lenço dourado

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Era verão quando tudo começou, o sol raiava no céu e as folhas das arvores esvoaçavam ao vento como longos fios de cabelos. Cabelos cacheados, formando ondas como as da praia quando as águas cristalinas batiam na areia e a deixava marrom, assim como os fios de seu cabelo castanho ou a terra seca que solava vossos pés. A grama verde crescia abundantemente e assemelhava-se ao seus vivos e radiantes olhos de esmeralda. Era verão quando seu sorriso se sobressaia até sobre a estrela que iluminava essa estação. O canto dos pássaros não se igualava ao som da sua voz, recitando palavras que mais pareciam uma canção.

Foi em uma tarde ensolarada que Tomlinson conheceu o belo garoto de cachos de chocolate. Naquele dia, ele não imaginava que o lago onde ninguém costumava ir, teria uma ilustre presença. Os resquícios de sol banhava as águas cristalinas e as nunces dos céu refletiam sobre o corpo exposto do rapaz que nadava tranquilamente naquele rio.

Louis aproximou-se, suas botas gastas pisoteando as folhas secas no caminho. Havia pássaros no local, sobrevoando o lago e agraciando os presentes com seus cantos serenos. Tomlinson sorriu, apesar de quente, o verão trazia consigo a energia que o inverno sugava, e entre as reclamações sobre o calor infernal, havia a vontade de levantar-se da cama e exercer as tarefas do dia, havia cores no mundo e as horas não eram tão melancólicas.

Em uma distância boa o suficiente do lago, Louis livrou-se de seus botas, puxou a barra de seus calças e sentou-se na beira do rio. Sua presença ainda não havia sido notada, o jovem desconhecido havia mergulhado na água e apenas sua sombra era visível externamente.

Tomlinson inspirou o ar puro e apoiou-se em suas mãos, inclinando o corpo para trás e fechando os olhos enquanto deixava a brisa fresca da tarde beijar sua pele e balançar seus cabelos ao vento.

–Oh meu Deus! – ouviu abruptamente, abrindo seus olhos e deparando-se com a adorável imagem do rapaz com as bochechas infladas e cachos grudando por todo seu rosto. –Você quer me matar de susto?! – acusou, e Tomlinson levantou os braços em defensa.

–Definitivamente não é minha intenção. – sorriu involuntariamente. –Mas poderia ser a sua, você também me assustou, sabia? – arqueou uma sobrancelha.

–Não seja dramático. – expôs um sorriso também, com belas covinhas em suas bochechas coradas.

Louis amava o verão, pois foi em uma tarde de verão que um belo rapaz dentro do lago sorriu para ele. Louis amava o verão, pois o sol contrastava com a pele pálida de um jovem e destacava o brilho de seus olhos. Louis amava o verão, pois o calor os fazia nadar todos os dias no lago. Louis amava o verão, pois no verão floresce as coisas mais lindas da natureza, e naquele dia, o verão floresceu uma bela amizade.

Harry Styles era seu nome, o nome do belo rapaz que fazia a mente de Louis Tomlinson entrar em confusão.

Harry carregava consigo o brilho do verão, ofuscando o sol ao sorrir, e a leveza do outono, quando pensava estar sozinho e dançava no campo aberto, cantando com os passaros e em sintonia com o vento.

Ah, o outono...

Nessa estação, as folhas não eram as únicas que mudavam de cor, imperceptivelmente, a pele pálida de Styles ficava cada vez mais amarela. E infelizmente, as folhas também não eram as únicas a cair.

E não era apenas as estações que mudavam. Lamentavelmente, um proibido sentimento nascia no peito desses jovens rapazes, homens que mal haviam saído da adolescência e já caiam no mal da vida adulta: a malícia. Não no sentido carnal, a malícia onde já não há mais a inocência de achar que tudo é possível. E infelizmente, em um século onde dois homens apaixonados são apenas "bons amigos", nunca haverá final feliz.

É a história de um amor impossível.

