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Harry descobriu que o programa passando na TV se chamava Sex and The City, Louis contou que ele costumava gostar da série. Eles não conversaram sobre coisas mais. Alguns aspectos da sua vida pareceram claros, já outros não. Ele aceitou isso como algo que vem no combo da amnésia. Não parou de doer.

Harry está sozinho no quarto há algum tempo, olhando para as suas próprias mãos, assistindo as notícias da TV. Deram alguns papéis para que ele desenhasse o que quiser, mas Harry explicou que não lembrava como desenhar. O médico sorriu e gentilmente explicou que suas habilidades, independente de quais, tendem a permanecer apesar da falta de memória, mesmo não se lembrando como as aprendeu. Harry agradeceu, e ficou claro após suas tentativas que desenhar não era uma de qualidades ─ seus esboços ficaram péssimos. Descobriu que só sabia desenhar flores iguais e do mesmo ângulo, e preencheu vários papéis com imitações dos buquês que estavam ao canto do seu quarto.

O nome do médico é Benart, Harry achou bizarro, e quis dar uma risadinha singela. O homem explicou com calma a situação clínica de Harry, o que aquilo significava, como a memória ainda era um mistério para a medicina, quais neurologista e neuropsiquiatras seriam os melhores para acompanhá-lo; disse que é comum alguns pacientes não terem suas memórias nos primeiros dias após um coma ou traumatismo, e que Harry passou por ambos. Louis contaria melhor para ele como foi o acidente. Por garantia, alguns exames seriam feitos e os resultados saem rapidamente, então ele voltaria com as notícias assim que Louis chegasse.

Harry, entretanto, não tinha certeza se Louis voltaria se levar em conta o mau humor que o acompanhou até a saída ao saber que noivado não estava entre as memórias de Harry.

A reação dele foi se desvencilhar, fazer uma cara feia, sentar-se no sofá e enfiar seu rosto nas palmas das mãos. Ele ficou assim por mais de dez minutos, enquanto Harry quietamente puxou seus joelhos mais para perto de seu peito e o observou, sentindo-se triste.

Louis perguntou por que ninguém o avisou sobre a amnésia, Harry respondeu que não contou a ninguém, pois nem sabia ao certo o que estava acontecendo ao seu redor e se seria correto contar. Louis riu de forma maldosa como se tirasse sarro da situação, e com uma voz vazia, suspirou "E agora?" Harry respondeu "Não sei." Eles se olharam como estranhos em um quarto.

Estava tarde, Louis estava cansado, Harry também. O dia seguinte seria cheio de novas coisas a se fazer e viver, Harry pensou. Ficaram mais algum tempo em um silêncio confortável, porém cortante. Louis se levantou e com poucas palavras afirmou que voltaria no dia seguinte, pois buscaria alguns pertences importantes de Harry na casa deles, e então poderiam conversar.

Com as mãos no bolso de sua jaqueta, Louis caminhou para fora em silêncio sem olhar para Harry duas vezes, de forma fria, que fez com que Harry se sentisse o causador de tanto sofrimento.

Alguns minutos depois a voz de Louis gritando perguntas e xingamentos nos corredores do hospital chamou a atenção de Harry, que arregalou seus olhos em surpresa. Louis exclamava firme suas palavras, "Como vocês fizeram isso com ele?! Ele é o meu garoto e ele não se lembra de nada! Façam ele lembrar!" As mãos de Harry tremeram e ele quis se levantar e ir até lá, se não fosse por um barulho alto de algo sendo quebrado que fez com que se encolhesse assustado nos lençóis de sua cama.

Louis gritou "Eu vou matar vocês! Eu vou arrancar a sua cara fora se você não me devolver a porra do meu namorado!" E o coração de Harry bateu rápido o bastante para o seu peito doer.

Com mãos trêmulas, ele apertou o botão da enfermeira. Sua cabeça voltava a doer.

Freya conversou com ele de maneira gentil e pareceu horrorizada ao perceber que seu paciente não possuía mesmo nenhuma memória, não fez com que ele se acalmasse.

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⏰ Última atualização: Sep 15, 2022 ⏰

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