𝑚𝑦 𝑓𝑖𝑟𝑠𝑡 𝑎𝑛𝑑 𝑙𝑎𝑠𝑡 𝑚𝑢𝑠𝑒

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Novamente, às quatro da tarde procuro abrigo no casaco. Pego no, já usado, caderno titulado e faço o meu caminho até ao jardim morto pelo inverno presente.

Quando se desenha, todos temos uma fonte de inspiração, todos precisamos de um lugar por onde nos agarrar e criar novas peças por mais simples que sejam. Uns procuram o conforto da inspiração em paisagens criadas pela podridão humana, outros em histórias de ilusões criadas em suas próprias mentes isoladas e talvez, alguns, em memórias prestes a serem perdidas entre as milhares que habitam e vagueiam por aí.

Eu posso dizer que consegui encontrar a minha em pessoas. Ou melhor, encontrar a musa.

No caminho até ao local chamado de meu, desviei um olhar até à minha musa.

Cabelos ruivos em sincronia ao vento vindo à este, a pele branca pela escassez do sol na estação fria, nariz avermelhado pela exposição às baixas temperaturas e os lábios no tom mais belo de carmesin que tanto anseio pintar ou até mesmo físicamente experimentar.

Todos os detalhes da minha musa, todos os meus detalhes favoritos entre todas as outras de sexo oposto. A minha musa bela, porém nada discreta.

De à um ano para cá, o vizinho da frente acha mesmo que eu não sei das observações diárias.

Gostava mesmo que soubesse que poderias fazer-me companhia... a companhia distante que me permite transformá-lo em carvão, em tinta, não é o suficiente.
Preciso de algum contacto, tenha a coragem que eu não tenho por favor.

Finalmente sentado e com o caderno aberto, olho para a janela da casa onde moras pensando no que havia de criar hoje.

Estava a tentar arduamente produzir criatividade a partir das feições, mas você simplesmente desapareceu no espaço em que me era permitido observar para dentro do quarto de cores acastanhadas.

Tristemente olhei para o caderno, agora sem a musa do desenho de hoje.
Olhei em volta tentando encontrar um novo alvo de minhas ideias nascidas na finura do material em um lápis 4B, árvores mortas, casas engolidas pela melancolia de uma fase temporal passageira.

O problema não seria encontrar a nova egéria, mas sim encontrar uma tão esplêndida quanto a musa.

Porém todas as possibilidades de novas egérias dispersaram quando vejo o Kang saindo pela porta traseira da sua casa.

Caderno na mão, dois lápis e uma borracha.

Poderia suspirar como uma garota apaixonada da primária, mas a imagem dele caminhando em minha direção emquanto me entregava sorrisos singelos fazia-me simplesmente prender a respiração, com medo de respirar o oxigénio que lhe pertence.

A sweatshirt azulada e larga, os caninos saltados do sorriso tímido que destes de longe, e as mãos entrelaçadas com medo de não terem um encontro uma da outra foram capazes de destabilizar-me por completo.

Queria desenhar cada detalhe de como a musa estava hoje.

Logo voltei ao corpo e decidi acenar quando ele parou perto da mesa amadeirada fazendo o meu órgão vital bombear sangue em uma velocidade indesejada.

Com um convite silencioso, movimento o corpo de forma a que ofereça espaço para sentar-se do meu lado. Convite que foi instantaneamente aceite por ele.

Pela primeira vez fui exposto e permitido a ver a pessoa que tanto admiro de perto, pude observar em instantes a pele, os olhos grandes e os aparentes macios fios de cabelo a centímetros de distância da minha pessoa.

Entre risos meigos, desenhos e textos escritos desajeitadamente foi me concedido o presente de finalmente passar a primeira tarde à companhia literal da minha primeira e única musa.

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⏰ Última atualização: Oct 17, 2022 ⏰

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