Visita inesperada

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"Você é o meu garoto, Dean. Eu vejo em você muito de mim, mas uma versão muito melhor. E eu sempre vou me orgulhar de falar pra todo mundo que você é meu filho." As palavras de John no dia em que o jovem Dean de 22 anos se assumia bissexual nos fundos da garagem tremendo de medo e nervosismo, ecoavam em sua cabeça agora.

Mary, Sam e Bobby esperavam por ele na sala de estar na parte de baixo da casa, mas o primogênito não conseguia descer. Não tinha forças para encarar o que viria a seguir. O velório começaria em 1 hora e o enterro seria no fim da tarde. Mas Dean não queria ir. Não queria se despedir do pai, queria ter a imagem do pai que tinha no seu dia a dia, ajudando-o com o carro, jogando beisebol ou dividindo uma cerveja num final de domingo, e não um corpo vazio em uma caixa de madeira. Mas precisava ir, só que seu corpo não o obedecia.

John não era perfeito, às vezes chegava bêbado em casa e arrumava discussões atoa, mas era John. O cara que acordava de madrugada no fim de semana de folga para fazer um bolo, porque Mary disse na noite anterior que estava com vontade de comer um bolo de baunilha com café. Era imperfeito, mas era o cara que trabalhava algumas horas extras porque Sam queria fazer direito e a faculdade era muito cara. Tinha inúmeros defeitos, mas foi o primeiro a acreditar no seu sonho de montar sua própria oficina. Inclusive, quebrou o próprio carro para que Dean consertasse. Podia ter milhões de defeitos, mas era seu herói. E agora ele havia partido.

Arrumando o terno preto em seu corpo, o Winchester lutava contra sua vontade de se jogar naquela cama e deixar com que sua família fosse sozinha. Lutava mais ainda contra a vontade de fugir daquela cidade e se isolar até aquele buraco em seu peito se fechar.

— Dean? Vamos, querido. O rapaz da funerária ligou, já está tudo preparado, precisamos estar lá para receber os amigos, a família. – A voz de sua mãe soava do outro lado da porta.

— Eu... já vou. Já estou indo. – As palavras custam a sair.

— Não demora, já estamos indo para o carro de Bobby.

— Podem ir na frente, eu sigo vocês.

— Tem certeza?

— Sim. Estou cancelando alguns trabalhos que eu tinha para hoje, talvez eu demore um pouco.

— Não fique se martirizando, meu bem. Muito menos sozinho.

— Eu não estou. Já encontro vocês.

— Tá... Eu fiz café e tem torradas na mesa, come alguma coisa antes de ir.

— Okay.

Quando os passos da mulher são ouvidos e pela janela vê quando a mãe e o irmão entram no carro do amigo da família, Dean se sente mais à vontade para desabar, sentindo todo o peso saindo de si através das lágrimas pesadas. O trovão que ecoa lá fora naquele instante parece refletir seu estado de espírito. Lá fora uma chuva começava novamente, dentro de Dean ela nunca havia parado.

•••••

O pastor chamado pela família acabava sua oração e ia em direção a eles para prestar seus sentimentos e lhes desejar que John encontrasse a luz, assim como que Deus levasse conforto a eles. Dean não havia se aproximado do caixão ainda desde a hora que havia chego. Olhava de longe, rodeava aquela região, mas nunca se aproximava demais. Precisava ser forte e seria.

— Garoto, não precisa fingir que está tudo bem. – Bobby diz se aproximando, oferecendo a pequena garrafinha com uísque que carregava dentro da jaqueta de couro, mas Dean nega.

— Vai ficar tudo bem.

— Sim, mas pra isso você precisa deixar tudo o que tá preso aí dentro sair também.

— Tá tudo bem, Bobby.

— Moleque, seu pai era seu companheiro de tudo. Onde ele estava, o pequeno Dean estava atrás com o olhar curioso. Eu conheço todos vocês mais do que eu conheço a mim, e sei que você está completamente quebrado. Eu já estive no seu lugar quando minha mãe morreu, e por experiência eu digo, não adianta ficar fingindo que nada aconteceu, quando o peso ficar pesado demais pra carregar e a merda estourar você vai ver como seria mais leve se você tivesse sido honesto consigo mesmo. – Fecha a garrafinha e guarda novamente. — Todo mundo sofre pela perda de quem ama, Dean, isso não te faz fraco. Te faz humano. E você não teve culpa nenhuma. Não tinha como evitar, foi um acidente. – Toca no ombro de Dean e sai, encontrando com outro amigo da família, Ruffus, no caminho.

Dean não sabia explicar, mas era como se algo dentro dele dissesse que era mais do que um simples acidente. Não fazia sentido se pensasse racionalmente, mas era uma pulguinha atrás de sua orelha que ficava insistindo nisso em sua cabeça.
Isso acontecia com frequência, como se sentisse que algumas coisas em dia vida não encaixassem, não dá forma que eram. Era estranho, mas era um pensamento persistente. E se aprofundou quando aquele homem estranho de terno escuro se aproximou do caixão do pai. Nunca havia o visto, e alguma coisa dentro dele não gostava de vê-lo ali.

— Boa tarde. – Disse se aproximando do estranho, chamando sua atenção.

— Olá. – O estranho sorri estranho. — Meus sentimentos rapaz.

— Obrigado, mas quem é você?

— Eu fui companheiro de trabalho do seu pai faz um tempo. Pobre, John, tão jovem... tanta coisa pra viver.

— Sim. Mas qual seu nome?

— Por que isso é importante? – O homem devolve, ajeitando o terno preto que usava. Tinha um par de olhos dourados quase amarelos que arrepiavam.

— Só curiosidade.

— Azazel. – Sorri mais uma vez. — Mais uma vez, meus sentimentos, rapaz. – Finaliza e se afasta, se aproximando de Mary e Bobby para prestar suas condolências.

Estranho. Mas John tinha muitos amigos, então não poderia julgar assim.

Com o passar da tarde muitas pessoas chegavam para cumprimenta-los e deixar uma última homenagem ao mais velho dos Winchesters, e quando chegou a hora de fechar o caixão, Dean se afastou mais uma vez. Não conseguiria ver aquela cena. O mesmo foi quando desceram o caixão no buraco aberto no cemitério, não sabia nem como conseguia ouvir os discursos das pessoas sobre ele sem desabar ali mesmo.
Quando as pessoas começaram a se dispersar, foi quando o loiro conseguiu encarar pela primeira vez o túmulo do pai.

— Por que você aceitou aquele trabalho, pai? Por que? Droga! Não era pra ser assim, não era. – Fecha os olhos com força para não deixar nenhuma lágrima cair. — E agora? Como vai ser daqui pra frente sem você?

— Não foi um acidente. – Uma voz estranhamente conhecida se faz presente e Dean quase pula com o susto. Era o mesmo homem estranho do velório.

— O que?

— Eu sei que você está sentindo isso aí dentro, e você está certo. Não foi um acidente. Foi um demônio. Ele acabou com a vida do seu pai e vai fazer o mesmo com a sua mãe se você não se vingar.

— Do que você tá falando? Para com essa loucura! Demônios? Isso não existe.

— Você sabe que não foi um acidente. Ouça seu coração. – É tudo o que o estranho diz antes de se afastar e simplesmente sumir.

•••••

Notas da autora: eu sei, eu sei que eu sumi por muito tempo e trouxe um capítulo pequeno, mas minha vida anda uma loucura. Acreditem!

Mas enfim, estou de férias e vou continuar ela e tentar terminar antes de voltar ao trabalho.

Teorias?

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2023 ⏰

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