2 - Balas floresta adentro

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   Emmily conduzia seus amigos por entre a rua larga, a poucos centímetros da calçada, por onde era mais seguro trafegar, sem ser apanhado por algum motorista desavisado, ou até mesmo bêbado. Isso já quase aconteceu, uma certa vez, alguns meses atrás, durante uma tarde ensolarada de domingo. De tempos em tempos, ela olhava de esguelha para Billy, pedalando mais devagar, juntamente com Joe e Stella, que diminuíram o ritmo apenas para ficar de olho nele.

   Billy costumava reagir mal, quando alguma coisa o surpreendia...

   Todos sabiam do medo que tinha de máscaras e como se sentia mal, depois de um surto. Faziam o possível para protegê-lo dos outros garotos do colégio, no dia das bruxas. Dia que não suporta, por motivos óbvios. Alí, com as mãos apoiadas no guidão, Billy sentia suas últimas lágrimas correrem pelas bochechas rosadas, um tanto quanto culpado, por ter "arruinado" o plano.

   —Perdemos eles... – Lamentou.

   —Não esquenta com isso não Bill, – Stella disse, depois de alguns segundos em silêncio. – Vamos pegar eles depois.

   —Vamos voltar para casa! – Joe lhe deu um olhar severo. – Aquela esquisitona ainda pode estar andando por aí!

   —Mas o Billy está bem, foi só um susto! – Stella insistiu.

   —Billy está bem... Billy está bem... – Joe imitou a voz fina da garota. – Bem é o cacete! Você já prestou atenção na cara dele?

   —Parem com isso! – Emmily advertiu.

   Mas nenhum dos dois deu ouvidos.

    —Temos que voltar, – Joe continuou. – ele vai ter pesadelos com aquela coisa por semanas... Igual no halloween passado.

   —Por que não deixamos o Billy decidir? – Stella sugeriu, com superioridade. - Você não é a mãe dele.

   Joe bufou alto.

   —Mas nós dois dividimos o mesmo quarto gênia! Você não acorda com ele gritando de medo no meio da noite...

   —Parem com isso! – Emmily repetiu, um pouco mais alto. – Vamos sair da rua!

   —Mas por...

   —Sem mi-mi-mi... – ela interrompeu, algo que fazia com frequência, quando as discussões ficavam muito acaloradas.

   Joe e Stella tinham visões muito distintas de como deviam tratar os comportamentos incomuns que Billy tinha.

   Embora só quisessem o melhor para ele.

   —Estão deixando o Bill desconfortável. – Emmily estacionou a bicicleta, bem diante da calçada. Afoita, ela tirou a trava de segurança de dentro de uma bolsa, abaixou-se e tratou de prender o aro do pneu dianteiro à um poste de iluminação.

   Sem hesitar, os outros fizeram a mesma coisa, um pouco constrangidos, por estar brigando por algo tão bobo, enquanto Billy se sentia mal. Ele mantinha os olhos baixos, fitando o chão parcialmente limpo, já que estavam no centro da cidade, onde tudo parecia correr dentro da normalidade.

   Para uma cidade pequena...

   Pessoas vagavam pelo calçamento, acompanhados ou sozinhos. Um público relativamente numeroso, composto por homens atarracados falando ao telefone, mães carregando seus bebês no colo ou senhoras saindo da igreja, conversando sobre a infidelidade do Reverendo Gregor e o caso que vinha tendo com a melhor amiga de sua esposa.

   Um escândalo! Como elas mesmo diziam.

   Revirando os olhos, Emmily abriu a porta da lanchonete Carmelian Street, onde ela e seus amigos tinham o costume de se reunir, quando tinham dinheiro o bastante para dividir uma refeição. Ou mesmo conversar com a senhora Marie, que trabalhava como garçonete lá, todos os dias, sem exceção. O lugar era pequeno, porém estranhamente aconchegante. Com suas fileiras de poltronas rubras, mesas de madeira envernizadas, o piso cor creme, as paredes levemente engorduradas e o constante cheiro de café recém feito, que pairava por toda a parte, não importa a hora do dia em que se decidisse ir até lá.

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