The Bends - Uma experiência entre realidades

sirius black. ぉ

𓂃 aquele em que eu volto para Hogwarts

O largo Grimmauld não costuma ser um lugar agradável. É uma casa grande e antiga, com vários itens pitorescos, pinturas descascando e móveis caindo aos pedaços. Nos meses que se manteve ali, Sirius conseguiu fazer mudanças agradáveis no ambiente. Afinal, mesmo  estando foragido, isso não o impedia de ter um lugar confortável para se viver.

Mesmo assim, eu ainda sentia um frio percorrer minha espinha enquanto andava por aqueles extensos escuros corredores, que apesar de renovados, ainda carregavam uma energia que eu sou incapaz de descrever

– Sirius! – Gritei ao fechar mais uma porta atrás de mim. Já haviam se passado alguns longos minutos desde que eu tinha começado minha caçada em busca do moreno de cabelos longos. – Padfoot! Onde você se meteu?!

– Pare de gritar, sujeitinha detestável! – O retrato de Walburga se pronunciou em um grito agudo. Merda. Eu provavelmente tinha acordado aquela abominação. Aquele corredor do Hall de entrada é o mais mal frequentado mais de toda residência Black. iluminado por uma grande lâmpada de candelabros e gás, há quadros tortos e escurecidos pelo tempo, inclusive um, de tamanho natural, que fica coberto por cortinas de veludo roídas pelas traças.

– E você? Quem lhe tirou a cortina, velha insuportável? – Perguntei esgueirando os olhos para encara-la. O quadro arregalou os olhos em descrença

– Quem pensa que é?! Eu sou a dona dessa casa! – A figura enrugada praguejou com os olhos esbugalhados

– Você é dona de toda a chatice do mundo! – Avancei em sua direção fechando a cortina rapidamente

– Traidora de sangue nojenta! Tire-me já essa cortina, escória! – Walburga gritava abafadamente enquanto eu me afastava

– Vá pro inferno – sussurrei em direção ao corredor enquanto me afastava

Desci a escadaria estreita de degrais duvidosos na extremidade do corredor de entrada em direção ao meu cômodo favorito da casa. A cozinha da residência ficava em uma sala cavernosa com uma grande lareira de pedra em uma extremidade e uma grande mesa de madeira no centro com cadeiras de cada lado. As depensas estão sempre cheias e a mesa sempre posta. Olhei em volta em busca de Sirius. Nada.

– SIRIUS, INFERNO! – Gritei novamente, olhando para os lados exasperadamente. De certo aquela era uma casa grande, mas não o bastante para que Sirius se perdesse.

O moreno apareceu pelas escadas alguns segundos depois. Sua típica expressão de tédio se fazia presente

– Por que está gritando? Sou um cachorro, posso ouvir você – Ele explicou, enquanto arrumava uma mecha de cabelo pra trás

Mordi minha bochecha interna ao vê-lo. Alguma coisa em seus olhos cinzentos me deixava levemente nervosa, mas Sirius tinha um olhar terno e um sorriso carinhoso que conseguia derrubar todas as minhas barreiras

– Realmente, mas não deveria me ignorar. Que grosseria, Black - Cruzei os braços encarando a figura vestida de preto em minha frente

– Geralmente você não é muito razoável pela manhã – Ele soltou um sorriso infantil enquanto vinha em minha direção. Sirius bagunçou meus cabelos ao passar por mim e foi direto a um pote de biscoitos.

– Isso são horas de comer biscoitos? – Perguntei erguendo uma das sobrancelhas

– Ok. Você precisa parar de andar com Moly Weasley urgentemente. – Assentiu enquanto mordiscava seu biscoito – Qual o motivo do escândalo, afinal? – Perguntou em meio a farelos

– Minhas malas, sabe onde estão? – Me enclinei sobre a mesa farta para pegar algumas uvas

– Não faço a menor ideia. Pergunte à monstro – Respondeu tentando limpar a boca

– Aqui  ainda está sujo. – Me aproximei dele limpando seu rosto delicadamente. Uma criança. Definitivamente eu estava cuidando de uma criança.

