flauta ⨾ xiaoven

capítulo único

Xiao não achava que encontraria o bardo com voz de anjo novamente;  desta vez, em meio a tornados e uma chuva forte que foi capaz de molhar os dois.  Mesmo com um cenário, tempo e clima diferentes da primeira vez que se conheceram, Xiao ainda estava quebrado por dentro como antes.

Os olhos verdes do homem de tranças e o amarelo de Xiao estavam arregalados, a flauta branca, que o bardo tocava minutos antes de encontrar o adeptus, pendia quieta entre os dedos brancos da sua mão direita e o vento gelado que rodava entre os dois corpos baixos fazia o cabelo molhado de ambos balançar minimamente. O céu acima deles, todavia, estava com raiva; Shogun descontava seus raios e trovões na Terra sem nenhum remorso.

A lança de jade tremia na mão destra de Xiao, mas ele se esforçava para a manter firme, e o sangue em sua ponta pingava, caindo ao chão de terra e se misturando com a água doce da chuva forte.

Mas o que realmente Xiao se perguntava era o porquê o olhar surpreso de Venti ainda permanecia tão preso ao seu rosto, até sentir a chuva levar consigo sangue, que era o seu tóxico misturado com o de monstros.

Venti, enfim, fez menção de se aproximar, porém foi  impedido com uma mão, que entrou no caminho entre os dois corpos.

“Não se aproxime, eu posso te machucar.” A lança em sua mão tremeu mais. “E estou ferido. Não quero que cuide de mim, não quero ser um peso.”

Em um piscar de olhos, no entanto, Venti se teletransportou de onde estava para encontrar o corpo rígido e estranho de carinho de Xiao, abraçando-o por fim.

Os olhos caramelos do adeptus ainda permaneciam arregalados, enquanto escutava seu namorado gemer de dor. O abraço não foi quebrado.

“Eu não pedia para você manter distância por birra, era apenas a verdade.”

“Eu sei.” A voz doce do bardo estava rouca e em um tom baixo, quase abafado pela chuva. “Mas eu não me importo.”

Desde que se conheceram, Xiao o avisava quem era, qual foi seu passado e quais eram as consequências daqueles que permaneciam perto de si, acreditou quem quis. Ele sabia que Venti o subestimava quando escutava seus avisos, ria como se nunca fosse acontecer consigo, todavia, o karma não escolhe, ele apenas atinge. Ninguém é especial para o evitar.

Xiao, porém, aceitou o abraço.

Mal se lembrava a última vez que foi abraçado com tanto carinho.