Capítulo 1

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Parei em frente ao chafariz no centro do jardim. Ao meu redor, as plantas se erguiam cuidadosamente. Fitei o céu que clareava com a luz da manhã. Ainda que fosse claro, as estrelas estavam lá, brilhando em seu trabalho rotineiro. Suspirei ao som da água batendo contra o cimento.

Minha visão embaçou e por alguns momentos, senti como se eu fosse pressionada contra o chão. Meus olhos se abriram devagar e notei que ao meu redor, vários pontos de luz vagavam por entre as plantas. Meu coração batia rápido enquanto sentia a brisa emanada por eles.

Figuras fantasmagóricas das mais diversas se espalhavam ali, caminhando com roupas escuras e carregando flores brancas e vermelhas. Meus olhos encontraram os de alguém próximo, uma mulher de cabelos louros e pele pálida que me olhava com pena. A sua aura era calma e saudosa, me puxando como um imã. Fui até ela, mesmo que vários fantasmas me atravessassem e se desculpassem logo em seguida. Chegando perto da mulher, pude perceber que sua idade já era avançada. Seu vestido preto era brilhoso em meio a sua luz, dando uma silhueta jovem a sua face marcada de rugas.

Ela sorria de modo maternal, mesmo que houvesse amargura em seu olhar. Parei ao seu lado, e e me indicou a casa a nossa frente. Encantada, decidi segui-la. O casarão era enorme, de cor bege. Uma mansão luxuosa com detalhes medievais. A porta da frente se seguia acima de uma escadaria de mármore. Os fantasmas subiam, alguns sozinhos, outros em grupos. Todos estavam em idades diferentes, de tal modo que isso não os incomodava. Nem a mim.

Passamos pela porta e um grande salão, cortado por escadas, se seguia por todo o andar. Os seres de luz se espalharam pelo centro, desviando com facilidade dos moveis. O ambiente ficou cada vez mais claro conforme entravam mais gente. Foi quando percebi que estava sendo puxada para o centro do circulo recém formado. Mesmo que tentasse segurar o ar, não adiantava. As faces melancólicas se contorciam em raiva. Cai no chão, de joelhos enquanto sentia mãos me agarrando. Tentei me soltar, jogando meu corpo para a direita, mas algo puxou meu pescoço, me forçando a olhar para a frente.

As lágrimas já escorriam enquanto tentava me soltar. Meu pescoço foi apertado, me deixando sem ar. Senti meus pés saírem do chão. Queria gritar, mas não conseguia. Meus braços foram puxados e enquanto tentava recuperar o ar, vi a mesma mulher, aquela pela qual eu me encantei. Eu a vi, chorando, relutante se devia ou não ver aquilo. Ela se virou e saiu, correndo pela porta. Senti a necessidade de gritas, com a voz embargada e as lagrimas correndo.

Decidi parar de lutar quando a tontura veio. Ouvia gritos, choros e risadas agudas que penetravam minha alma como facas. Senti meu corpo despencar, o ar se tornando um só. Tudo ficou escuro enquanto tudo girava. Estava em queda livre, tentando agarrar o vácuo. Me sentia observada por olhos invisíveis, que me prendiam em correntes.

Senti meu corpo inverter antes de dar um pulo. Ao meu lado, minha melhor amiga Cristina, se assustou e deu um pequeno grito, chamando a atenção do professor. Estava ofegante, tentando me lembrar do que era ou não real. Quem eram aquelas pessoas e por que estavam tentando me matar? É tão ilógico que nem mesmo matemática faz sentido agora -- Mesmo nunca fazendo. --.

Cris me olhava preocupada. Sentávamos em dupla na aula de química e pelo visto, eu havia dormido.

O que foi? Você do nada pulou! Alguma ideia?

— Hum... Me levantei da mochila que me apoiava. — A... não, eu só...

Nesse momento, o sinal tocou, me forçando a parar de falar. Não vou dizer que não gostei, minha mente está uma bagunça na certa. Recolhi minhas coisas e nem sequer me despedi dela, meu professor de história Que infelizmente era separado dela. não tolera atrasos.

Os corredores do segundo andar são tão vazios, que são medo. Quase ninguém permanecia ali aquelas horas da noite, num andar vazio, onde os boatos sugerem assombrações e maldições intermináveis. Passei por alguns armários sem desviar do meu foco, não estava a fim de mais nenhuma aparição sinistra.

A porta de madeira com um vidro trincado me trouxe de volta a realidade. Lá dentro não havia quase ninguém, se não duas meninas de nome Traicy e Lilyan, o professor Vlad e dois garotos, Fred, namorado da minha melhor amiga e um garoto do time de basquete.

Me sentei um pouco distante de todos, no fundo da sala onde a parede era fria e a luz piscava a cada segundo. Quando a aula começou, era por volta das 20h30min.

Boa noite alunos. Bom... Como sabem, temos alguns alunos do clube de filosofia que estão aqui hoje. Por favor, levantem a mão. a algumas carteiras a minha frente, uma garota de cabelos castanhos claros e óculos circulares ergueu a mão. Bem como as gêmeas Nox e Nix (Para ser mais fácil) e Fred. — ótimo, ótimo. É bom te-los aqui!

Comecei a me sentir tonta, a ponto de ver tudo girando. A voz do professor foi ficando mais distante enquanto a luz piscava desesperadamente acima de mim. Escutei um murmurio atrás de mim, da parede, onde ficava o antigo laboratório abandonado. Uma voz arrastada, seguido de passos em água. "Você não merece a vida que tem Ada West!" 

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⏰ Last updated: Aug 22, 2022 ⏰

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O reino invisívelWhere stories live. Discover now