Quando o universo foi criado, o destino de cada pessoa estava traçado com a sua alma gêmea.
Alguns procuram pela sua alma gêmea de acordo com a sua personalidade, com os gostos em comum, ou com algo que lhes represente.
Contudo, Kakashi não esperava que a sua alma gêmea fosse ser o vizinho que o perturba diariamente com músicas altas, bebedeiras de madrugada e brigas entre os filhos.
Ele acreditava fielmente que sua alma gêmea fosse o seu atual namorado. Mas o destino tende a ser engraçado e ali estavam, ambos se encarando, sentindo a conexão inexplicável de suas almas se tocando.
O gosto doce da felicidade se alojou em suas bocas, fazendo-os suspirarem em uníssono.
A marca de nascença que compartilhavam era a prova de que se completavam. Os olhos conversando entre si. E a vontade insana de provar do gosto alheio era gritante.
Kakashi apenas queria que Obito abaixasse o volume do som, e o que ganhou foi uma troca de sentimentos profundos.
Ele avançou um passo na direção do Uchiha, e murmurou baixo:
— Poderia abaixar o som? Preciso acordar cedo... eu trabalho amanhã.
— S-sim... — Gaguejou o Uchiha, nervoso. — Desculpa... eu vou abaixar o som... — Eles ficaram se encarando por um bom tempo, até Kakashi resolver voltar a realidade e agradecer com um sorriso, voltando para o seu apartamento.
Obito retornou ao seu apartamento e abaixou o volume do som, recebendo olhares curiosos dos filhos, que estavam sentados à mesa fazendo os deveres de casa.
— Kakashi finalmente ameaçou chamar a polícia para você abaixar o som? — Sasuke questionou com um sorrisinho irônico no rosto.
— Ele já tinha ameaçado semana passada, não lembra? — Alya rebateu a ironia e ambos os irmãos riram.
— Os pirralhos já terminaram os deveres de casa? — Obito questionou indo em direção a geladeira e pegando uma lata de cerveja.
— Pai, já é a terceira lata que você está bebendo... — Sasuke disse soltando um suspiro cansado.
— Como se ele se importasse com isso — Alya fechou o caderno com força, brava e levantou-se da cadeira.
— Alya — Obito segurou em seu braço, impedindo-a de continuar caminhando.
— Me solta! — A garota puxou o braço de volta. — Você é um bêbado, Obito! É todos os dias isso! Eu tenho vergonha de você! — Dito isso, ela correu em direção ao quarto e bateu a porta, ficando por lá mesmo.
Obito largou a cerveja de volta na geladeira e apoiou-se de braços cruzados no balcão, sentindo o gosto da culpa. Ele odiava ser desse jeito.
Sasuke encarou o pai uma última vez antes de levantar da cadeira e desejar boa noite, indo para o quarto que dividia com a irmã.
(...)
A cama parecia que estava em chamas, porque Obito não conseguia parar de mexer-se. O sono nunca vinha, ele esperou durante muito tempo, mas de nada adiantou.
Resolveu dar-se por derrotado e levantar para fumar um cigarro e ver se acalmava-se.
Ele abriu a porta com cautela, tentando evitar que os filhos escutassem a movimentação.
Foi em direção a área aberta do prédio, onde respirou fundo ao sentir o vento gélido chocar-se contra o rosto, fazendo-o sentir um certo alívio.
Obito tirou o maço de cigarro do bolso e puxou um filtro, acendendo-o e levando-o em direção aos lábios. A fumaça se alojou em seus pulmões e a nicotina subiu para seu cérebro, o acalmando.