Capítulo 1

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Muitos acham que aparecemos do nada. Que os vampiros que todos conhecem, ou até pensam que não existem, vieram do Conde Drácula e etc. Mal sabem que o mal nos ronda.

Meus irmãos e eu éramos apenas garotos quando as guerras por clãs começaram. Roma não era mais a mesma. Todo prestígio havia se apagado como quem joga água fria numa fogueira. Os poucos que ficaram, aqueles que tentavam reerguer o Império estavam morre do por nada e por ninguém.

O catolicismo estava em alta e meu irmão Marcus decidiu que seria monge. Caius e eu rimos dele, mas, como sempre, Marcus não ligou para o que pensávamos. Entrou para um monastério agostiniano e parecia estar feliz nas poucas visitas que fez. E todas elas apenas por questões de morte. Primeiro nossa mãe, depois nosso pai e por último nossos irmãos pequenos.

Caius era um típico libertino. Vivia nos bordéis, por vezes o encontrei bêbado e cheirando a vadias baratas em qualquer esquina. Marcus, depois que nossos irmãos se foram, não apareceu mais. Caius estava se afundando e eu aos 24 anos estava procurando uma esposa. Sim, porque na minha idade, naquela época eu já era um velho. Estávamos em um tempo que se um homem chegava aos 40 anos era considerado um verdadeiro milagre!

Quando encontrei a moça certa fiquei logo noivo. Como qualquer família romana que ainda morava na cidade principal, éramos dois falidos tentando unir o que tínhamos para não sucumbir.

Samira e eu nos casamos. Ela era descendente de Árabes. Naquela época nosso casamento não foi bem visto. Mas, acabamos levando nossas vidas como deu. Ela engravidou. Tivemos um menino o Enzo. Porém, apenas quatro semanas depois minha mulher e meu filho morreram num dos tantos ataques que aconteciam por causa de território. Eu sobrevivi porque estava em batalha. Passei meses sem me conformar. Não posso dizer que eu amava Samira verdadeiramente, mas, posso afirmar que tinha algum sentimento por ela. Mas, meu filho eu amava de forma incondicional.

Caius apareceu ferido gravemente na minha porta. Dois meses depois ele estava recuperado, mas, fugia de alguns homens. Motivo? Meu irmão foi pra cama com a filha de um grande negociante de pedras preciosas e estava se negando a casar.

Marcus apareceu doente. A peste estava começando a fazer suas vítimas e meu irmão era uma delas.

Era uma noite gelada de Dezembro. Eu tentava, inutilmente, manter a lareira acesa. Marcus gemia em dores por causa da febre, Caius estava caído de tão bêbado e eu não sabia mais o que fazer. Da grande e prestigiada família Volturi havia sobrado apenas nós três. Eu um guerreiro que não queria mais ir para as batalhas, Marcus um homem que está a beira da morte e Caius um maldito que pensa apenas em mulheres e bananais enquanto ruimos.

Rosnei e sai de casa. Estava nevando e frio demais, porém, eu ignorei. Eu nunca fui um homem de chorar, mas, estava arrancando de mim todas as lágrimas que podia.

Andei por horas. Estava na floresta quando a vi. Era uma bela morena. Olhos avelã e pele Branca como a neve. Ela se aproximou e sem falar nada me segurou pela mão. Entramos numa cabana e eu arfei. Haviam corpos pelo chão e um caldeirão cheio de sangue e ervas.

-Não precisa mais chorar, caro Aro... Tudo sempre acaba bem.

Ela pegou uma faca e apunhalou meu peito. Arfei alto com a dor e cai de joelhos. Ela me fez beber aquele sangue com as ervas. Tentei me debater, mas, estava perdendo sangue demais com o ferimento e consequentemente ficando fraco. A última coisa de que me recordo foram das palavras: Bem-vindo à vida eterna, Aro Volturi. Rei dos vampiros!

