diário de um embriagado

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Teon

Meu pássaro tem turbulências?
Desculpe terminar com perguntas
Elas vão aplacar o que existe de intrigante
No meu quarto de defunta
Elas vão me levar incompleta
E quem vier pegar meu corpo
Mexer nas minhas coisas
Vai me olhar me vestindo de penas
Sem nunca pensar em me dar asas.

Eles não pensarão no ar rarefeito
Que asfixiava meus dentes estreitos
Nas noites em que eu estava à altura
De fingir um sorriso
Capaz de cantar com cuidado
De não sorrir com soluço
Calculando minhas notas de choro
Lendo as partituras
Em um piano de teclas metálicas
Que cortavam meus pulsos
Mas eu estava de costas
Exibindo minhas asas, Quem imaginária que um pássaro tem turbulências?

Você voaria com papel dessas cartas
E de outras que eu te mandei?
Eu não, as suas cartas não merecem
Aprendeu sobre amor e mérito com livros
Por que sempre gostou
De lidar com Quebrável?
Apto a rasgar com qualquer toque
Ficar marcado com qualquer risco
Sei que através de qualquer papel
Dava pra ler os outros,
você me lia de costas,
Lia só minha coluna
E eu nunca vi seu rosto
Através de nenhuma página
Por que não me olhou nos olhos?
Por que só via a si mesmo
Por que eu não te vi?
Porque preciso escurecer as retinas
Pra ouvir melhor as vozes altas
Precisava me concentrar na música
A música importa? Não sei
Os pássaros cantam na turbulência?

Quando parti decai silenciosa
Ironicamente, quieta
Escutando enfim as corujas e cordovias
Vindas de fora do meu quarto
Senti o alívio
Que aplaca minha última pergunta
Desculpe terminar com as perguntas
Mas os pássaros sentem saudade?
Dizer adeus parece cruel
Não bate uma angústia?

- muito vinho na cabeça

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