Louis não sabe se gosta muito do outono. O outono é gélido, a ventania as  vezes trás consigo notícias difíceis de suportar, e o beijo que o vento dá no verão, se torna um belo tapa na cara, forçando-o a aceitar o inevitável.

Entre Louis e Harry nunca houve nada além de mãos se tocando, ou um amável beijo na testa. Quando estavam próximos, nunca parecia ser o suficiente, seus corpos gritavam um pelo outro, almejavam sempre estarem mais juntos, até do que seria considerado possível. Mas até mesmo o possível, era impossível.

Sobretudo, eles lidaram bem, a amizade era tudo o que eles tinham, e isso se tornou o suficiente. Porque tudo o que eles precisavam era um ao outro.

Os dias chuvosos do outono funcionavam como uma prévia para o inverno. O dias tristes de Louis funcionava como uma prévia para o terríveis.

Louis nunca gostou do inverno. O inverno é frio e melancólico, o inverno trás consigo a áurea da tristeza, o inverno é preguiçoso e a única vontade é de ficar na cama. Ou, para alguns, levantar da cama.

Era inverno quando Tomlinson recebeu a notícia de que Harry havia adoecido. Horas depois, ele desejou que não tivessem sido tão amenos ao avisá-lo com tanta delicadeza, ele desejou que houvessem dito a realidade de cara.

Para uma doença, há cura.
Mas para aquele que se encontra em seu leito de morte, apenas um milagre poderá o salvar.

Era inverno e chovia copiosamente. Harry estava lá, deitado em sua cama, magro, pálido e com apenas resquícios de vida. Uma toalha ensopada de água gelada estava em sua testa e seu corpo tremia involuntariamente. Seus lábios, que um dia já foram naturalmente rosados, encontravam-se opacos, secos e sem cor. O sentimento excruciante tomou conta de Tomlinson ao avistar os olhos pelo qual ele se apaixonou, eles estavam lá, sem qualquer sinal de brilho e totalmente apagados, não havia mais o verde radiante que refletia a luz do sol, apenas um verde opaco e sem luz, totalmente mortos.

Mas ali, naquela lamentável situação, aqueles mesmos olhos tristes tentaram sorrir ao ver o seu amor adentrar o quarto. Infelizmente, seu sorriso não chegou aos olhos, e deles, apenas lágrimas eram derramadas.

–Você está aqui. – sussurrou, em um fio de voz.

Tomlinson sentou-se ao seu lado na cama e sorriu em meio às lágrimas, levando sua mão lentamente até o rosto de seu amado e afastando alguns fios de cabelo.

–Eu sempre estou. – Susurrou, e tentou controlar as lágrimas.

–Sempre? Para sempre?

–Sempre. Para sempre.

–Eu te amo.

Em um último suspiro, Harry estendeu o lenço dourado que segurava e o entregou a Tomlinson, uma ultoma lembrança de uma história emocionante.

Louis odeia inverno, pois foi em uma noite de inverno que ele perdeu o belo rapaz que tinha seu coração. Louis odeia o inverno, pois o tempo nublado o faz lembrar dos olhos opacos do seu amado do dia de sua partida. Louis odeia o inverno, pois a chuva o faz lembrar das lágrimas que derramou no corpo inerte de sua paixão. Louis odeia o inverno, pois o inverno tem o poder de destruir o que demorou a ser construído.

Foi em um inverno que Harry morreu.
A chuva batia contra a janela e as fortes rajadas de vento eram presentes. Harry se foi em um inverno, e tudo o que deixou para trás foi um rapaz de coração partido e um lenço dourado.

A primavera floresceu as flores mais belas, as plantas mais lindas. Trouxe vida e prévia da felicidade do verão. Para Tomlinson, infelizmente, nenhuma alegria floresceu em seu coração. A melancolia do inverno ainda habitava em seu peito, e sempre que ele chorava, com o lenço dourado suas lágrimas enxugava.

Lenço Dourado |l.s|Onde histórias criam vida. Descubra agora