Argent no Apocalipse; andarilha

Capítulo 9; De volta a estrada

Pov Carl
Ouvi a voz do meu pai me chamando, abri meus olhos lentamente, ele sorria pra mim, e estava segurando uma mochila pequena em uma das mãos.
_vem cá Carl – me levantei rápido, tanto que senti uma tontura, mas logo passou, e caminhei até ele que está escorado na parte lateral da porta aberta. – tá vendo essa mochila.
_sim. – minha voz ainda saia um pouco grogue.
_é da Alisson, antes de chegar ao acampamento eu e ela passamos por uma situação difícil e ela acabou perdendo a mochila, antes de ontem quando voltei de Atlanta eu trouxe pra ela, só que não achei oportunidade de dar, pode fazer isso pra mim, tenho certeza que a Alisson vai ficar feliz – eu balancei a cabeça que sim, pegando das mãos dele a mochila. ( É a mochila que tá na imagem de apresentação) – aproveita e acorda ela pra tomarem café da manhã. – falou já saindo
_valeu pai – caminhei até a cama me colocando de joelhos sobre ela, segurando a mochila com uma mão, e me apoiando com a outra pra me inclinar sobre a Alisson. – ei, acorda, precisa levantar – eu falei sussurrando. Ela grunhiu um pouco mas não abriu os olhos – tem café da manhã – ela entreabriu os olhos, ainda parecia estar com sono. – e uma outra coisa também – agora ela acordou pela curiosidade
_o que? – tirei de trás de mim a bolsa dela. Assim que ela pôs os olhos na mesma levantou rápido quase acertando minha testa. – minha mochila. – ela tomou das minhas mãos numa rapidez que eu nem sabia que ela tinha.
_meu pai a pegou quando foi pra Atlanta, mas acabou esquecendo de te entregar. – vi ela abrir o zíper rápido procurando algo dentro. Tirou dali uma foto. Parecia ser os pais dela, com ela no meio dos dois, o pai vestia roupa militar e a mãe sorria mas parecia ter chorado e a Alisson tinha o rosto sujo de sorvete eu acho, ela parecia muito nova. – são seus pais?
_sim.... Foi a última foto que tiramos antes de o meu pai ir pra guerra que o mudou. – ela disse com o olhar triste, me senti mal por ter a feito lembrar de algo assim. Mas logo ela sorriu e me abraçou, quase me fazendo cair pra trás. – obrigada. – senti os braços dela me apertarem e o calor de seu corpo, ou era o meu que esquentou demais, não sei dizer, mas era bom, devolvi o abraço. Logo ela se separou de mim e vasculhando na mochila  procurando por algo, pegou um pacote de batatas e estendeu pra mim.
__por ter me trazido uma lembrança boa de volta. – eu o peguei da mão dela, e o sorriso dela me fez entrar em transe, pensei que eu gostaria que dias como esse acontecessem sempre, dias bons — mal sabia eu que hoje não ia ser um bom dia — Fui tirado dos meus pensamentos quando ouvi a voz da minha mãe.
_venham tomar café da manhã antes que esfrie, Sofia está esperando por vocês. – ela disse saindo logo em seguida.
Pov Alisson
Fiquei tão feliz por ter conseguido meus pertences de volta, que o abracei de surpresa. Senti a lembrança daquele dia florescer, e lembro que choramos por que meu pai ia partir pra guerra, mas também lembro o que meu pai me disse antes de ir.
"Alisson, guerras sempre vão acontecer, o problema é como você lida com ela".
Essa frase nunca saiu da minha cabeça, e logo depois ele comprou o meu sorvete favorito. Essa foi a última vez que ele estava são. Quando papai voltou pra nós, ele já não era o mesmo, as sequelas da guerra o haviam tomado, os traumas estavam alí, e não tinha nada que pudéssemos fazer.
Mas isso não me abala mais, já fazia muito tempo, e não guardo rancor do que meu pai fez depois, na verdade, eu agradeço por ter me ensinado tanta coisa. Por isso rever aquela foto foi tão emocionante pra mim.
Já estávamos todos reunidos ao redor da mesa de café da manhã. Rick parecia estar um pouco de ressaca, Gleen não estava um pouco, estava muito de ressaca, é uma situação muito engraçada na verdade.
_você tá de ressaca? – Carl falou se direcionando ao pai dele – mamãe disse que estaria.
_é, a mamãe tá certa. – Rick disse risonho.
_a mamãe tem o hábito de estar certa.
_ovos em pó – T-dog preparava na frigideira – minha especialidade.
_o que é isso? – Rick pegou um frasco de remédio em cima da mesa.
