TERCEIRO

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Sentia ligeiras compressões na parte baixa do corpo. Ele piscou tentando enxergar melhor. Mas a luz era forte demais. Sua cabeça parecia estar prestes a explodir. Uma dor cortante e esmagadora, como se tivessem colocado seu cérebro em uma bomba e o êmbolo o comprensa-se a cada segundo que passava.

Ouviu guinchos e sussurros que nada significavam nas três línguas que conhecia. Estranhamente pareciam vozes diminutas e pueris.

Ergueu a cabeça e viu pequenas figuras arredondadas e cobertas de folhas saltaram do seu corpo e baterem retirada aos tropeços. Todas elas desapaceram nos galhos, folhas e raízes no chão. Parecia que voltara a ficar sozinho. Sua visão ainda estava estranha, embora as cores parecessem mais desbotadas e aguadas, percebeu.

Forcejou e conseguiu se pôr em pé. Sentiu dores nas pernas e quase caiu. Haviam marcas de garras que subiam até a raiz dos joelhos em linhas circulares. Negras e coaguladas. Suas calças estavam em frangalhos e ele lembrou do esforço que a mãe fizera.

Uma dor se abateu sobre seu peito, seus joelhos fraquejaram e os seus olhos se encheram de lágrimas. Augusto desejou que não estivesse sozinho, pois assim evitaria chorar pela mãe.

No mesmo instante sentiu uma comichão irritante brotar por detrás do crânio, era uma sensação difícil de ignorar. Algo o observava. Seu cérebro incitava-o a olhar para trás, a procurar algo. Ouviu movimentos atrás de si, nas árvores, sucumbiu ao sentimento de insegurança e olhou. Viu uma sombra correr de uma árvore para outra numa velocidade que o surpreendia.

— Quem está aí? — Questionou, mas depois se arrependeu.

O medo o envolveu como um lençol e ao mesmo tempo uma mordaça.

Ele engoliu em seco e tentou controlar o coração disparado no peito, que tambolirava vinte vezes mais alto que o normal. E depois, o silêncio. O silêncio ensurdecedor.

— Quem é você? — A voz feminina soou, mas Augusto não soube dizer de qual lado vinha, o que o fez rodar a procura da origem. 

— O que faz aqui? — A voz voltou a soar e ele percebeu que não vinha de lugar nenhum além da sua mente. Achou que falava de dentro de si, incutindo nela as palavras, o som delas.

Como ele sabia que era uma voz feminina? 

— Quem é você? — ele falou. A garganta doía muito — Mostre-se, sei que está escondida entre as árvores.

Ele esperou. Quando estava prestes decidir aceditar que tivera alucinado, das sombras brotou outro ser. Esse não o assustou, não como o outro, mas havia um certo receio.

— Meu nome é Ayala. Você consegue me ver?

Ver seria a palavra correcta para aquilo? Augusto pensou. Ver para ele implicava compreensão, distinção clara da realidade. Aquilo não parecia real. Sentiu o medo afligir-lhe o peito.

Ayala sumiu e voltou a aparecer, como se seu corpo fosse feito de luz.

Deixava um rastro delgado de fumaça azul e violeta por onde passava.

— Claro que consegue — afirmou. Sua voz, ou o que quer que fosse que soava na mente de Augusto parecia eufórica —, você comeu os cogumelos!

— O que você é? — Augusto desistiu de tentar entender e quis logo saber.

Ela sorriu. Era baixa e corpulenta, seu rosto redondo com feições salientes de modo que o sorriso fazia os cantos dos lábios afundarem nas bochechas. A pele era meio verde repolho. Augusto não sabia o porquê, mas estava começando a sentir-se melhor, como se Ayala exalasse algum tipo de analgésico.

Histórias Fantásticas de Uma Terra LongínquaOnde histórias criam vida. Descubra agora