro e todas as dificuldades iriam valer a pena a partir daquele momento.


Ramona mal sabia o quanto a sua vida iria mudar.



Os olhos verdes eram abertos e visualizavam a luz fraca que entrava pelas cortinas. No relógio ao lado da cama, mostrava sete horas e trinta minutos no painel digital. Aquele era o seu segundo ano na Juilliard e ela estava prestes a fazer vinte anos. Esticando-se de forma preguiçosa, Mona levantava da cama de solteiro e observava o seu quarto. Não era grande, continua um guarda-roupa de solteira, uma cama, um grande espelho, poltrona velha que achou na rua em seu primeiro ano e uma escrivaninha com uma cadeira e um notebook velho que muitas vezes, salvava a sua vida. Descalça, ela se arrastava pelo quarto e ia até a janela, puxando as cortinas e deixando o sol entrar, clareando o local. Ao passar pelo espelho, Ramona via o próprio reflexo ali como em todos os dias. Era uma garota magra, tinha seios pequenos e delicados, porém com um bumbum grande e coxas mais grossas graças ao ballet e a genética de sua mãe. Sua pele tinha um tom de oliva, bem latina e os cabelos eram pretos e iam até a altura da sua cintura. Não era alta, porém ficava elegante num salto alto e sabia disso. Possuía lábios carnudos e olhos de um verde chamativo, que sempre atraía os olhares alheios com sobrancelhas grossas e bem desenhadas.

Um espetáculo de CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora