Capítulo 03 - A dor da Perda e o Encontro da Liberdade

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Morte. A palavra, por si só, já carrega um peso. É a única certeza que temos na vida, a de que todos morreremos um dia. Mas é difícil se preparar para perder alguém. Algumas almas elevadas conseguem lidar bem com as perdas, mas acredito que a grande maioria das pessoas não está pronta para ver arrancado de sua vida alguém que ama. Ainda mais alguém que é parte de você....

Tão jovem, tão indefeso, tantos sonhos interrompidos. Como lidar com isso? Como prosseguir?

A gente sente uma saudade diferente. É uma saudade amarrada pela certeza de que nunca vai passar. É uma saudade que vai ser eterna. A gente apenas se acostuma a conviver com a ausência, mas não esquecemos, não deixamos de sentir falta... as memórias permanecem, o peito aperta em cada lembrança, e só o tempo mesmo para acalmar o coração...

Meu irmão, nunca mais vou poder ver aquele rosto sorrir. Nunca mais irei poder sentir seu abraço apertado como o de quem pede por proteção.

Na madrugada de Segunda para terça, enquanto meu irmão dormia no quarto do Gabriel, nosso primo da mesma idade que ele, meu irmão passou mal, teve uma crise, sua garganta inflamou e ele teve falta de ar. Minha tia foi acordada pelo Gabriel avisando que o Hugo estava estranho, roxo e pálido. Levaram ele ao hospital as pressas, más já era tarde, meu irmão se fora para sempre!

Passei a manhã do dia seguinte com minha mãe, ajudando no preparativo para o velório. Tentando ser forte, a amparando e ao mesmo tempo me amparando. Aquilo tudo tava sendo muito difícil. Cada vez que eu ficava sozinho eu desabava, chorava feito uma criança.

O velório foi pela manhã e o enterro a tarde. Resolvi não ir ao enterro. Seria muito doloroso ver meu irmão sendo enterrado. Preferi ficar em casa, olhando para um retrato grande dele que havia sido posto ao lado do caixão. Sentando sozinho em dos bancos que outrora sentou uma mãe em prantos, a minha.

Senti alguém se aproximar. Antes que eu pudesse virar para ver, alguém pôs a mão no meu ombro. Virei para ver, era ele, Felipe meu vizinho. Com semblante sereno, suavemente sentou-se ao meu lado e falou...

- Tudo bem?

Não respondi nada.... então ele continuou...

- Eu tava saindo hoje de manhã, vi uma movimentação estranha na sua casa, ai perguntei a um dos vizinhos o que havia acontecido. - Silencio.... - Eu sinto muito! - concluiu ele.

- Obrigado, pelo menos ele não vai mais sofrer! - Falei com a voz rouca.

- Eu não sou muito religioso, más, acredito que, deus, o universo, o destino ou seja lá o que, sabe o que faz. Acho que nada acontece por acaso. Tudo, no final, sempre tem uma razão para ter acontecido.

- Logo eu que vivia reclamando da minha vida. Reclamando que nada acontecia, que tava estagnada, eu devia ter agradecido por ter estagnada.... Aproveitado cada segundo ao lado dele.

- Eu acredito que as vezes a vida nos dá certos sinais para que possamos acordar e recomeçar. Alguns sinais são sutis, outros cruéis.

Ele me deu um empurrão com o ombro e encostou a testa nele.

Ele me convidou para dar uma volta. Sair um pouco daquela atmosfera fúnebre. Então fomos dar uma volta pela orla da praia. Sentamos em um banco de frente para o mar e ficamos em silencio durante quase toda a tarde.

Depois de um longo período de silencio, apenas observando a noite cair e o sol se por, ele falou...

- No que você ta pensando?

- Pensando na vida. A gente reclama tanto, e ela é tão frágil. Um dia estamos bem e no outro, sendo comido pela terra. Devíamos dar mais valor a ela. A final, só temos uma.

- E quem disse que só temos uma? - Continuou ele... - Ta vendo as ondas do mar?

- Sim.

- Vê como elas dançam? Uma arriscada sincronia em que, qualquer um que tente acompanhar pode se dar mal, ou ter a melhor sensação do mundo...

- E qual é essa melhor sensação do mundo?

- Vamos descobrir... - Completou ele estendendo a mão para que eu o acompanhasse.

Na água, nos divertimos feito crianças. Aquela sensação de liberdade que o mar te causa, somada a sensação de segurança que ele me causava. Era tudo incrível...

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