a dor

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Algumas vezes
Tudo se torna insuportável
E o único mecanismo de defesa
Que o meu corpo 
Ainda tem forças para suportar
É desligar.

Tudo que eu sinto se vai
Menos o principal
A angústia
O vazio
A vontade de morrer.

Acontece que 
Penso em tudo que pode acontecer
E em quanta dor eu sentiria 
E como eu suportaria tudo
E então
Entendo finalmente
Que naquele momento
Preferiria a dor física
De cinquenta tombos
De bater o dedinho no móvel
De ser espancada
De ser torturada 
A sentir toda aquela dor interior.

Eu não sinto nada
E ainda assim
Tudo.

Então tudo que posso fazer
É sentar
E chorar
Deitar
Olhar para o teto
E chorar
Gritar o mais alto que posso
E chorar.

Mordo cada pedaço do antebraço
Choro
E me sinto finalmente
Confortável
A dor física não só é preferível
Como também amigável.

Ela é temporária
Mas fica por tempo suficiente
Para mostrar que sobrevivi
Para lembrar que 
Mesmo que eu me afogue em lágrimas
Posso nadar sobre os hematomas
Olhá-los e sorrir
Me sentir livre
E entender que
Ainda há esperança.

versos preguiçosos de uma escritora medíocre Onde histórias criam vida. Descubra agora