Capítulo I

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O Alfa Rebelde

Nas terras de Calliandra, doze reinos eram regidos pelas estações do ano: as nações primaveris — Werlar, Helianthus e Emesia —, eram conhecidas por seus belos jardins de clima ameno, com bosques mágicos e borboletas multicolores que chamavam a atenção dos visitantes com sua beleza única;

Cerlace, Nelan e Aestas possuíam belas praias abençoadas pelo verão. Frutas frescas e exóticas eram o cartão de visita da região, encantando qualquer um que buscasse as altas temperaturas das potências banhadas pelo sol nos doze meses do ano;

Nas temperaturas baixas e planícies recobertas de neve, encontravam-se os reinos gélidos; como o próprio nome sugere, comandadas pelo inverno rigoroso. Além de Adnix e Miverd, havia Hiems, lar da família Choi;

Não distante dali, em Aurus, Hynver e Vethirse, montanhas altas e de cumes afiados abrigavam o outono, com suas paisagens alaranjadas e grandes plataneiras cujas folhas cobriam o chão em tons terrosos de marrom. Era para lá que a carruagem dos herdeiros de Hiems se dirigia.

Cada reino possuía suas próprias particularidades, um detalhe muito importante a ser considerado no momento em que alianças são propostas. Cada uma dessas nações busca em seus tratados, riquezas e recursos que não possuem naturalmente, portanto não são raros os casamentos arranjados que ocorrem entre duas potências.

Choi San, particularmente, não conhecia um único matrimônio fruto dessa ladainha burocrática que lhe parecesse qualquer coisa além de minimamente conveniente. Era justamente por isso que preferia se lançar de uma cordilheira do que ter sua liberdade ceifada a troco de poder.

Entre as paixões do alfa estavam o sexo, as tabernas — muito bem abastecidas de bebida — e arco e flecha. Não necessariamente nessa ordem. Era o desgosto do rei e não se importava com isso. Por toda a sua vida havia tomado como missão particular atormentar a vida do pai, especialmente após o nascimento do irmão mais novo.

Odiava seguir regras por natureza e o rei Choi era o carrasco perfeito. Acreditava que até suas regras possuíam regras próprias e viver sob uma caixa parecia ofensivo para o espírito livre do alfa.

A antítese perfeita de San era Hongjoong, o mais jovem dos Choi. Quieto e obediente, se lhe dissessem que o céu era cor-de-rosa, muito provavelmente o ômega concordaria. O menor não era dado à discussões, muito embora tivesse herdado o espírito aventureiro do mais velho. Debaixo da postura submissa, o alfa sabia que Hongjoong sonhava em conhecer o mundo e as histórias que devorava nos livros; era exatamente por isso que lutava para proteger a inocência do garoto. Nunca se perdoaria se as maldades do pai recaíssem sobre ele.

— Desça daí, Hongjoong! Quer cair lá fora? — San se lançou para frente, agarrando a barra do casaco do mais novo e puxando de volta para o banco.

Hongjoong, que estava de joelhos sobre o estofado e com metade do corpo para fora da janela da carruagem, olhou para o irmão com os olhos arregalados, atordoado pelo gesto repentino. Nas mãos havia um punhado de folhas alaranjadas que tinha arrancado da árvore que tocava antes de ser trazido de volta.

— Me desculpe… — Seus olhos ainda demonstravam um certo pavor e os lábios formavam um bico de quem estava prestes a chorar.

Hongjoong se assustava fácil e San sabia disso, mas do jeito que se dependurava na janela era bem provável que com qualquer sacolejo da carruagem acabasse escorregando para fora.

— Você precisa ser mais cuidadoso, Hongjoong. Vai acabar se machucando e sabe que é ainda mais sensível por ser um lúpus.

Se havia algo no mundo pelo qual San daria sua própria vida, era o irmão. Era uma criança desapegada e de poucos amigos quando Hongjoong nasceu, mas quando viu aquela criaturinha pequena e doce, soube que o protegeria até o fim, mesmo que fosse apenas cinco anos mais velho.

Foundations of Decay [woosan]Onde histórias criam vida. Descubra agora