_Jenner nos deu, falou que podíamos precisar, alguns de nós pelo menos – Lori respondeu olhando diretamente para o Gleen, que estava definitivamente acabado.
_ei Gleen, você tá acabado – sorri ladino.
_hãghnn – ele só gemeu em resposta imagino que pela fadiga e dor. Shane adentrou a cozinha e a primeira coisa que vi foi o arranhado do seu pescoço.
Rick: Shane!
_hum – ele resmungou pegando um copo de café.
_está tão mal quanto eu? – falou na brincadeira.
_pior – ele respondeu se virando e vindo para mesa.
_o que é isso no seu pescoço? – T-dog perguntou.
_devo ter me machucado enquanto dormia – não senti firmeza nas suas palavras.
_estranho, você nunca foi disso – Rick comentou.
_é tem razão, isso não é coisa minha. – vi a troca de olhares dele e da Lori, será que aconteceu alguma coisa?, Não, isso é coisa de adulto, Lori já disse pra eu parar de me preocupar.
_parece de um gato – Sofia falou, e todos olharam pra ela. Vi que ela ficou envergonhada, eu ia ajudá-la mas aí o Carl fez outro comentário.
_ou de uma onça – alguns adultos da sala riram, e os dois ao meu lado também.
_e das grandes – Shane falou por último sério, encarando a Lori de novo, que tentava focar no prato em que comia. Isso tá estranho.  Depois de dois minutos o Dr.Jenner adentrou a cozinha.
_boa dia pessoal. – ele cumprimentou a todos, e os pessoal respondeu.
_Olha Doutor, eu não queria começar a manhã te enchendo de perguntas, mas...
_vai perguntar – Jenner interrompeu o Dale.
Andrea: nós não viemos pelos ovos.
....estamos todos de frente pro telão, esperando o que Jenner tem pra nos mostrar, logo de cara parece uma pessoa deitada com o cérebro a mostra....
_isso é um cérebro? – Carl perguntou curioso
_ um cérebro extraordinário – Jenner suspirou e continuou – mas nem tanto no fim – é ele não parece bem, por um momento senti o olhar dele sobre mim, me analisando, mas logo ele  começou a explicar sobre o que acontecia na tela – este é o experimento It-19, era uma pessoa que foi mordida e se ofereceu para fazer parte da experiência. – ele falava com a voz pesada, deve estar triste, só não sei por que. Logo, ele colocou o vídeo pra rodar, onde mostrava o processo de infecção e explicou como funcionava. Daryl até fez um comentário por não estar entendendo nada. O cérebro da pessoa do vídeo parou e depois começou a funcionar de novo. De uma maneira mórbida e sem vida.
_o cérebro reinicia?. – Lori perguntou.
_não, só a parte do tronco cerebral.
_mas não estão vivos estão? – ouvi Rick perguntar.
_me diga você, parece vivo pra você? – Dr.Jenner o devolveu a pergunta.
_não é como antes, a maior parte do cérebro está escura.
_é, basicamente eles só levantam, e são conduzidos por um instinto irracional de comer o que é vivo. – mesmo já tendo presenciado uma transformação física, senti a sensação ruim, de saber que eles nunca mais vão voltar ao normal, meus pais devem ser um desses, vagando por aí, pensar nisso não ajuda.
_foi isso que aconteceu com Jin mamãe? – ouvi a Sofia perguntar pra Carol.
_sim querida – Carol apertou os ombros da filha para apara-la. Ver essas interações entre elas faz eu sentir mais saudade da minha mãe.  Levei um susto com o corte que apareceu no cérebro do paciente do nada.
_o que aconteceu? – Carol interrogou. Eu não entendi o que houve também.
_ele atirou na cabeça do paciente. – Andrea se manifestou – não foi isso?! – Jenner só balançou a cabeça que sim bem levemente. – você não faz ideia do que é isso, não é?!. – ouvi ele suspirar novamente.
_pode ser um micróbio, vírus, um parasita, fungo
_ou a ira de Deus – Jackie o interrompeu
_claro isso também – ele concordou olhando de canto pra ela.
_devem saber de alguma coisa, alguém em algum lugar – Andrea o questionava.
_devem ter outros, outras instalações – Carol falou, parecendo um pouco amedrontada.
_claro, talvez, outros como eu.
_não sabe, como pode você não saber! – Rick o questionou.
_tudo foi desligado, comunicações diretrizes, eu estou sem notícias a quase um mês – o Doutor se explicava.
Andrea: então não é só aqui. Não tem nada em nenhum lugar, nada! é o que você está dizendo, não é?! – Dr.Jenner desviou o olhar. Rick parecia atônito. Andrea balançava a cabeça em negação. Eu sinceramente não sei o que sinto, talvez eu já não tivesse esperanças antes, já que o centro de refugiados militar caiu.
_Ó Deus – Jackie clamava.
_eu vou encher a cara de novo – Daryol esfregou as mãos nos olhos, também não parecia muito bem com a notícia.
_Doutor eu sei que deve estar sendo difícil pra você, ter que responder todas essas perguntas, mas, o que é aquele relógio em contagem regressiva, o que acontece quando chegar no zero? – Dale o perguntou. Na verdade é uma ótima pergunta, isso também me deixou curiosa, lembro de ter comentado sobre isso com Sofia e Carl.
_os geradores do porão vão parar de funcionar. – ele respondeu, mas não ficou muito claro o que exatamente isso quer dizer.
_e depois? – Rick se direcionou ao Jenner, mas ele não respondeu simplesmente saiu dali. – o que acontece vi? – ele perguntou a moça do computador.
_vai ocorrer a descontaminação geral da instalação
......Lori e Carol trouxeram eu, o Carl e a Sophia de volta para o quarto de recreação, sei que tem algo ruim acontecendo, mas não querem contar pra gente, se bem que, talvez nem eles saibam direito. Tô lendo Gibi no sofá ao lado de Carl, e Sophia está a nossa frente brincando com os brinquedos disponíveis.....
_você tá legal? – ouvi o Carl me perguntar.
_sim, bem, estou limpa e de barriga cheia, não posso reclamar – eu sorri pra ele, de uma maneira forçada eu acho, que ele percebeu.
_mas não acha que está segura. – ele tem razão não me sinto segura. Não me sinto segura a muito tempo, mas enquanto estávamos no acampamento eu senti que estava bem, que podia aproveitar, agora eu não consigo nem focar no que estou lendo. Balancei a cabeça que não.
_e por que? – essa pergunta me pegou desprevenida, desde que cheguei aqui, fiquei acostumada a ser tratada como criança demais pro que eu falo importar, geralmente eu não contaria, mas o mar que são os olhos de Carl, me passou confiança.
_quando ando por esses corredores, sinto calafrios, parece que já estive aqui só não me lembro, além de que, todos estão tensos, e o Jenner não conta toda a verdade. E me olha estranho também. Acho que ele me conhece.
_entendi, sei que deve ter seus motivos pra ficar com pé atrás, mas seja o que for acontecer, meu pai vai te proteger, e eu também, e a mamãe vai cuidar de você. – eu ia responder a ele que agradecia, mas não precisava que cuidassem de mim, eles não são meus pais, não tem obrigação, e eu sei me virar, pelo menos soube por dois meses. Mas não pude dizer nada disso, Sofia cortou meus pensamentos.
_vocês podem parar de trocar votos, tão sussurrando muito alto as melosidades – ela falou rindo da nossa cara, por que suponho a minha deve ter ficado corada e a do Carl nem se fale.
_não sei do que você tá falando, estamos só conversando – ele rebateu ainda com rosto vermelho.
_sei, falta só se beijarem – ela continuou.
_você é uma boba isso sim, tá lendo revistas demais. – eu falei. Vi a Lori verificar o ar condicionado, parecia que não estava funcionado, nem percebi que ela entrou, estou ficando dispersa demais. – tá tudo bem Lori? – eu a perguntei.
_não é nada, só que o ar parou de funcionar – ela explicou, parecia aflita.
....A situação começou a piorar, todos começaram a sair dos seus quartos, e vi o Dr.Jenner adentrar o corredor....
Carol: por que as luzes apagaram?
_o que que tá pegando, por que tudo tá desligando? – Daryol saiu do quarto segurando uma garrafa de bebida, Jenner passou ao lado dele tomando da mão dele.
_o uso da energia foi priorizado – ele respondeu sério.
_o ar não é prioridade?, e as luzes? – Dale o questionou.
_isso não cabe a mim. A zona cinco está se desligando
_tá legal, mas o que isso quer dizer? – Daryol o seguia pelo corredor, mas o Doutor não parava de andar. Todos os outros presentes ali iam atras. – ei eu tô falando com você. Como assim se desligando, como um prédio pode fazer isso?
_você ficaria surpreso. – nesse momento Rick, Gleen, Shane e T-dog voltaram, se eu não me engano estavam no porão, verificando os geradores.
_Jenner o que tá acontecendo? – Rick o abordou.
_o sistema está cortando o uso de energia não essencial, foi projetado para manter os computadores funcionando até o último minuto, isso começa quando chegamos a marca de meia hora – ele apontou para o relógio, que marcava 29 minutos. Jenner deu um gole na bebida enquanto subia as escadas para perto dos computadores, ele devolveu a garrafa pro Daryol que a pegou com brusquidão.
_Escuta Aqui Seu.. – Shane ia continuar e avançar no Doutor, mas Rick segurou seu ombro.
_que se dane Shane, eu não ligo pra isso, Lori Pegue suas coisas todos peguem Suas Coisas Pessoal AGORA – ele ordenou e todos começaram a se dispersar, mas estancaram, quando o som de um alarme foi acionado.
_o que é isso? – Carl perguntou ao Shane que estava ao seu lado, mas ele não o respondeu, também não poderia, por que ninguém sabe o que exatamente está acontecendo.
_Vocês Ouviram o Rick, Vão Arrumar as Malas! – Shane ordenou o pedido do Rick novamente e quando todas já iam as portas se fecharam
_trancou a gente aqui!, Ele Trancou a Gente Aqui! – Gleen berrou.
_Aaa Seu desgraçado, eu vou te matar.- Daryol ia pra cima dele mas o Rick e o Shane o seguraram, o afastando.
_abra essa porta Jenner, deixe a gente sair – Rick o pediu
_eu não controlo isso, são os computadores. – ele se defendeu
A maioria dos homens começaram a usar seus martelos e machados na porta que estava fechada. Eu corri pra dentro pra pegar minha mochila se tivesse uma chance de sairmos dali vivos eu a levaria comigo. Quando adentrei o quarto em que estávamos peguei algumas coisas minhas que deixei espalhadas, mesmo estando tudo um caos me preocupei em pegar gibis pra nos manter entretidos durante as viagens. Vi pelos corredores que outros também pegavam os apetrechos principalmente as armas. Ouvi tiros, e isso me assustou, acabei deixando alguns objetos caírem da minha mão, quando me abaixei pra pegar, vi minha arma em cima da cômoda e minha faca também, mesmo nessa situação senti um sorriso no meu rosto. Depois de arrumar tudo voltei para o saguão. Na hora exata em que as portas se abriram e todos correrem pra fora. O Rick se demorou falando com o Jenner, mas não reparei o que era, senti o Gleen me puxar pra fora, quando dei por mim já estava cara a cara com as paredes de vidro daquele lugar. Todos os que estavam alí tentavam arrebentar o vidro, mas sem sucesso, meu coração batia acelerado, era isso eu ia morrer aos doze anos?, Ouvi bem quando disseram que tudo ia explodir, e depois que só tínhamos 4 minutos, agora menos, o ar começava a me faltar, e a promessa a minha mãe?, Vai pro lixo?, Muitas coisas se passaram na minha cabeça, até que senti a mão de alguém segurar a minha. Olhei pro lado e me deparei com os olhos azuis do Carl, senti um aquecimento por saber que alguém estava ali do meu lado. Olhos azuis.... iguais aos do Rick.... a granada do Rick, lembro que ele pegou uma dentro do tanque, foi como se uma lâmpada acendesse na minha mente. Me soltei do Carl rapidamente, correndo até a bolsa da Carol, sei que ela guardou alí. Peguei a granada e fui até o Rick.
_toma – falei, a entregando pra ele. – tenta isso – ele olhou pra mim e mandou todos se afastarem.
_SE AFASTEM – logo depois ele puxou o pino deixando a granada e se distanciando o máximo possível. Logo a explosão ecoou alto, pelo local e o som do vidro estilhaçando.
_vamos pessoal! – Shane mandou. Todos correram pra fora. Nos agrupamos, um defendendo as costas do outro. Peguei minha arma e atirei em dois errantes que se aproximavam. Foi o suficiente pra Lori me puxar para o meio em "segurança" chegamos até o trailer, alguns foram para os outros carros e o Daryol pra sua moto. Quando adentramos o trailer ficamos todos inquietos esperando a explosão acontecer. Vi ainda o Dale e a Andreia saírem de lá, nem havia reparado que não estavam conosco. Nem a Jackie aliás.
_Pra Trás!, Se abaixem! – todos nós no trailer fomos pra trás e eu coloquei as mãos nos meus ouvidos. Pra impedir de me ouvir a explosão. Mas ouvi mesmo assim, e foi alto muito alto. Minha mente imaginou como seria estar lá dentro, se doeria, ou se seria indolor como Jenner disse. Eu não sei. E espero nunca ter que pensar se isso teria sido melhor.
....Quando nos levantamos, eu pude ver o estrago que a explosão deixou, o fogo tomava tudo nos arredores, o calor já me alcançava, mas isso era com o que eu menos me importava agora. Pude ver Dale e Andreia entrando no trailer. Olhei pros rostos de cada um ali presentes, e todos pareciam cansados, perplexos e aliviados, por estarem vivos eu imagino, nessa minha divagação nem percebi que o trailer já começava a andar, e o Horizonte já sumia.... De volta a estrada....