Luz.

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Xiao invejava os humanos. Aos seus olhos, poder não precisar - mesmo que por poucas horas - ter controle de seus próprios pensamentos era uma grande benção.

Como um Adeptus, ele não tinha a necessidade de sequer comer ou descansar, ou pelo menos, não como um humano comum e ordinário. Ele era um Yaksha, alguém feito para suportar a grande carga de ser um guerreiro, sem poder importar-se com coisas triviais que lhe tomariam o tempo. Ele geralmente não se curvava aos prazeres do mundo humano e mal recordava a última vez que parou para realmente dormir em todos os seus séculos de vida. Mas, naquela noite em especial...

A lua cheia e prateada brilhava sob o céu estrelado de Liyue, os lençóis postos sobre a cama de um pequeno quarto no Albergue Wangshu tinham um leve aroma de folhagem. Verr Goldet provavelmente pedia para que os empregados os deixassem secando perto de árvores. Deitado, com a barriga para cima... As tatuagens rúnicas em seu corpo todas expostas, sua pele, um tanto bronzeada pelo sol, repleta de cicatrizes... Suas roupas todas pelo chão. Havia sido uma noite e tanto.

Olhando para o lado, um ser angelical aos seus olhos de demônio tão atormentados pelos milênios de matança. Um anjo no qual ele não tinha o direito de sequer tocar, alguém que era puro demais para a sua presença conturbante. Aether, o viajante, o rapaz da pele alva e dos longos cabelos loiros, agora soltos e graciosamente recaindo sobre seu corpo. Dormindo em um tranquilo sono, o rosto angelical com uma expressão tranquila e segura, sem o mínimo de preocupação com sua segurança, afinal estava nos braços de seu guardião. A pele desnuda repleta de pequenas manchas avermelhadas e marcas de dentes. Xiao sentiu-se culpado por ser o autor de tais marcas, culpado por manchar seu doce anjo com o mais puro pecado. Porém, vendo por outro lado... Não era como se Aether fosse santo. Xiao poderia até mesmo dizer que era totalmente o contrário durante suas noites apaixonadas.

Ele escutava o som de sua respiração. Os pássaros noturnos em seu assovio pacífico, quase como uma canção de ninar. Aos poucos sentia os olhos pesando, uma sensação que há muito tempo não sentia, como se seus pensamentos se esvaissem, sua mente se tornasse limpa como há séculos não era. Sua consciência deixou seu corpo.

Uma floresta. Uma floresta repleta de árvores de folhagem dourada como o ouro, o som das cachoeiras e dos pássaros cantando como uma bela melodia para seus ouvidos. O ecoar de uma bela canção de flauta sendo levado junto com os ventos, uma brisa fresca e gentil. Uma paisagem bela, um lugar calmo onde se ele pudesse, passaria seu descanso eterno sem hesitar.

Ele deu alguns passos à frente, seguindo o doce som. Tudo parecia harmonioso, perfeito. Como se tudo estivesse em seu devido lugar.

Até que...

"Xiao!"

Ele escutou um grito.

"X-XIAO..!"

Outra vez. Mais desesperado que antes.

Aquela voz... Sem dúvidas.

Era ele.

Ele corria, desolado e desesperado para amparar seu amor. Amor... Que palavra estranha. Ele não se sentia digno dela.

Seus passos, cada vez mais largos. O que era aquela bela paisagem agora era um campo de árvores secas, ossos pelo chão, podridão... Um cheiro indescritivelmente terrível tomava conta do ar. Cheiro de sangue, cheiro de morte.

Por que ele se sentia tão impotente? O que era aquilo tudo..?

Ele correu, correu e correu. Depois, correu ainda mais um pouco. Até que finalmente, em um momento de desespero, o avistou.

Anjo. [xiaother]Onde histórias criam vida. Descubra agora