8.

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Mário

E então o sinal para o recreio tocou e eu senti uma pontada que fluía do meu tórax até minha barriga — o que geralmente chamam de nervosismo.

Vi Lorena, que saiu da sala sem olhar para trás. A segui até o lado de trás da escola, onde ela parou e começou a falar.

— Mário, pode dizer o que queria. — Seu tom de voz era sério, e seus olhos desviavam dos meus.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, como se tivesse entrado em pane. Mas, finalmente minha boca formou palavras.

— O que quero te contar é algo que guardo comigo a um bom tempo. Nunca te falei porque tinha medo, vergonha... Ou sei lá o quê, nem eu mesmo consigo entender o que sinto às vezes. E por isso, sempre fingi que estes sentimentos não existiam, mas agora tenho consciência de que fingir que eles não existiam, só os aumentavam cada vez mais. Enfim, queria dizer a você que... Eu gosto muito de você, e não é mais como uma amiga. Eu acho que estou apaixonado por você, Lorena.

Terminei de falar e o mundo pareceu entrar em câmera lenta. Ela ainda não olhava para mim, o que estava se tornando torturante.

— Mário... Me desculpa. — Ela disse, finalmente me encarando.

Desculpa? Senti meu corpo todo se gelar.

— Eu não sinto o mesmo. — Ela andou rápido, batemos os ombros e ela saiu dali.

Ainda estava em estado de choque, minha mente estava processando o que havia acabado de acontecer.

As esperanças que criei, foram apenas esperanças idiotas?

Eu sou um idiota. Como pensei por um momento que isso fosse ser correspondido?

Meus olhos se encheram, os limpei rapidamente e segurei o choro.

É um desastre, estou preso num amor não-correspondido.

Lorena

Corri para o banheiro feminino na esperança dele estar vazio. Ninguém poderia me ver chorando como uma criancinha no meio da escola.

Odeio tudo isso. Pensei, abrindo a porta do banheiro e vendo que algumas garotas conversavam ali dentro. Ao me verem, elas cochicharam entre si, então fui até uma cabine e me tranquei. Dane-se, elas que cuidem das suas próprias vidas.

Eu não queria dizer aquilo. No fundo, sei que eu e ele compartilhamos dos mesmos sentimentos. Mas, eu sou uma tola com um pai igualmente tolo, o que torna tudo mais complicado do que aparenta ser.

Por que amar é da conta dele, afinal?

"Se achar um namorado tão novinha como a sua irmã achou, vai me decepcionar como nunca decepcionou, Lorena. Quero que seja uma mulher de respeito e com um bom futuro."

Palavras que me lembram perfeitamente do dia em que elas foram ditas, o dia qual a Raquel fez aquela revelação que mudou toda a forma que o pai via o assunto namoro.

"Foi um acidente, mas posso cuidá-lo. Posso estudar e cuidar do bebê, é difícil mas eu consigo! O Gui vai estar do meu lado todo o tempo!" — Ela disse no meio daquela discussão. Conseguia ver em seus olhos o quão frustada estava consigo mesma, e o quão irritado meu pai estava naquele momento.

No fim, passou-se quase 1 ano e ela conseguiu manter a faculdade e cuidar da criança ao mesmo tempo, como o prometido. Meu pai continuou a tratá-la bem, como sempre fez. Ainda assim, sua rigidez com relacionamentos se firmou como a âncora de um navio — sua raiva pelo Guilherme nunca mais passou.

Não conseguiria nem contar nas mãos a quantidade de vezes que ele me olhou com cara feia enquanto os meus irmãos faziam alguma das brincadeiras sobre os meninos que se declaravam para mim na escola.

É bom ressaltar que os gêmeos e a Yasmim podem namorar quantas pessoas quiserem, pois contanto que não seja a filhinha do papai a fazer isso, Durval não ligará. E essa coisa sempre me chateou muito.

Me faz sentir como se estivesse numa jaula trancada, em que, se eu tentasse arrombá-la de alguma forma, um leão faminto estaria a minha espera do lado de fora.

Ouvi o som alto do sinal da escola ecoar, ligeiramente levando minhas mãos ao meu rosto para enxugar minhas lágrimas. Não queria voltar para a sala de aula, de jeito nenhum, mas era algo inútil de se relutar, de qualquer forma teria de sair daquele lugar e botar a cara a tapa, simplesmente fingir que nada tinha acontecido.

Andei até a sala, entrei enquanto o professor arrumava o seu material na mesa para preparar sua aula. Evitei qualquer pessoa que estivesse dentro daquele cômodo, indo diretamente para a minha carteira e colocando meu rosto sob meus braços em cima dela.

Só me resta ignorar o exterior e o interior, no final das contas.

~

— Eu sinto muito por isso, Lolô. Por que não tenta falar com o seu pai? — Benício passou sua mão no meu ombro, me consolando enquanto estávamos sentados em sua cama.

— Não adiantaria nada, — Gael iniciou sua fala. — Desculpa por isso Lorena, mas ele é um verdadeiro babaca. O que as escolhas da sua irmã mudam na sua vida? Que merda!

Ele andava de um lado para o outro pelo próprio quarto, com seu punho fechado e o cenho franzido.

— Por que vocês não namoram escondidos? — Gael sugeriu, como se uma lâmpada tivesse se acendido acima de sua cabeça.

— Você ficou doido? Se ele descobrisse seria um milhão de vezes pior! — Eu falei.

— Concordo com ela. — Benício manifestou-se logo em seguida.

— E se ele não descobrisse...?

— Gael, sem chance. — Neguei novamente.

— Droga... — Bufou.

— Essas situações acontecem, e não tem muito o que fazer. Você vai conseguir superar isso, assim como o Mário. Vocês ainda podem ser bons amigos, nada precisa mudar... Posso estar falando besteira, mas talvez seja a única opção por agora. — Benício me abraçou de lado.

— É, talvez seja. — Suspirei, chateada. — Podemos continuar como amigos.

Amigos.

Platonic | MarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora