Na manhã do início das aulas eu pulei assustada da minha cama, parece que é comum a ansiedade nos fazer perder a noção do tempo.
O relógio ao lado da minha cama marcava cinco em ponto e minhas aulas só começariam as oito, resolvi usar aquele tempo extra para me arrumar com calma.
O dia amanhecia frio do lado de fora, as casas do Brasil não costumam ter o mesmo sistema de aquecimento das da Europa, o chão estava frio o que fez meus dedos dos pés doerem.
Eu andei calmamente até o banheiro que ficava ao lado de minha porta, lá tomei um banho quente para tentar afastar a preguiça que o frio trazia.
Minhas bochechas estavam vermelhas quando me olhei no espelho, meu rosto era oval com pequenas sardas na ponte do nariz, meus cabelos possuíam um tom vermelho cobre com alguns fios dourados, o que fazia ele brilhar como fogo no sol.
Assim que sai do banheiro caminhei animada até o meu pequeno quarto, ele era simples, uma cama, uma mesinha e um armário de madeira, mas já era o suficiente para mim, eu nunca tive um espaço só meu em Sinaia, a privacidade lá era vista com péssimos olhos, " O que você vai fazer sozinha que não pode fazer em grupo".
Um pouco antes de nossa chegada no Brasil, Gabi me levou para comprar roupas novas em Bucareste, as peças que trazia comigo de Sinaia eram muito antiquadas e me faziam parecer ter dez anos a mais.
Peguei animada uma saia xadrez que parava no meio das coxas, uma meia calça escura e uma camisa gola alta preta, era a primeira vez que usaria aquele estilo de roupa, nos, mulheres, só eramos permitidas a usar vestidos e macacões na congregação, assim que me vi no espelho com aquela roupa eu pensei em tudo que minha mãe me dizia.
" Elas se vestem como prostitutas "
" Você não deve usar essas roupas vulgares Helena "
" Deus não gosta de suas filhas vestidas dessa forma "
A voz da minha mãe na minha cabeça era o juiz particular dos meus julgamentos internos, durante toda minha vida eu estive trancada como um passarinho, não poderia nem mesmo sonhar em ser ou fazer algo diferente do que era esperado pela minha família, se não... bem, se não eu teria que ir embora.
Eu afastei esses pensamentos da minha cabeça.
" Você já está no inferno cenourinha, então dance com o demônio. "
- Levantou cedo - Gabi falou quando chegou na sala de estar, já eram quase sete e eu estava sentada em uma das poltronas tentando descidi se iria ou não com aquela roupa para a Universidade.
- Estava sem sono. - Gabi me olhou curioso mas não falou nada, ele usava uma calça de moletom cinza e uma T-shor branca. - Não vai se arrumar ?
- Eu sou homem Lena. - ele coçou a barba que começava a crescer e olhou discretamente para a minha roupa. - Não sou tão vaidoso como vocês mulheres.
- Eu não sou vaidosa Gabi ! - falei nervosa, vaidade era um grande pecado, como ele poderia me considerar vaidosa?
- Lena - ele franziu o cenho - vaidade não é algo necessariamente ruim, você só precisa saber nivelar. - ele saiu andando para a cozinha.
Como um pecado poderia não ser " necessariamente ruim ", pecado é pecado, não existe meio termo.
- Que horas começa sua aula ? - Gabi voltou alguns minutos depois com duas canecas de café, ele me entregou uma e se sentou na minha frente.
- Começa as oito, mas quero chegar um pouco antes. - fiz uma careta quando dei um gole no café, ele era mais amargo do que o que eu tomava antigamente.
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Sweet Sinner | Doce Pecador
RomanceOs trágicos acontecimentos na vida de Helena fazem com que ela é seu irmão mais velho Gabriel tenham que mudar completamente suas vidas, ambos se mudam para a cidade histórica de Petrópolis buscando redenção de seus pecados. O desejo por liberdade e...