Capítulo 1

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                        Vila Olímpica, Rio de Janeiro, 2016 - Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

Os esportes sempre estiveram na minha história como parte da minha alma. Cresci em um lar com três irmãos mais velhos ensandecidos por qualquer modalidade esportiva e como uma boa irmã caçula segui a paixão deles também. Transitei por tantas aulas de futebol, natação, judô, vôlei e sabe lá Deus mais quantos esportes, que quando aceitei que eu não tinha talento para nada além de assistir os esportes, escolhi, obviamente, a fisioterapia esportiva como minha área na faculdade. E eu era boa no que fazia, tão boa que na primeira oportunidade de ser estagiária no maior nos jogos olímpicos, eu consegui. Era fácil ser a única mulher em um meio incrivelmente masculino? Não. Eu ouvia todos os dias que a minha posição era definida pelo fato de eu ter um par de peitos? Sim, mas eu sabia que estava aqui pela minha capacidade, não importava se Otávio, o meu outro "colega" de estágio, insistisse que eu só conseguia as melhores avaliações porque eu era uma mulher trabalhando com o vôlei de quadra masculino.

Você conseguiu pelo seu esforço, Melina, repito para mim mesma, seu esforço, não porque você está apaixonada pelo capitão da seleção masculina de vôlei, não porque entre um treino ou outro, o Bruno encontra um tempo para te encontrar nos cantos vazios da Vila Olímpica".

Essa era a parte complicada da história. Eu era muito competente e havia chegado à Vila também muito focada, mas... eu estava insegura quando coloquei meus pés aqui. Otávio dividia o mesmo espaço que eu em 90% tempo e sempre usava as suas palavras ardilosas para me machucar e afetar o meu rendimento o tempo todo, então quando Bruno me consolou enquanto eu chorava por algum comentário público e idiota de Otávio, e se propôs a me ouvir mesmo sua vida estando de cabeça para baixo com os resultados da Seleção que ele coordenava, se tornou também muito difícil não me apaixonar por ele. Era um encontro "inesperado" no refeitório do Vila, alguma coisa que ele sempre tinha que fazer com os estagiários de fisioterapia, algumas mensagens perguntando se Otávio já havia me deixado em paz, algumas conversas jogadas fora, alguns abraços de consolos em dias difíceis... fui conhecendo o Bruno Rezende, não o Bruninho, não o homem das quadras. e me apaixonei verdadeiramente e intensamente por ele em apenas dias. Eu podia explicar muitas coisas, listar todos os ossos do corpo humano em cinco minutos, mas não conseguia colocar em palavras o sentimento latente que havia em mim todas as vezes que eu caía no braços do Bruno nos espaços curtos e noturnos da sua agenda. Era bem verdade que eu seria muito mais feliz se ele pudesse explicar com a verdade a razão dos seus sumiços, mas eu entendia completamente a razão da omissão do meu nome. Otávio já fazia da minha vida um inferno sem que sonhasse do meu caso com Bruno, então qual atrocidade ele seria capaz de fazer e dizer quando soubesse? Ele me protegia e protegia a sua imagem sempre que não explicava que estava tendo um caso com a estagiária da fisioterapia. Eu sabia disso e me consolava saber que depois das olimpíadas estaríamos livres. Seria fácil assumir algo com um jogador sendo uma fisioterapeuta esportiva? Não mesmo. Haveria várias versões de Otávio duvidando do meu potencial? Com certeza, mas eu sabia o que queria e principalmente o que sentia, por isso eu estava tão calma mesmo com os sumiços de Bruno. As fases eliminatórias seriam terríveis para o grupo e como capitão ele precisava liderar seu time de forma consciente e madura, por isso os afastamentos.

Termino de organizar as pastas com os exames dos jogadores e confiro de novo o meu celular. Algumas mensagens de Marcus, Murilo e Mateus, os meus irmãos — sim, meus pais eram criativos demais na hora de escolher nomes todos com a letra "M" —, no grupo que eles criaram em busca de alguma fofoca do vôlei, outras mensagens da minha mãe, algumas notificações de rede social... Nada de Bruno, de novo.

— Melina? Melina? MEL!

Pulo quando escuto o grito desnecessariamente alto de Otávio. Ele sabia que Bernardinho era pirado com organização, mas ainda assim insistia em falar alto demais depois do horário de recolhido, deixar suas coisas espalhadas pela sala de fisioterapia... Otávio era uma máquina de folga que eu tolerava apenas pelo meu bom salário.

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