Foi sua culpa

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Pensamentos confusos giravam pela mente de Jack e a imagem do que tinha acontecido na oficina de Norte se repetia diante de seus olhos de novo e de novo. Ele ainda não acreditava que tinha feito aquilo. Mas alguma coisa tinha se soltado em sua mente, tirando dele toda a ansiedade e o medo por apenas alguns segundos. Jack desejou poder viver preso naqueles poucos segundos para toda a eternidade, mas a realidade havia o atingido logo em seguida.

Cinco anos haviam se passado, cinco anos em que a relação entre Jack e Coelhão havia melhorado consideravelmente, pelo menos se comparado à o que eles tinham antes. E agora... Jack tinha arruinado tudo.

"Porque eu tenho mania de arruinar tudo...?" Jack murmurou para si mesmo, ignorando os traços secos e gelados de lágrimas em suas bochechas. Mas ele balançou a cabeça. Não, ele não devia ficar se focando nisso. Não, ele tinha que fazer o que tinha aprendido a fazer com os Guardiões, ele tinha que arrumar aquilo.

A Toca estava aberta, o que era inesperado, especialmente depois do que tinha acontecido. Ele atravessou a passagem com cautela, sentindo nervosismo subir por sua garganta. Ao sentir o calor da Toca o envolver, Jack foi novamente lembrado do calor de Coelhão e seus pés pararam por um momento. Ele respirou fundo. Não, ele não podia deixar aquilo piorar, ele tinha que cuidar daquilo, agora.

Jack caminhou lentamente por entre as plantas e esculturas de ovos, se sentindo nervoso, se preparando para o momento em que os Ovos Sentinelas se levantariam e o chutariam para fora da Toca, mas eles não se moveram. Ele continuou andando, procurando por Coelhão, ficando cada vez mais nervoso ao não encontrá-lo em lugar algum. Onde mais Coelhão poderia estar se não em sua Toca...?

Até que ele parou.

Coelhão estava sentado perto do córrego colorido, como quando Jack tinha o encontrado pintando ovos alguns dias antes da Páscoa. A memória mexeu com o rapaz, de algum modo fazendo seu nervosismo piorar. E ele quase virou e saiu voando para longe. Quase. Ele tinha que arrumar tudo aquilo.

"Coelhão..." Jack falou baixinho, sabendo que Coelhão já sabia que ele estava ali. O Pooka não reagiu, uma de suas orelhas apenas tremeu levemente. "Eu--"

"Mais nenhuma palavra, Frostbite." Jack quase pulou ao ouvir aquelas palavras, soando mais como um rosnado do que qualquer outra coisa. Coelhão se levantou, se voltando para o rapaz, sua expressão era séria, mas era como se houvesse algo indecifrável nela. "O que diabos foi aquilo?"

Jack tentou falar alguma coisa, mas era como se as palavras tivessem se prendido em sua garganta. Ele sentiu como se estivesse sufocando por um momento, como se em baixo da água de novo. O que só piorou a situação.

"Eu sabia... Eu devia saber que você estava tramando alguma coisa!" Coelhão continuou falando uma vez que o espírito do inverno continuou calado. "Você estava esperando por um momento pra fazer alguma coisa... Você fez aquilo só pra me envergonhar na frente dos outros, não é?"

Jack se surpreendeu. É claro que Coelhão ia pensar aquele tipo de coisa! Jack não sabia se sentia triste ou irritado com aquilo, de repente se lembrando das coisas que Coelhão tinha falado sobre ele anos atrás, só para se lembrar de como o Pooka havia reagido ao descobrir que Jack tinha ajudado a fazer Jamie acreditar nele novamente.

"Não!" Ele finalmente encontrou sua voz. "Não foi ideia minha, foi da Denti ou... Do Norte!"

Coelhão bufou de modo cínico e Jack sentiu como se aquilo tivesse só o deixado mais irritado.

"Colocando a culpa na Dentiana e no Norte?" Ele sibilou por entre os dentes. "Isso é baixo até pra você, Frost!"

"Não foi isso que eu quis dizer!" O nervosismo ainda queimava dentro de Jack, mas agora raiva estava começando a se misturar com o sentimento. "Eu nem sei quem colocou aquele visco! Eu juro! Eu só estava ficando na oficina do Norte, eu nem sabia que você ia parar por lá! Eu nem queria que aquilo acontecesse!" Ao ouvir o que disse ele se sentiu mal, sabendo que aquilo não era em todo verdade. Ele queria sim beijar Coelhão, tinha sonhado com aquilo várias vezes, mas não daquele jeito!

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