Único - E alguns caídos atrás de você

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— Estou ouvindo a voz da Collei. – Tighnari avisou ao se afastar, ainda ofegante.

— Com certeza ela está ocupada demais para vir aqui agora. – Cyno ignorou totalmente o aviso, voltando a juntar sua boca à do outro, novamente o prensando contra a parede.

As mãos do moreno apertavam a cintura do estudioso, este que mantinha sua destra emaranhada junto com os fios de cabelo brancos e a canhota agarrando a vestimenta arroxeada.

Em um ato de pura provocação, o de orelhas compridas mordeu com certa força o lábio do outro, ao ponto de sentir um breve gosto de ferro em sua língua. A consequência de seu ato? Foi agarrado pelos ombros e jogado em direção à mesa responsável por colecionar pilhas e pilhas de livros.

Ao trombar com o móvel, algumas pilhas de papel com capa dura se desequilibraram e foram de encontro direto com o chão, causando um barulho que ecoou pelas grandes quatro paredes.

Estava de frente para a estrutura de madeira e de costas para o rapaz de cabelos brancos, não demorou para sentir a mão alheia agarrar a barra de sua camisa e a erguer, expondo quase totalmente suas costas.

— Você sabe o que artistas fazem quando veem uma tela em branco, Tighnari? – o moreno perguntou baixo contra a nuca do outro, que sentiu arrepiar-se dos pés às orelhas.

— O que eles fazem? – sua voz soou receosa, deixando um pequeno grunhido escapar ao sentir uma lambida em seu pescoço.

— Eles não perdem tempo em colorir ela. – sua boca parou de deixar pequenos selares na nuca do rapaz para, finalmente, colorir sua própria tela.

Abaixou-se onde sua mão havia exposto as costas, admirando a branquitude antes de escolher sua primeira pintura.

Na região toráxica, pouco para a direita em uma direção oposta ao coração, os dentes caninos pouco mais afiados do que deveriam, morderam com força a região, sentindo a movimentação ofegante dos pulmões alheios.

Se afastou para ver a marca roxa com pequenos pontinhos avermelhados, passando o polegar por cima em seguida.

— Doeu muito?

— Na medida perfeita. – as orelhas dele estavam pontudas como nunca, pareciam até mesmo lanças.

Com a aprovação, Cyno deixou mais um carinho sobre a primeira marcação feita, mas logo desceu pouco mais no sentido esquerdo, lambendo o ponto desejado antes de cravar seus dentes mais uma vez.

Foi possível ouvir algumas folhas de rascunho serem amassadas e um sopro dolorido escapar dos lábios alheios, arrepiando quando a boca se afastou para voltar em seguida com um chupão pouco mais acima da região marcada.

A destra do de fios brancos se posicionou pouco abaixo do ombro do rapaz, cravando as unhas ali antes de as deslizar dali até a base lombar, deixando quatro rastros finos e longos naquelas costas.

Os pontos em que Cyno haviam atingido já possuíam um forte tom de roxo e pequenas gotinhas vermelhas, o rabo peludo de Tighnari balançando a ponta de um lado para o outro incansavelmente apontava o quanto ele aguardava para receber uma nova marca.

Quando o arroxeado estava prestes a marcar pouco acima do cós da calça com seus dentes, a porta principal da sala emitiu o som da trava sendo aberta, antes da pesada estrutura ser arrastada para liberar a passagem.

— Mestre Tighnari, está tudo bem? Ouvi do corredor um barulhão e... Ah, foi o Cyno. – concluiu rapidamente ao ver a figura arroxeada sentado em uma das cadeiras da bancada, enquanto o chamado como mestre estava de pé sobre a mesa fingindo tentar alcançar algum livro na estante alta logo ao lado.

— Qual princípio você usou para concluir que a culpa do barulho foi minha? – sua voz soou inconformada, mas a garota apenas arqueou a sobrancelha para o encarar.

— Fala sério. O mestre ali se matando para tentar pegar um livro, vários caídos no chão e você sentado com cara de santo? Da licença, né. – o arroxeado mostrou a língua a ela pela resposta, ato que foi retribuído pela esverdeada — Mestre Tighnari, precisa de alguma ajuda?

