Prólogo, Birthmark.

235 24 63
                                    

Louis sempre pensou que Manchester se parecesse com um cenário de filmes do Batman, ou uma Las Vegas à moda antiga; ele achava que Elvis Presley teria amado Manchester, com suas grandes avenidas em curvaturas, seus grandes prédios iluminados e seus moradores de poucas palavras. Manchester, à beira da água; Manchester, com seus estádios gigantescos com fãs gritando a plenos pulmões enquanto Louis lava o rosto com água fria mais uma vez, mesmo sabendo que os maquiadores perderam tempo tentando encher a pele dele de futilidades. Eles vão ficar cheios de raiva. Louis sabe ignorá-los.

Ele apoia seus braços no balcão do da pia, e olha para o seu rosto molhado no espelho. Louis odeia esperar. Mais trinta minutos e ele estará no palco ─ mal consegue se manter parado devido a ansiedade. Parece um pouco com o sentimento de amor, e ele gosta.

O banheiro é deprimente, tem sujeira entre os azulejos, uma camada notável de uma substância escura e estranha, e a pia possui algumas manchas que ele não sabe distinguir; mas o espelho está limpo, como deveria. Não cheira mal. Não cheira a nada, na verdade. Talvez devesse. Alguns papéis descartáveis estão no chão, por cima de algumas pequenas poças de água que ao serem pisadas espalham uma gosma suja pelo chão em forma de círculos e pegadas.

Louis abaixa sua cabeça, olhando para aquela sujeira. Ele é um homem pragmático, porém aquilo não é culpa de ninguém. Ele fecha seus olhos, mexendo seus ombros e seu pescoço para cima e para baixo, e em círculos, suspirando. Mais vinte e oito minutos e ele estará no palco, parece algo bonito de se dizer.

Uma batida gentil ecoa a porta, "Louis?" É a pergunta feita. "Tá aí tem vinte minutos, cara. A gente tem que se preparar."

Ele abre seus olhos, ajeita sua postura, diz "Tô saindo!" alto o bastante para que escutem, antes de abrir a torneira para lavar suas mãos novamente. Depois de ter tocado no balcão, nunca se sabe. Com a torneira aberta, ele sabe que possui mais alguns segundos. A água escorre entre os seus dedos, e por um segundo Louis fecha sua mão como se tentasse segurá-la, mas ela se esvai facilmente. Isso cria uma carranca no seu rosto.

Ele pega um par de papel toalha e usa para puxar a maçaneta, sem tocá-la diretamente. Do lado de fora do banheiro, o barulho de pessoas é muito mais alto. Louis dobra o papel para jogá-lo no primeiro lixo que encontrar.

Para o seu infortúnio, Steve Durham está encostado a parede na frente do banheiro de braços cruzados olhando para Louis.

─ Não pode nem tocar na maçaneta? Sério? ─ Ele caçoa com um sorriso de lado e olhos preocupados.

─ Vai se foder, cara. Eu fumo com essa mão ─, Louis revira os olhos, entrando na brincadeira, fazendo sinal com a cabeça para que fossem ao camarim.

Eles começam a caminhar, calados. Logo a lixeira se torna visível e Louis despeja o papel cuidadosamente dobrado em sua mão. Steve tem o hábito de ficar fazendo barulhos com a sua boca e língua, como se tocasse bateria. Louis lhe ignora, enfiando suas mãos no bolso e cumprimentando algumas pessoas pelas quais passa.

─ Vai fazer isso de boa? ─ Ele questiona.

Louis olha de soslaio para Steve, juntando suas sobrancelhas em confusão e segurando uma risada, apertando seu passo, antes de empurrar a porta do camarim, questiona: ─ Isso o quê?

─ O show ─, Steve dá de ombros. Como se não dissesse nada.

─ Por que eu não faria? Tá querendo que eu diga que tô doente pra você dar uma fugidinha? ─ Louis rebate, divertido, segurando a porta para que ele entre e falando alto o bastante para que todos lá notem as suas intenções.

Steve se joga no sofá, ao lado de Michael e Matt, que conversam entre si. Isaac está em um canto lendo algumas partituras e ouvindo música nos seus fones, enquanto Zak fuma calado olhando para o teto em uma poltrona branca. Louis passa por todos, indiferente, até uma carteira de cigarros deixada em cima de uma pequena mesa.

BirthmarkOnde histórias criam vida. Descubra agora