Sala 025

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[MAC's POV]

Stony Stream é o tipo de cidade que eles falam nos filmes. Cidades pequenas com pessoas interessantes de mais para passar batido. Pelo menos era isso que minha mãe falava quando eu era pequena. “Nossa vida será digna de contos de fadas, querida.” Bom, ainda bem que ela não está viva para ver a merda que minha vida se tornou.

Vejo o sol clarear pela janela do meu quarto. Eram por volta de quatro da manhã e eu não havia pregado os olhos desde a noite anterior. Meu pai tinha bebido - como sempre - e tentou descontar em mim todas suas frustações.
Depois de desseseis anos você se acostuma com esse tipo de coisa, eu já sabia que quando ele estava assim era melhor nem passar na sua frente, e quando não consigo evitar seus olhos raivosos e vermelhos de tanto chorar, eu me tranco no quarto. Talvez minha mãe ficaria orgulhosa de como eu lido com tudo. Às coisas podem não ser as melhores, mas ele ainda é meu pai, e eu sei que ele me ama, só não me ama o suficiente para esquecer dela toda vez que me olha.

Passo de fininho pelo corredor, tentando não acordar Alice, que nesse exato momento está capotada no sofá. Com certeza vai acordar com uma enxaqueca depois das cervejas que tomara na madrugada, dessas só restavam garrafas completamente vazias espalhadas pelo chão da sala. 

Quando ia em direção à porta, um coisa me chama atenção. Alice havia comprado cigarros e deixado-os em cima do mezanino em frente a TV. Tentei ignorar aquele quadrado impecavelmente limpo, diferente de todo o resto da casa, mas os monstrinhos dentro da minha cabeça falavam mais alto “Eu não teria dinheiro para comprar um desses.” 

— Foda-se. - sussurrei.

Tentei ir o mais silenciosa possível, medindo cada passo dado, e sempre alternando meu olhar entre minha madrasta e o belíssimo maço que me aguardava. Assim que toquei o plástico, me assustei com um barulho que vinha de fora. Barulho esse que quase despertou Alice. Fiquei imóvel com os cigarros em mãos, quase sedenta para colocar um entre meus lábios, enquanto rezada para qualquer coisa que le livrasse de uma bronca eminente. 

Quando voltei a olhar para minha madrasta, ela havia virado para o outro lado, seu rosto estava calmo e sereno. Soltei um suspiro aliviada e fui o mais rápido que conseguiria até a porta, dando de cara com um gatinho preto, motivo da minha quase parada cardíaca.

— Gato idiota. - disse levando um dos cigarros à boca e acendendo-o.

Não demorei muito para subir na bicicleta e ir aproveitar o resto da madrugada entregando papéis que ninguém mais ligava.  Mas eu precisa do emprego e minha rota me aguardava.

[KJ's POV]

— Bom dia, minha princesa! - acordo com a voz da minha mãe e seus lábios quentes tocando minha testa. — Não se esqueça que teremos uma festa beneficente hoje, então, não se atrase depois do hóquei com seus amigos - ela fala com desdém enquanto abria as cortinas. 

Minha mãe nunca gostou que eu praticasse hóquei. Sempre falava que era "masculino demais para uma garota como eu."
O que ela não entendia é que hóquei era como um escape para mim. Com tudo que minha mãe colocava nas minhas costas, eu merecia pelo menos uma coisa pra mim, só pra mim.

Assim que ela saiu do meu quarto fui até meu armário. Ela tinha deixado um vestido pendurado chamando a atenção de qualquer que abrisse as portas perfeitamente alinhadas. A veste de mangas bufantes e rosas com certeza chamaria atenção da multidão de doadores e filhinhos de papai na festa, nada parecido com algo que escolheria por conta própria, mas minha vontade não interessava. 

O tiro do cabide e coloco sob minha cama, evitando qualquer amassado que poderia causar procurando por roupas limpas e confortáveis para ir à escola.

Acabei optando por minha blusa clássica de Stony Stream junto a um jeans largo. Não estava com fome o suficiente para me sentar na mesa como a família feliz que meus pais queriam apresentar ao público, então apenas peguei uma maçã da tigela de frutas e dei aceno de bom dia ao meu pai. 

Em poucos minutos chego na escola e logo encontro uma menina de cabelos escuros e cacheados me esperando na porta. Tiffany Quilkin segurava seus livros olhando de um lado para outro, provavelmente tentando me encontrar.

— Tiff! - a chamei dando um aceno com um sorriso no rosto.

— Você disse sete e meia, KJ. 'Tô aqui a quinze minutos. - ela disse fingindo raiva, o que me fez soltar uma risada.

— O despertador não tocou, desculpe senhorita MIT. - falei em tom de seriedade caçoando de sua pose emburrada. — Agora, a gente pode ir? Porque se não, podemos esquecer a aula de ciências sociais hoje. - prossegui andando, a deixando para trás.

— KJ... Karina! - pude ver pelo canto de olho a corridinha que deu pra me alcançar. 

Nós seguimos até a sala 025. Estava vazia, o que me fez suspirar de alívio e seguir até um assento no meio, sendo acompanhada por Tiff que se sentou logo a frente.

A sala se enchia deixando apenas duas cadeiraz vazias.

— Mas você sabe que minha mãe não me deixa sair à noite, Mac. - a voz que eu reconhecia como da chinesa, Erin Tieng, chamou minha atenção. Não pela dona, mas sim pelo nome que saiu dela.

— A gente da um jeito Erin, tem janela no seu quarto? - a menina de cabelos curtos e roupas largas entrava pela porta acompanhada de Erin. Elas conversavam atentamente sem ligar para caso alguém escutasse.

Mackenzie Coyle é alguém que meus pais odiariam me ver por aí. Ela fuma, bebe e com certeza tem amigos que eu não gostaria de conhecer. Pelo visual, dá pra perceber que nem se esforçou para parecer arrumada, seus cabelos bagunçados denunciavam que passou tempo demais na cama e suas roupas amassadas mostravam que não às trocava a pelo menos duas noites. Não que ela precisasse, ela sempre chamava a atenção com seus olhos extremamente azuis e suas bochechas rosadas que complementam perfeitamente sua boca vermelha sem esforço, não parece ter passado nada, mas continua extremamente atraente. 

— Amiga, você está encarando. - ouvi o sussurro de Tiff vindo da frente.

Percebi que encarava Mac desde que entrou. Ela nem ligava, estava sentada na última fileira com seu fone no máximo, conseguia ouvir Mother do Danzig de onde eu estava. Parei de olhar, não sei o que estava fazendo encarando ela. Com certeza não fazia meu tipo. 

Primeiro capítulo!
Gostaram?

Faz sempo que não escrevo nenhuma fanfic, principalmente em português então relevem qualquer erro.
Obrigada pela paciência e te vejo em breve (eu espero) :)


𝐂𝐋𝐀𝐒𝐒𝐌𝐀𝐓𝐄𝐒 - 𝘬𝘢𝘫𝘦𝘮𝘢𝘤Onde histórias criam vida. Descubra agora