– Hum, obrigada. – Ele sussurrou em agradecimento. – Pra que precisa das malas? Vai viajar?

– Sirius? Vou pra Hogwarts amanhã. Se esqueceu?

– Amanhã?! – Ele arregalou levemente os olhos em surpresa – Achei que faltava... algumas semanas, talvez mais.

– Você precisa definitivamente de um calendário. Esse lugar não está lhe fazendo bem – Dei um sorriso irônico. O rosto de Sirius de repente ficou tenso. Ele se manteve em silêncio por alguns desconfortáveis segundos. Fiquei me mexendo, sem graça. Mordi a parte interna da bochecha.

– É... Eu preciso mesmo. Sair. – Ele soltou um riso fraco. Seus olhos estavam gélidos e sem expressão. Ele ficava assim as vezes. A mudança subita de personalidade. Não o culpava por isso. Todos aqueles anos em Azkaban... alguma parte de Sirius tinha se perdido lá, e ficar preso sob lembranças de sua infância não estava, como posso dizer, ajudando muito.

– Precisa ter... paciência. A ordem está... cuidando disso. Da sua liberdade. – Tentei buscar palavras para conforta-lo, mas eu não era exatamente boa nisso. Mordi os lábios antes de prosseguir. – As coisas vão se resolver... você vai ver.

– Você está certa. Talvez elas se resolvam – Ele suspirou ajeitando os longos cabelos. – Mas me conte, muitos preparativos pra voltar pra escola?

Sirius estava tentando recuperar o clima de descontração anterior. E eu me senti feliz em permitir que o fizesse. Não tinha percebido o quanto eu estava tensa até sentir todo meu corpo relaxar com sua pergunta. Sorri gentilmente

– Bom. – Suspirei fazendo uma lista mental – Preciso comprar os livros que faltam no Beco Diagonal e ajudar Harry a comprar alguns materiais já que ele não é lá exatamente muito bom em o fazer sozinho. Combinei de encontrar com o Sr. e a Sra. Weasley para me despedir. Fred e George pediram para que eu fosse à loja depois do expediente. Tenho cartas urgentes à responder antes de partir E... Ah! Preciso urgentemente achar minhas malas e separar minhas coisas... E me certificar que Draco saiba onde me encontrar amanhã. – Terminei de falar freneticamente quase perdendo o fôlego, e pensando se havia esquecido alguma coisa

Sirius me olhava atentamente ouvindo tudo, e eu notei, ligeiramente aliviada que a descontração tinha voltado aos olhos dele. Me senti feliz por ser aquela a expulsar as sombras de seu coração. Nem que apenas por algum tempo.

– Bom, parece uma lista muito... extensa – Ele pontuou, com a voz mais leve

– Eu diria infinita.

– Então deveria parar de adiar as coisas até o último momento. – O humor havia invadido seus olhos. Ele estava definitivamente se divertindo com a minha preocupação

– Algo que você tem muito costume de fazer, não é? – Brinquei

– Obviamente – Assentiu com convicção – Mas acho que tem uma coisa faltando nessa lista.

– Ah é? E o que seria? – Perguntei curiosa

– Em que parte dela você se despede do padfoot – Revirei os olhos sorrindo. Agora ele estava sentado na extensa mesa de jantar, com seus olhos escuros fixos em mim, e sorrindo de lado.

– Bom, se você me ajudar a achar minhas malas... – Fingi fazer uma conta nos dedos – Daqui a algumas horas, aproximadamente

Black fingiu estar magoado. Seus olhos brilhando como estrelas. Poderia me perder facilmente nesses momentos com ele, pensei. Estar em sua companhia fazia das minhas férias menos entediantes. Estávamos nos encarando por alguns segundos quando Sirius resolveu se pronunciar

– Acho que vou sentir sua falta – Disse desviando o olhar enquanto batucava os dedos no canto da mesa.

– Acha? – Perguntei enquanto sorria convencidamente.

– Talvez eu tenha certeza.

・。。・゜゜・。

≡ perdão pelo capítulo curto. to sem tempo pra nada, mas vou tentar escrever mais. <3