Acordei uma semana depois. Estava sozinho. Sentei e olhei as coisas ao meu redor. A primeira coisa que notei foi que meu coração não batia mais. A segunda foi que eu enxergava tudo com mais nitidez.

Fiquei de pé num movimento inumanamente rápido e impossível. Minha garganta queimava. Chegava a ser sufocante. Pensei em correr e num átimo estava pela floresta. Era noite, estava escuro, nenhuma pequenina iluminação. Mas, meus olhos enxergaram claramente como se ainda fosse dia. Vi algumas mulheres e homens num beco e não parei para pensar. Parecia que eu tinha ciência do que precisava fazer. Era altamente instintivo.

A primeira que eu "peguei" foi uma loira. Ela era linda, porém, naquele momento, eu pensava apenas em aplacar a sede que me dominava. Rosnei e a mordi. Ela se debatia e chorava. Até mesmo gritava. Mas, os outros ao redor nem se moviam. Não sei se de medo ou mesmo por estarem bêbados demais. Depois dela vieram os outros seis. Mesmo depois disso eu ainda sentia sede. Muita. Mas, algo em mim dizia que eu TINHA que me controlar ou as coisas ficariam problemáticas!

Ainda naquele beco vi o sol nascer. Minha pele cintilava ao sol. Era engraçado. Um macho brilhando como o mais puro diamante.

Peguei uma das tochas que iluminavam um pátio ali perto e toquei fogo nos corpos. Corri para a mata e me escondi até o anoitecer. Eu tinha que ver meus irmãos. Era certo que eu tinha que sumir, mas, mesmo que eles me tragam problemas, ainda são meus irmãos!

Cheguei em casa e os vi. Caius estava bebendo e Marcus estava pior. Entrei em casa e Caius rosnou.

-Lembrou agora da família, Aro?

-Cale-se! Você não faz mais nada da sua maldita vida a não ser beber, buscar mulheres nas ruas e nos trazer dívidas! Não tem direito de exigir nada de mim!

-Você... Está... Diferente... - Marcus sussurrou.

Ele tossiu e o cheiro de sangue se instalou no ar. Um rosnado bestial saiu de mim e no instante seguinte eu estava o mordendo. Caius gritava assustado e tentou me tirar de cima de Marcus. Virei pra ele rosnando. Não demorou nem um minuto e Marcus gritou de dor.

-ME MATE! ISSO QUEIMA! ISSO QUEIMA!

Lembrei automaticamente da mesma dor. Do mesmo fogo que me consumiu por dias. Ele seria como eu.

Virei pra Caius que havia se cortado na garrafa. Fechei meus olhos tentando me controlar. Porém, não consegui. O mordi e o soltei. Os dois gritavam e isso estava me enlouquecendo. Peguei os dois e os levei para o mesmo local em que aquela mulher me transformou.

Passaram-se apenas três dias e Marcus acordou. Diferente de mim, ele sentia a queimação na garganta, mas, conseguia se controlar. Caius era mais impulsivo. No primeiro dia ele matou quase uma vila toda ao Norte de Roma. Só parou quando Marcus e eu, a muito custo, o levamos para o mais longe que conseguíamos do cheiro dos humanos. Passamos mais de quatro meses tentando acalmar Caius. Até que ele finalmente conseguiu o mínimo de controle. Marcus ou eu trazíamos humanos para ele. Porque sabíamos que se permitíssemos que Caius fosse perto da cidade, ele denunciaria nossa existência. E foi ali que criarmos nossa primeira lei: Os vampiros devem se manter ocultos aos humanos. É perigoso que delatem nossa existência!

Um ano se passou. E mais outro... E outro...

Até que Marcus "salvou" o que hoje é Volterra dos "vampiros". Ele ficou conhecido como São Marcus de Roma. Patético!

Mas, ao menos conseguimos nossa cidade. Os humanos não sabiam da nossa existência, Marcus era apenas uma lenda. E foi ai que surgiu a lenda dos vampiros.

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