Antes, quando eu era menor, costumava sonhar sempre com a mesma coisa: um menino da minha idade que vivia muitas aventuras surreais. Enquanto eu crescia, ele crescia junto comigo. Meu psicólogo me disse que esse garoto seria todo o meu cérebro concentrando toda a sua vasta imaginação em uma única história que juntaria tudo que eu mais gosto: monstros e aventuras mitológicas.
Bem, eu não consigo nem mencionar o quanto ele estava errado.
Mas, bom, vamos começar pelo o óbvio. Pelo começo.
Eu estava em mais um longo recreio de 20 minutos jogando cartas na antiquada biblioteca da minha escola. Não me leve a mal, eu gosto muito de ler, porém, não haviam livros legais e modernos como "Os Dois Morrem no Final" ou "Vermelho, Branco e Sangue Azul". Tudo estava mais voltado para a história da cidade e fitas cassetes empoeiradas.
— Uno! — gritei, ao jogar minha penúltima carta na pilha no centro. Um +4 seguido de uma carta de +2. — Eu venci. — dou um sorriso vitorioso.
— É, — diz, minha melhor amiga, Valéria, a contragosto. — eu percebi isso, Gabriela.
— Sério, acho que você realmente escondeu algumas cartas no bolso traseiro. — Nicolas comenta, juntando as suas cartas ao baralho e as embaralhando. — Não é possível que uma pessoa vença 3 vezes seguidas no Uno sem trapacear pelo menos uma vez. — diz, pronto para distribuir uma nova remessa de cartas para cada um quando o alarme tocou, avisando-nos que o intervalo havia acabado.
Me levanto do chão, passando a mão na minha farda, me limpando. Ambos, Nick e Sininho — apelido carinhoso que eu e Nicolas demos para Valéria — fizeram o mesmo que eu e todos nós saímos da biblioteca em direção à nossas respectivas salas, mas não sem antes nos despedirmos com um longo abraço.
— Sério, odeio a dona Débora por ter nos separado esse ano. Como é que eu vou sobreviver a três aulas seguidas da Naja sem vocês dois comigo? — digo, dando mais um abraço na Valéria. Ela retribui e dá um tapinha nas minhas costas.
— Não vai ser tão ruim assim. Depois das férias de Julho eles prometeram que irão nos transferir para o sétimo ano C. — ela dá um sorriso caloroso para mim, e, por um minuto, pensei que eu realmente iria conseguir sobreviver por mais dois meses sem eles dois comigo.
Claro, eu só pensei isso.
Foi somente eu terminar de me despedir dos meus amigos para ver a professora de matemática na porta, de braços cruzados, me observando com desprezo. Assim que eu a vi já sabia. Me virei e fui em direção a secretária, onde esperaria que alguém anotasse mais uma de várias notificações contra mim e depois me levasse de volta para assistir aula.
Eu não estava particularmente animada para receber outra bronca de como eu demorara e de que devia estar na sala de aula há 10 minutos atrás, por isso, andei a passos de tartaruga. Quando cheguei, a porta estava fechada. Notei algumas vozes lá dentro, algumas conhecidas e outras nem tanto, e, como a boa curiosa que sou, tentei ao máximo decifrar o que eles estavam falando.
Não entendi a maioria da conversação, todavia consegui identificar algumas palavras soltas: Novato; Transferido; Imediatamente.
— Um aluno novo...? — murmurei baixo colocando um ouvido na porta de madeira para tentar escutar mais alguma coisa. Em vão, eu diria, pois nesse exato momento a porta se abriu e eu quase caí de cara no chão se não fosse um garoto de casaco e capuz preto que agarrou a minha mão e me puxou de volta para a estabilidade.
— Obrigado... — sussurrei. Eu estava envergonhada por ter sido pega bisbilhotando, por isso, não pude olhar diretamente no rosto do garoto.
— Tranquilo. A gente se vê, bisbilhoteira. — senti o meu rosto corar, e, antes que pudesse lhe responder alguma coisa, ele havia desaparecido na curva do corredor.
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Meu Divino Amor
FanfictionGabriela sempre teve visões estranhas durante os seus sonhos. Ela sonhava com um garoto de cabelo ondulado escuro que possuía uma única flecha encantada e uma bicicleta voadora. Claro que ela pensou que isso era apenas mais uma obra de sua imaginaçã...