2.

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Lorena

A noite estava chegando, o que significava que devíamos voltar para casa antes que o meu pai desse mais um de seus típicos sermões "Eu falei para vocês voltarem antes das oito!".

— Têm certeza que vocês não podem ficar pro jantar, crianças?

— Eu queria mesmo, Joana. Mas não dá... Temos que voltar pra casa antes do anoitecer se não o papai faz picadinho de nós três!

— Certo, Lorena. Algum dia desses convenço ele a deixar vocês todos dormirem aqui! Tchau, queridos — Ela acenou para nós. Mário, ao seu lado, fez o mesmo com um sorriso no rosto.

Lá fora a lua brilhava muito, mesmo que o dia não tivesse acabado por inteiro. Parei de andar para observá-la.

— Nossa, como está bonita...

— Está mesmo. Vocês sabiam que ela está desta cor amarelada pela sua aproximação com o horizonte e–

Benício pausou por um momento sua fala astrológica, como se tivesse levado um susto.

— Mas, melhor irmos rápido... Aqui está ficando muito escuro… Logo ficará de noite.

— Você já tem 15 anos e ainda tem medo do escuro. Sério?

— …Falei porque Durval não gosta que cheguemos tarde. Só isso. — Desviou o olhar.

— Vou fingir que acredito, Benício — Gael riu.

Voltamos a andar a caminho da nossa casa.

Acordei com a respiração ofegante, havia tido um pesadelo.

À noite acabei dormindo no sofá com os meninos. Assistimos um último lançamento da nossa saga favorita de filmes, e assim, acabamos adormecendo sem querer. Senti um desconforto nas costas ao me sentar.

— O que aconteceu, Lorena? Acordei com você resmungando enquanto dormia — Benício arregalou os olhos, se sentando — …Você está chorando?

Passei a mão nos meus olhos, estavam molhados.

— Nem tinha percebido que estava chorando… Sonhei com algo ruim de novo, apenas. Não se preocupe — Abaixei o olhar.

— Sério? Quer conversar sobre isso?

— Mário caiu de um penhasco gigantesco por minha culpa. Eu não consegui segurar ele, e ele chorava por ajuda... Minha ajuda. Foi terrível.

Benício colocou seus óculos.

— Você está melhor agora?

— Sim. Obrigada.

Meus pesadelos noturnos já se tornaram cotidianos. Ultimamente minha mente está sendo minha pior inimiga e isso transparece nos meus sonhos. E Benício sempre me ajuda nesses momentos.

— Gael — O cutucou para acordá-lo.

— Hum... — se virou para o outro lado — Me deixa dormir, estamos de férias, não precisamos acordar cedo…

— Durma, então. — Deu de ombros, se levantando. — Estou com fome. Você vai querer alguma coisa?

— Não, depois como.

Subi as escadas e fui até o meu quarto. Vesti a primeira roupa que encontrei e liguei meu celular depois de ouvir um barulho de notificação.

𖧷

| Mario

Oii Lolo :D
Td bem?
Está livre hoje??

Oi, estou bem e vc?
Tenho nd pra fazer hj, por quê?

Vamos ao parque? Só nós dois.
Quer?

Sim.
Que horas?

𖧷

Larguei o celular na cômoda, fui até a janela e a abri para ventilar o quarto. O dia estava ensolarado e bonito, pássaros cantavam e o sol esquentava meu rosto.

— Lorena? — Alguém entrou no quarto.

— Bom dia, Yas!

Ela veio até o meu lado.

— ’Dia. — Bocejou — ’Tá calor pra caramba, que droga.

— Eu gosto do verão.

— Não sei como! Ninguém merece esse calorão. — Dei uma risadinha.

Ouvi o barulho de notificação novamente. "Pode ser às três da tarde."

Desliguei meu celular e o coloquei no bolso.

— Quem era?

— O Mario, por quê?

— O que ele queria?

— Ele pediu se podíamos nos ver hoje, no parque. Só isso — Disse desconfiada.

— Um encontro? Uau, pequena Lolo arrasando corações! — Sorriu de forma maliciosa.

— Não! Claro que não! Não é o que você está pensando, somos amigos. Só amigos. — Afirmei.

— Meu primeiro beijo foi com um amigo.

Provavelmente meu rosto estava parecendo um tomate neste momento. Nunca tínhamos tido uma conversa como essa antes.

— Sério? Com quem?

Ela parou de falar por um momento, demonstrando incômodo e deixando de sorrir.

— …Luigi.

— Oh, desculpa por ter perguntado.

— Tudo bem. Naquele tempo acho que realmente nos amávamos. Mas não deu certo, ele encontrou uma menina mais bonita e interessante — Suspirou.

— Você é uma menina bonita e interessante, Yasmin.

— Não tenho tanta certeza disso… — Seu olhar parecia distante. — Mas, passado é passado! Minhas experiências não interferem nas suas, então tenha um bom encontro. Escove bem os dentes, viu maninha?!

— Quieta! — Ela foi para fora do quarto enquanto ria.

Platonic | MarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora