história.

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Eu me lembro que a primeira e última vez que eu beijei o Felipe foi na festa de vinte e dois anos dele, eu só tinha dezessete, ele ainda namorava com a Gabs.

Foi mágico na medida certa, mas ele tinha um cheiro de bebida tão forte que as vezes minhas recordações se viram contra mim e eu começo a ficar paranóica.

Quando eu cheguei em casa a primeira coisa que eu fiz foi contar pro Gou e pra Carol e por mais que eu me sentisse culpada pra caralho por ter feito aquilo com a Gabs, eu me dei conta que não era como se eu não quisesse ter feito aquilo a minha vida inteira.

Eu me lembro perfeitamente de quando ele apareceu do nada na porta da minha casa dizendo que tinha terminado com a namorada dele e que não fazia ideia do porquê ele queria vir falar isso pra mim, mas eu fazia.

Se aquele beijo realmente não tivesse significado nada pra ele, ele não viria correndo atrás de mim toda vez que alguma coisa catastrófica acontecia com ele.

Hoje é terça-feira, estamos eu, Carol e Gabriel tentando achar alguma coisa pra assistir - No caso, eu estou tentando, porque os outros dois só querem saber em falar da minha catastrófica vida amorosa -.

- Ok, não é porque vocês dois acharam pessoas incríveis que podem sair por aí tentando me juntar com qualquer um pra eu não ser mais a encalhada do trio, até que eu gosto sabia? - Reclamei com a boca cheia de bolo.

- A questão, é que a gente não quer te juntar com qualquer um. - começou Goularte com todo aquele discursinho que eu já sabia completo.

- Nós queremos juntar você e meu irmão, meus dois leõezinhos lindos. - Carol estava sentada no sofá, e eu na frente dela enquanto ela fazia cafuné no meu cabelo.

Eu dei um sorriso meio torto, não é de hoje que Gabriel e Carol tentam me juntar com o irmão da garota e não é de hoje que eu tento negar, dizendo que ele precisa se apaixonar por mim por conta própria e que se ele não sentir nada, é por que não era pra ser.

Mas é tão difícil manter essa aparência de desinteressada quando na verdade por dentro eu estou gritando: SIM EU TE AMO, VOCÊ É O AMOR DA MINHA VIDA DESDE QUE EU TINHA QUATRO ANOS DE IDADE E EU ESTIVE APAIXONADA POR VOCÊ TODO ESSE TEMPO, ME DÁ UMA CHANCE.

Mas é claro que eu não podia fazer isso, porque esse tipo de abordagem agressiva era completamente contra o meu próprio código de conduta e eu estou tentando melhorar como pessoa.

Será que ele me aceitaria se eu chegasse nele dizendo que eu passei os últimos dezenove anos da minha vida apaixonada por ele e que ele ter me beijado na noite do aniversário dele foi um erro, mas que se fosse pra ser assim, eu ia adorar ser o melhor equívoco dele, e que se ele precisasse de absolutamente qualquer coisa eu estaria aqui porque eu sempre estive e nada vai me impedir, até porque se uma namorada não me impediu, o que seria uma pedrinha no meu caminho.

- MARJORIE! - Gabriel gritou no meu ouvido e tudo que eu fiz foi gritar de susto e tentar me recompor.

- O que foi, hein? Não se pode mais devanear em paz, porque sempre tem um trombadinha para estragar completamente sua linha de raciocínio.

- E sua linha de raciocínio é o que? A sua boca com a do meu irmão se encontrando numa tarde ensolarada de verão, onde vocês dois estão completamente apaixonados um pelo outro e se amam incondicionalmente? - Carol falou extremamente rápido e quando concluiu seu pensamento, olhou sugestivamente para mim, olhei para os cantos tentando desviar a atenção.

- Nada a ver... Como você sabe que era verão? - Perguntei baixinho.

- Isso não importa. - Gabriel me deu um peteleco na orelha, o olhei com reprovação. - O que importa, é que a gente tava te perguntando qual filme você quer assistir.

- Vocês sabem a ordem, só queriam tirar minha paz. - De fato eles sabiam, a gente assiste os exatos três mesmos filmes em sequência desde que o Gabriel entrou para o ciclo de amizade, Who's That Girl, o filme incrível da Madonna, Sociedade dos Poetas Mortos, o filme pra chorar e por fim a gente assiste clube dos cinco, no final da noite são filmes da Barbie ou Monster High, isso quando Felipe não se intrometia na conversa, continuando a sessão de filmes antigos, como A Noviça Rebelde, Operação Cupido dos anos 60 e é claro Mamma Mia!

Me aconcheguei no colo da Carol e por pura implicância, coloquei meu pé em cima da cabeça do Gabriel, que não contestou e simplesmente me mandou o dedo do meio.

Noites de filmes sempre eram as minhas favoritas, não tinha nada que me lembrava o meu triângulo amoroso catastrófico de alguns anos atrás, muito menos o fato de que o Felps começou a se aproximar muito mais de mim desde então.

Enquanto a Madonna dirigia um carro como uma completa maluca, eu imaginava meus cenários, porém, logo fui puxada de volta à realidade, quando Carol me ofereceu um copo de vodka pura, talvez eu estivesse precisando.

RELATIVIDADE felipe zaghettiOnde histórias criam vida. Descubra agora