O dia da minha morte

Conhecendo a morte pela primeira vez

O dia em que a conheci era um dia tão lindo,eu estava esperando por aquele dia há bastante tempo.
O dia do meu aniversário,o tão sonhado 15 anos,nada poderia ser mais surreal do que aquele dia.
Amanheceu o dia e recebi uma ligação do meu querido irmão que iria começar a quimioterapia,aquela voz doce,suave e tão confiante me dizendo que tudo ia ficar bem e que mais tarde nos veríamos no hospital para comemorar.
Estávamos tão confiante que nada poderia dar errado,afinal devemos ter fé e esperança,pois assim tudo daria certo. Certo?
Coloquei uma roupa linda,eu estava tão linda aquele dia e aguardava a hora de ir visitar meu irmão,nós planejamos todo aquele dia,afinal também era um dia especial para ele. Achamos um doador 100%,a cirurgia ia acontecer e tudo daria certo,um verdadeiro milagre. Milagre !

Olho o relógio e são 11:45,está quase na hora de ir e já ouço o barulho do portão,deve ser meu pai chegando para me levar até o hospital.
Aguardo alguns segundos e não é ele,é a minha prima pedindo para ir até a casa dela para esperar lá. Ela não parece bem,mas decidi ir,afinal o que pode dar errado hoje ?

Chego lá e ouço um grito,um grito que ecoou na minha alma,um grito que nunca havia presenciado,chego perto para acreditar no que ouvi e novamente ouço: O Daniel morreu.
Não pode ser,não o meu Daniel,não o meu irmão,falei com ele mais cedo,ele disse que me esperaria. Ligo para o celular dele e ninguém atende,o silêncio.
Todos que estavam na minha volta repetindo a mesma coisa e me dizendo que não era para ligar mais,pois ele não atenderia,ele morreu. Assim,as palavras tão frias e cruéis.
Morreu? O que isso significa?

A dor passava em cada parte do meu corpo,meu estômago parecia ter sido socado inúmeras vezes,minha cabeça rodava e minhas mãos e pés pareciam não me obedecer.
Eu não conseguia chorar,não pode ser real,nada disso deveria estar acontecendo.

Passo algumas horas sentada,tentando entender o que estava acontecendo,já tinham inúmeras pessoas na minha casa,pessoas que nunca vi e outras que estavam sempre ali. Todas me dizendo para ser forte,me dizendo que tudo ficaria bem,mas ficar bem do que?
Eu olhava a cada segundo esperando meu irmão entrar por aquela porta,ele me prometeu. Ele não faria isso comigo. Só poderia ser uma piada de muito mal gosto,mas assim que ele entrasse eu o perdoaria.

Olho e vejo minha mãe e meu pai entrar,e fico na esperança dele estar logo atrás.
Mas,tudo que via era minha mãe gritando com a roupa dele na mão e me pedindo ajuda.
Ela me olha e grita de uma forma que nunca mais esqueci,um grito de dor intenso,um grito de quem perdeu a alma,um grito de quem havia visto a tão temida morte.

Isso é um pesadelo! Não pode ser real,eu preciso acordar e assim que eu acordar vou encontrar meu irmão e contar tudo isso a ele.
Mas,não acordei.
Passado algumas horas,me levaram até o cemitério aonde ele estava e vi seu corpo naquele caixão.
Ele nem combinava com aquilo,aquelas flores horríveis,aquele tanto de madeira em volta,nada daquilo fazia sentido.
Eu olho ele ali por alguns minutos e decido ir até ele e só quando eu encostei eu senti que era real.

A morte. Ela é fria,dura como uma pedra,ela arranca tudo de nós,nos tira o brilho,nos arranca as nossas almas.

Tudo que eu via ali era ela,a morte. Não vi mais ele,meu irmão não estava mais ali,essa maldita morte me tirou ele. E ali naquele momento começou a minha busca por ela. Ela não pode me tirar a pessoa que mais amei,a melhor pessoa que já conheci,arrancar sonhos,planos e minha alma sem que eu a pudesse encara-la de frente,não ela não pode. E não vai.

Eu vou te achar dona morte! Gritei naquele cemitério gelado. E a partir daquele momento,ela me desafiou e voltou várias vezes.
Começamos um jogo,onde talvez eu nunca pudesse vencer.Mas,eu estava decidida a tentar !