previsível

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Eles estavam no vestiário. E haviam perdido a partida.

- Que dloga, que dloga! - Cebola chiava enquanto tirava a regata do corpo suado e jogava no banquinho em frente aos armários verde escuro do ginásio do colégio do Limoeiro.

O vestiário masculino estava vazio. Todos os rapazes de ambos os times já haviam se dirigido a ala feminina para tomar banho.

Estavam com um problema na encanação dos chuveiros do balneário desde que Titi e Jeremias tiveram a brilhante ideia de jogar bola durante o banho após uma partida semanas atrás. Basicamente, quebraram toda a tubulação quando Titi petecou a bola alto demais com o pé direito e agora, ao girar de qualquer torneira, o chuveiro explodia em uma bomba de água fria.

Cebola tinha ficado pasmo com a coragem dos dois rapazes de jogar futebol sem nenhuma peça de roupa presente no corpo, debaixo da água e com sabão. No fim das contas, tiveram sorte que os canos foram as únicas coisas danificadas.

Cascão, que vinha logo por trás dele, se sentou em um dos bancos e começou a tirar suas chuteiras dos pés. Ele e Cebola ficaram para trás porque Cebola estava discutindo com o treinador sobre como o último chute que definiu o jogo não havia sido válido.

O treinador não concordou e disse para ele aceitar a derrota.

- Onde tem drogas, careca? Eu gostaria de uma da boa agora.

- Que dloga que a gente peldeu o jogo, seu bobão! - gesticulou Cebola, um tanto frustado. - E ainda por cima você ainda vem com esse chulé, Cascão.

Cascão franziu as sobrancelhas.

- Ah, não começa. Essa não é sua primeira vez em campo.

- Ainda sim, eu não gosto de perder!

- Tô falando do meu chulé. Não é a primeira vez nem a última que você vai sentir ele.

Cebola parou e ficou encarando o amigo em uma expressão raivosa.

- Por que ainda ando com você?

Cascão soltou um sorriso sacana.

- E era tão óbvio que a gente ia perder, cinco fios - disse ele, retirando sua regata também e revelando o peitoral delineado.

Cebola se perdeu por um segundo encarando às axilas de Cascão conforme sua regata subia. O suor no ombro do amigo dele descia e brilhava na superfície do peito avantajado de jogador de futebol.

- Quê? - perguntou após um segundo, voltando a se concentrar na conversa. - Por que é óbvio?

Cascão agora tirava seus shorts de tecido fino verde. Uma cueca preta e apertada que se encolhia nas suas virilhas ficando à vista.

- Porque era o Do Contra chutando versus você no gol. Claro que você ia deixar aquela bola passar no último pênalti.

- Do que você tá falando seu tlouxa? Eu deixei passar porque o DC é implevisível e nunca dá pra saber onde ele vai chutar. Dloga, por quê eu tô falando elado?

- Porque você troca o "errê" pelo "elê" quando fica nervoso - retrucou Cascão, se levantando e se aproximando do corpo de Cebola no armário. Ele olhou bem no fundo dos olhos do rapaz. - Você deixou passar porque você é previsível e sempre dá pra saber quando você deixa seus sentimentos afetarem sua performance. Você odeia o Do Contra, então claro que fica emocionado para humilhar ele no campo e para de realmente prestar atenção no que tá fazendo e fica olhando pra ele com cara de vilão de filme da Marvel e daí ele vai e chuta a bola com toda a leveza e sossego do mundo e faz o gol enquanto você se esborracha no chão todo dramático com olhos fechados jurando que pegou a bola. Daí você abre os olhos e vê que não pegou. Normal. O de sempre.

vazamento de feromônio/previsívelOnde histórias criam vida. Descubra agora