Dalila Foster
— São oito horas. Como é possível você ainda estar viva? — Jade agarra meu braço assim que eu passo pela porta dos fundos.
A Inquisição conseguiu modificar muitas regras, é verdade, mas as fofocas sempre continuam se espalhando rapidamente.
— Um príncipe em cima de um cavalo branco me salvou. — digo, piscando os olhos.
— Achava que você tinha bom gosto para homens, mas quem sou eu para julgar seu caso com São Jorge...
— Engraçadinha. — mostro a língua e ela revira os olhos.
Jade me entrega a sacola, e eu tento me vestir atrás da geladeira. Mal levanto os braços e exclamo de dor. A sensibilidade das minhas costas deve ter aumentado por causa do efeito das plantas, um bom sinal. Ainda assim, é doloroso.
Jade bufa e perde a paciência, me vira de lado, terminando de abotoar a peça.
— Um homem me ajudou. Deve ser alguém novo do comitê. — explico tudo o que aconteceu.
— Deve ser por causa dele, então. — ela diz, pensativa.
Olho para trás, tendo que inclinar bastante a cabeça. Jade, com sua altura, parecia uma jogadora de basquete, mas sua magreza destruía esse modelo. Dava para contar suas costelas de longe.
— O quê? — pergunto, guardando a sacolinha no armário que continha apenas algumas frutas e o vestido velho.
— Essa correria toda. Ele deve ser o substituto.
— Impossível. — declaro. — Vamos.
— Dalila. — ela chama, e eu paro no mesmo instante. Sua voz treme quando ela acrescenta. — Esteja preparada.
— Significa que... — começo, testando sua reação.
— Sim. Significa isso. — sua expressão é dolorosa, e nos abraçamos por um segundo.
— Vamos. — fungo, e puxo-a para a cozinha.
Antes mesmo de entrar no cômodo, ouvimos o barulho das panelas batendo, o fogo borbulhando, muita movimentação e, ao mesmo tempo, um silêncio absurdo. Havia mais de trinta mulheres reunidas em um espaço fechado, todas fazendo a mesma função, mas era proibido conversar. Havia muito ruído, mas ao mesmo tempo era extremamente silencioso.
A cada passo dentro da cozinha, sinto um calafrio só de lembrar do significado dessa fartura toda.
— Dalila. — todas me cumprimentam, e eu aceno de volta.
Imediatamente, me misturo no meio da zona e começo minhas tarefas. Encontro Manuela e tento transmitir força com o olhar. Ela respira fundo e pisca o olho, demonstrando estar calma. Provavelmente seríamos as escolhidas novamente, e a ansiedade preenche meus poros antecipadamente.
Um burburinho completamente inesperado surge sobre o novo homem que acabou de chegar. Muitas falavam sobre a sua beleza, outras criavam suposições sobre sua vinda.
— E você, o que acha sobre o novo integrante deles? — Manuela pergunta, parando ao meu lado.
Estamos organizando as bandejas para servi-los, colocando todos os itens de riqueza muito bem polidos dentro delas.
— Não tenho opinião sobre isso, Manu. — afirmo, limpando os talheres.
— Todas nós já sabemos que ele te salvou lá fora. Homem ruim ele não deve ser. — ela divaga, sonhadora.
Eu estava pensando nisso há poucos minutos. Até Jade contar que ele era o substituto. Meu cérebro queria me convencer do contrário, não conseguia aceitar que um homem ruim poderia tê-la salvado mais cedo sem motivo algum. Ou talvez sim...
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A Rebelde pós-pandemia
Historical FictionNuma época devastadora de pandemia global, a Igreja Inquisição emerge como uma poderosa religião que toma o controle do Brasil e de outras nações. Sob o disfarce de proteção e salvação, junto com a ciência, eles estabelecem uma nova ordem, impondo d...