vazamento de feromônio

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Eles estavam na casa de praia do pai de Xaveco.

E algo não cheirava bem.

— Eca, o que é isso? — perguntou Cascão, inspirando o ar enquanto jogava preguiçosamente sua mochila sobre o carpete e seu corpo sobre a cama. — Que cheiro esquisito.

Primeiro, quem é você pra reclamar de cheiros esquisitos, Cascão? — Xaveco apontou para Cascão, com o nariz franzido. — Segundo, eu não sinto nada.

— Eu meio que tô sentindo também — afirmou Cebola, entrando novamente pela porta de madeira lustrosa, arrastando a mala que faltava. — Mas não é nada esquisito. É só cheiro de gás.

Cebola olhou ao redor, debruçando a mala contra uma parede.

Ele não viajava para aquele lugar há anos, mas estranhamente parecia atual, como se o pai de Xaveco viesse reformar a cada seis meses, adicionando novas mobílias e pintando de cores mais futuristas. As paredes eram cinza escuro e os eletrodomésticos eram da última geração; os móveis tinham um visual confortável e limpo; a coisa mais antiga ali no momento era o próprio Xaveco.

— Gás? — repetiu Xaveco, sugando o ar com suas narinas.

Cascão bufou.

— Ótimo. Você nos trouxe para a morte, Cebola. Não tem como esse fim de semana ficar melhor.

Xaveco começou a caminhar ao redor da casa farejando tudo. Ele foi até à cozinha, que era embutida com o quarto; todos os cômodos ali eram separados por paredes sem nenhum tipo de porta. Era basicamente como uma quitinete, só que maior. Uma quitinete tamanho família.

— Gente, eu realmente não sinto nada. Vocês acham que tá vazando gás mesmo?

— Eu não disse que estava vazando — Cebola tirou seus coturnos com os próprios pés e sentiu suas meias brancas escorregando com suor. — Só estou sentindo o cheiro.

— Vamos fazer um teste — Cascão fechou os olhos e debruçou sua cabeça sobre as palmas das mãos no colchão. — Alguém acende um fósforo.

Cebola o olhou, incrédulo. Ele realmente havia entrado na casa e deitado na primeira cama que viu?

— Okay — concordou Xaveco e então, pegou uma caixa de fósforos sobre o balcão da cozinha.

Cebola pulou em cima dele, assustado.

— NÃO!

Cascão soltou uma gargalhada breve.

— Você acha engraçado brincar com a morte? — Cebola o repreendeu, encarando o rosto sem vergonha de Cascão e guardando a caixa de fósforo no bolso da sua jaqueta.

O garoto estava jogado tortuosamente sobre a cama no chão, de costas, abraçando um travesseiro branco e afundando seu nariz ranhento no colchão. Patético. Deprimente.

— Viver é doloroso — murmurou Cascão de volta.

Xaveco finalmente parou de farejar o ar.

— Tá, eu vou ligar para o meu pai pra perguntar sobre isso.

Cebola franziu as sobrancelhas, intrigado pela burrice.

— Não é só ir até o botijão de gás e abaixar a torneirinha, Xaveco? Você precisa do seu pai pra fazer isso?

— Meu pai reformou aqui e não tem mais botijão. É gás natural.

— E como isso funciona?

— Não faço ideia, por isso vou ligar para ele — falou Xaveco de maneira afetada, puxando seu celular do bolso e abrindo a porta mais uma vez. — Não vai dar pra gente passar o fim de semana aqui se tiver o perigo de tudo explodir no momento em que alguém ligar à luz. Vou lá fora, aqui dentro nunca tem sinal.

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