história

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E lá estava eu, era aniversário do Felipe e eu não podia perder isso por nada, eu tinha míseros dezessete anos e ele já ia fazer vinte e dois, caramba, o fato de eu ter um crush enorme nele sempre me lembra de que eu sou muito nova, que ele me enxerga como uma irmã mais nova e que eu sou uma pirralha, que ótimo.

Carol me levava para lá e pra cá, Gabs não desgrudava do Felipe e eu queria entregar o presente que eu tinha feito pra ele pessoalmente, sem ninguém atrapalhar.

Os amigos estranhos dele estavam por todos os lados da casa, eu acenava para uma e outra pessoas e sorria meio torto.

Eu sabia mil e uma coisas sobre o Felipe, tipo que ele escutava Lana del Rey escondido, ou que ele adorava que eu mexesse no cabelo dele, que ele odiava cozinhar, eu tinha tanta inveja da Gabs que podia dizer todas essas coisas em alto e bom som.

Mas pelo o que eu saiba, Felipe não gosta que qualquer outra pessoa que não seja eu, toque no seu cabelo, isso as vezes me deixa sentindo como se eu fosse especial, mesmo que não fosse tanto assim.

Eu tava andando pelos corredores, dessa vez sozinha, porque a Carol foi pegar bolo pra mim.

E eu com certeza tinha que passar na frente do quarto dele bem naquela hora, óbvio que eles se beijavam, eles namoravam, mas eu nunca tinha visto, e caramba como aquilo doía.

Fiz a primeira coisa que qualquer adolescente apaixonada pelo irmão mais velho da melhor amiga faria, óbvio que eu saí correndo, me tranquei no banheiro das visitas e não saí mais de lá, sempre que batia alguém na porta eu gritava lá de dentro que estava com muita cólica e que eu precisava de um tempo sozinha.

Aí a Carol apareceu, disse que não sairia da porta até que eu abrisse e não tive escolha alguma, abri a porta e desabei em choro, minha cara estava horrível, o nariz e as bochechas vermelhas, olhos inchados, maquiagem acabada.

— Por que eu tenho que gostar dele, Carol? Ele nem é meu tipo, muito menos acessível pra mim. — Abracei ela forte que estranhou todo aquele meu chororô e mesmo assim acariciou meu cabelo dizendo que tudo ia ficar bem.

Ficamos assim por uns cinco minutos até eu parar de chorar, ela que não era boba nem nada, pegou uma garrafa de uma bebida azul que eu não fazia ideia do que era, se trancou comigo no banheiro e sentou no chão do box.

— Vem, agora me explica, quem é ele? O que aconteceu pra você estar um caco? — E eu contei, cada palavrinha, contei que eu era apaixonada pelo irmão mais velho dela desde que a gente era criança, que eu fiquei acabada quando ele começou a namorar, que eu tinha visto ele se beijando com a namorada dele e por causa disso eu tive uma crise de choro, tudo isso foi contando entre vários goles daquela bebida estranha, eu estava aérea.

— Vem, eu ainda quero comer bolo e você esqueceu da minha fatia. — Ela respondeu que ficou tão preocupada comigo que tinha deixado ela por aí e tinha vindo correndo até mim.

Assim que saímos do banheiro lá estava ela, óbvio que não tinha ouvido nada porque não estava prestes a ter um ataque de fúria pra cima de mim, muito pelo contrário, ela me deu uma cartela de comprimidos, um OB, um absorvente noturno e um com abas.

— Ouvi dizer que você tava com cólica, vim aqui só pra prevenir, se você quiser eu posso te fazer chá, ou alguma coisa assim, juro que posso. — Ela sorriu, caramba como eu queria odiar ela, porque ela não podia ser como uma daquelas vilãs patricinhas chatas metidas à besta que não têm nada pra fazer além de encher o saco? Por que ela tinha que ser tão legal.

O Felipe apareceu atrás dela com uma feição preocupada, e sorriu verdadeiramente para mim.

— E aí? Você já tá melhor? Eu espero que esteja bem melhor porque agora a gente vai dançar, vem. — Ele puxou a Gabs pra sala e eu fiquei ali, plantada que nem boba olhando pro nada, até decidir ir tomar um comprimido.

— Caramba, não sei como eu nunca notei você com essa mentira deslavada, você olha pra ele como uma galinha olha pra uma espiga de milho, nem é brincadeira. — Ela empurrou meu ombro e eu ri alto.

As primeiras melodias de Dancing Queen começaram, outra coisa que eu não podia deixar de ressaltar, era que o filme favorito do Felipe era Mamma Mia! mas ele nunca admitiria isso em voz alta, senti a dor passar quase que subitamente, fui dançando, cantando, apontando para Carol, eu tava inconscientemente bêbada e isso deixou tudo melhor.

Sabe quando você não sabe mais o que fazer? Quando você simplesmente desiste de tudo porque acha que nunca vai ter aquela chance de ouro? Bom, esse não era o meu sentimento, porque eu estava disposta a lutar por ele, mesmo que isso fosse me obrigar a esperar, eu ia conquistar ele!

RELATIVIDADE felipe zaghettiOnde histórias criam vida. Descubra agora