AVISO DE CONTEÚDO: ESTE LIVRO POSSUI DESCRIÇÕES QUE PODEM DESENCADEAR GATILHOS.
A morte que nos uniu.
De Heartbroken.
Nova Iorque - 28 de novembro de 2020.
Ainda não sei como me convenceu a sair à 01:50 da manhã, em uma das noites mais frias do ano, só para ver o papai Noel gigante que haviam montado no Central Park em comemoração ao natal.
De certa forma, sair de casa foi mais fácil do que deixar o casulo que fiz com as muitas cobertas que achei guardadas no armário. Carl e Hanna estão viajando novamente para Atlanta a negócios e não quiseram que eu fosse junto devido a motivos óbvios, o que convenhamos, não é nenhuma novidade. Pelo menos não desde que minha mãe descobriu o serviço de babás em período integral para recém nascidos.
Bizarro, eu sei.
Talvez em alguma outra dimensão alternativa eles tenham sido bons pais, os quais levam o filho ao parquinho do bairro e brincam com ele no escorrega ao invés de enviá-lo à Disney com a babá que contrataram há apenas duas semanas.
Não os culpo por serem assim, já que fui eu quem estragou o futuro dos alunos mais brilhantes da turma de economia de Stanford em 2001. E sinceramente? Se a máquina do tempo realmente existisse e fosse possível voltar ao passado, tenho certeza de que eles se certificariam de ter usado camisinha naquela noite.
O baile de formatura deu a eles muito mais do que enxaqueca por terem exagerado no álcool.
Por mais que sejam os fornecedores do meu DNA, nunca falei muito deles a você. Sei que, por mais que eles sejam péssimos pais, eu ainda os tenho. Quando me contou a história da sua infância, bom, vi que as piores coisas que enfrentei não se comparam às suas batalhas, mesmo que você não diminua as minhas.
Sempre amei isso em você.
Na verdade, amo.
Confirmo isso sempre que te vejo, como quando as portas do elevador se abriram e, mesmo sendo recepcionado por uma brisa congelante, sorri ao ver você abraçado com as duas cachorrinhas da senhora que mora no andar de cima, a qual insiste em deixar a porta aberta para que as suas duas garotinhas pudessem esticar as pernas pelo prédio ao invés de levá-las para passear.
Se me pedissem para descrever como é estar perto de você, com certeza diria que é como um grande buraco negro que me capturou com sua imponente gravidade. Mas não do tipo que engole estrelas e planetas.
Quanto mais me aproximo e descubro coisas novas, mais forte a sua influência fica sobre mim, até o ponto onde não haverá mais volta.
Sem possibilidade de retorno.
Aceitando o destino ao qual me foi incumbido.
E isso está bom para mim. Não vejo nada melhor do que me perder em você.
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A neve caía sem intensidade e de forma descompassada quando chegamos ao banco de madeira gasto que fica em frente a grande estrutura avermelhada que iluminava a noite fria e movimentada de novembro. Muitas pessoas caminhavam de um lado para o outro, apesar do horário, sem ter ideia de onde ir ou como chegar. Muito provavelmente são visitantes, perdidos em meio ao fuso horário que não os deixa descansar em suas camas quentinhas, que atormenta seus pensamentos com as mais intrigantes questões sobre a vida e o universo.
Muitos deles com sonhos, metas, paixões. É provável que metade das pessoas que estão aqui formarão uma família em alguns anos, irão ver seus filhos crescerem e terem seus próprios bebês. O corpo irá se desgastar com o tempo, corrompendo e inviabilizando a forma física que habita este plano.
As feições perderão seus traços marcantes, os cabelos se tornarão tão brancos quanto a neve. A energia que os mantém vivos os deixará em algum momento, transportando o seu ser para um novo horizonte cheio de luz enquanto o meio físico irá putrificar e seus entes queridos chorarão sobre ele.
O modo como a morte age é, de certa forma, como pintar um quadro dentro de um ônibus em movimento, o qual passará pela rua mais esburacada do mundo. Não há chance de prever o caminho que o pincel tomará na tela, porém, você sabe que ele está lá, colorindo o tecido branco com retas e curvas, subidas e descidas. E quando o artista finalmente decide que tudo está em seu devido lugar, bom, creio que já sabemos a resposta.
Só queria entender o motivo da nossa pintura estar sendo finalizada tão rapidamente, sem ter uma grandes misturas de cores vivas e radiantes. Sem formas geométricas instigantes e complexas.
Ninguém que tenha prestado atenção em nós, abraçados no banco gasto e desconfortável, imaginaria que somos como vagalumes que estão perdendo o brilho ao passar das noites.
Até finalmente apagar e se perder na escuridão.
Heartbroken - Te vejo no amanhã.
I saw you in my dreams again.
It felt so real.
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A MORTE QUE NOS UNIU
RomanceMorte. Para muitos ela é o fim. A ideia de deixar quem amamos para trás sempre é difícil. Sem lugar ou hora, ninguém nunca sabe quando chegará o momento de receber o tão temido vislumbre da vida, o toque tão familiar de quem nos observa desde o nas...