[01] O início

14 1 2
                                    

. • .

Exatamente às dez horas, eu saia do carro em frente a casa dele. Era de fato muito bonita, e eu não esperaria menos, depois de ver como ele se vestia e se comportava. Era um homem de decisões e gostos fortes, gostava de coisas clássicas mas não de forma mesquinha. Por incrível que pareça uma das coisas que mais o deixava atraente eram suas opiniões rebeldes e articuladas.

Ele me recebeu a porta, vestido não tão formalmente, o que fez meu vestido de cetim vermelho parecer exagerado pra ocasião, sem falar aqueles salto brilhante - onde estava com a cabeça? Sua educação e delicadeza eram admiráveis, assim como seus olhos tão profundos e marcantes, de um castanho escuro que mais parecia preto à luz da noite.

Ao começar a conversar com ele, a um mês atrás, pelo Instagram, não imaginava no que estava me metendo. Pensei ser apenas mais um homem, com gostos em comum aos meus. Me surpreendi ao ver sua popularidade entre as mulheres, o que teria demais nesse homem pra ser tão cobiçado? Soube dele através de uma amiga, e não podia deixar de conferir quem seria esse tal Dionysius de quem tanto falavam.

Depois de duas semanas de conversa, fui começando a perceber que talvez ele realmente fosse impressionante, mas nada como um bom teste a moda antiga pra conhecer de verdade um homem. Um jantar.
Eu lhe propus a ideia mas pra minha surpresa quem se dispôs a servir o jantar foi o próprio, em sua casa. Ele aparentava ser um homem fino, então me vesti adequadamente.

Pode-se saber muitas coisas sobre alguém pela aparência de sua casa, e como boa observadora que sou, notei de primeira que tinham muito mais coisas que ele não havia me contado e que sinceramente me deixaram um pouco intrigada, como: o tanto de decorações aparentemente desconexas na sala de estar.

Ele me conduziu até a sala de jantar, era tudo realmente encantador, seu bom gosto era inegável. Mobília antiga, lustres com luzes neutras e agradáveis, uma linda cristaleira com louças pintadas ao canto da sala de jantar. E aquela mesa que tanto me chamou atenção, era lindíssima, com pés talhados em madeira e um conjunto de cadeiras com estofado vermelho.

O questionei se morava sozinho, e ele me respondeu que sim enquanto colocava o jantar a mesa. Eu não era uma árdua admiradora de arte, mas desde que cheguei por algum motivo não parava de olhar para aquela pintura do Anjo caído de Alexandre Cabanel na parede, sensação estranha de ter visto algo familiar naquilo, só não sabia o que.

Ao terminar de pôr a mesa, sentou-se à ponta da mesma me orientando a fazer igual. "Ah então era isso!" Pensei. Pude conhecer aquele olhar, seus olhos marcantes que tinha reparado de início, eram iguais aos da pintura. De forma fascinante era possível notar a mesma expressão de olhar em comum entre Lúcifer e ele. Senti-me entusiasmada sem querer, era de fato muito bonito, desde que cheguei não tinha o reparado de forma detalhada.

Sua pele era de um marrom límpido e belo, tinha cabelos ondulados e negros como os olhos, ombros largos e postura ereta, certamente uns 30 centímetros maior que eu. Lábios fartos que realmente pareciam tentadores, seu nariz era lindo, nunca fui de gostar de homens de narizes arrebitados.

-Fique à vontade. Espero que esteja do seu agrado - disse ele olhando para mim de forma amigável.

-Fico surpresa em ter lembrado que sou vegetariana, muito obrigado - retribui seu cortejo agradecendo-o ao tomar um pouco de vinho.

Após alguns minutos em silêncio, saboreando aquela refeição - que por sinal estava maravilhosa, ele cozinhava realmente muito bem -, quis dar uma descontração ao clima. Ele não parecia ser o tipo de homem carrancudo que não gosta de um sarcasmo.

-Vi que faz jus ao seu nome, este vinho é dos deuses, mas pelo seu olhar poderia facilmente confundi-lo com um demônio. Falei, direcionando meu olhar a pintura e depois ao rapaz, com um sorriso de canto.

-Ah sim, então além de exuberante você é engraçadinha? Ele entrou na onda.

-Obrigada, que grande elogio.

-O que te fez vir aqui hoje? Pensei que recusaria o convite de um homem sozinho, para jantar na casa dele.

-Eu até recusaria, mas você não é um tipo de homem que deva me preocupar, ou é, Sr. Dionysius?

-Jamais, a não ser que meu gosto por arte lhe assuste.

-Não, não, na verdade achei bastante agradável.

Nós conversamos mais um pouco sobre o assunto, mas depois de tantos goles de vinho, fui ficando sem filtros, e também sem sobriedade. Ele parecia um pouco mais resistente que eu, mas duvido que não estivesse se fazendo de durão.

-Você fica se fazendo de bonzinho mas tem uma puta cara de sádico sanguinário, - digo quase soluçando - não pense que me engana Dionysius.

-Se não soubesse que está ficando bêbada nos conversaríamos sobre, mas é melhor ir descansar, não quero que diga por aí que fui um mal caráter com você. Diz ele se levantando pra me ajudar.

Ao chegar a porta, ele me leva até o carro, e pede pro motorista me levar com cuidado. Me despeço e logo depois chego em casa, um caco. Mal tirei meu sapato, me joguei na cama, e depois lembro-me apenas de acordar no dia seguinte com muito calor.

Little KassieOnde histórias criam vida. Descubra agora