— Na verdade, sim. – deixou sua atuação de lado para encarar a garota — Estava procurando um livro sobre a anatomia dos felinos, mas acho que alguém pegou emprestado. Consegue descobrir para mim quem o pegou?

— O mais rápido possível! – concluiu a garota se virando para a saída em passos animados.

— Não tenha pressa, tenha o seu tempo. – desejou o mestre enquanto via a esverdeada fechar a porta animada, logo em seguida descendo da mesa.

— E você precisa mesmo desse livro? – perguntou Cyno com os braços cruzados.

— Na verdade, está atrás de você. – o outro pareceu incrédulo, mas realmente o grande conjunto de páginas estava caído no chão ao seu lado.

— Tadinha da Collei. – zoou o moreno enquanto se aproximava novamente do estudioso.

— Tadinha das minhas costas que ainda estão com muitas partes em branco, isso sim. – mal teve tempo para provocar, o de fios longos não se demorou para capturar os lábios em um atrito ansioso antes de o virar de costas novamente.

Sumeru sempre foi conhecida por toda Teyvat por seus estudos, descobertas e tecnologia, mas nenhum desses sábios da região pararam para estudar mais a sério as pessoas. Ou, mais especificamente, os fetiches que todas as pessoas costumam ter.

No início, Cyno tinha receio de deixar qualquer marca que fosse no corpo de Tighnari, mas com o tempo, compreendeu que aquela dor toda que ele sentia era algo bom para si, chegava a beirar o bizarro, mas era o que deixava o orelhudo a beira do colapso dos sentidos.

As costas que no começo da tarde estavam tão claras quanto as páginas de um livro recém escritas, agora estavam cheias de manchas escuras como uma joaninha, riscos vermelhos e até mesmo marcas firmes de dentes.

Tighnari se mostrou frustrado quando o arroxeado o alertou que as costas já estavam cheias, virou-se de frente e perguntou se o outro poderia continuar com aquilo por seu abdome.

Ele não era nem louco de recusar uma oportunidade como essa.

A frente do estudioso ainda era uma área um tanto quanto desconhecida por Cyno, não tinha conhecimento de como o outro gostava ou não por ali, tentou relembrar o que fez em uma outra vez, mas acabou se embaralhando e o outro agarrou-o pelos fios e o afastou de perto com uma expressão contorcida.

— Doeu. – resmungou em um tom completamente diferente dos outros que fazia quando gostava das mordidas, fazendo o lado cuidadoso do outro vir à tona.

— Machucou muito? – perguntou preocupado enquanto olhava novamente para a região que havia mordido, próximo à cintura esquerda.

— Não sei, eu só... Não foi bom. – respirou fundo como se isso ajudasse a aliviar a dor incomoda dali.

— Desculpe, não vou repetir. – deixou um breve selar nos lábios do outro em forma de carinho, mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, a porta foi aberta novamente.

Collei entrou em completo silencio com os olhos cerrados, Tighnari apenas arrumou sua camisa e continuou sentado sobre a mesa, enquanto Cyno ainda estava de frente para ele, mas com os braços cruzados.

A garota continuou muda enquanto os rapazes acompanhavam os seus passos com os olhos, ela marchou desde a porta até perto de onde estavam, olhando atentamente ao redor até apontar para o chão com um olhar de acusação.

— Por que estava escondendo o livro do mestre, Cyno? – confrontou o moreno enquanto pegava o pesado livro do chão.

— Porque é engraçado ver ele quase caindo das mesas enquanto se equilibra na beirada da estante por ser do tamanho de uma formiga. – o estudioso não poupou tempo em acertar um tapa em cheio no ombro exposto do outro — Ai!

— E toda vez que eu caio, você nem se move para me ajudar! – apoiou a Collei na acusação contra o outro.

— A dupla verdinha contra mim. Sumeru, a nação contra Cyno. – dessa vez, os dois bateram nele pela piada.

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