01 | O Convite.

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                                         MEGARA
                                               
                                                             
                                                                   17 de agosto
03:45

A noite estava gélida, e o vento cortante não apenas arrepiava minha pele, mas parecia atravessar minha alma. A lua, majestosa e hipnotizante, derramava sua luz prateada sobre o mar, mais brilhante do que de costume, como se buscasse consolar a imensidão violenta das ondas que quebravam com fúria na areia. Eu estava sentada ali, na praia deserta, com os pés afundados na areia fria, observando aquele espetáculo inquietante da natureza.

Sentada na areia fria, observei o mar agitado à minha frente, as ondas se quebrando com força, como se refletissem o tumulto dentro de mim. O vento carregava o cheiro salgado da água, misturando-se com o som constante das ondas, um som que parecia me envolver por completo, abafando tudo ao meu redor. Era ali, naquela solidão, que eu encontrava um tipo estranho de paz.

Mas não era uma paz real, apenas uma pausa. Um intervalo entre os momentos em que enfrento a realidade de ser quem sou. Sentia como se estivesse tentando deixar parte de mim ali, como se o vento pudesse levar meus pensamentos e o mar pudesse engolir minha dor. Era uma ilusão, eu sabia, mas ainda assim me agarrava a ela.

As estrelas pareciam infitinas, simplificando o céu escuro com  pequenos pontos de luz. Que apesar de sua beleza, apenas reforçavam o quão pequena e distante me sentia. O céu, vasto e inabalável, parecia me observar. A lua brilhante, cercada por estrelas que piscavam suavemente, me fazia pensar em como eu queria ser como elas: distante, intocável, mas ainda assim parte de algo maior. E, no entanto, ali estava eu, sozinha, me perguntando por que sempre me sentia assim, desconectada. O frio da noite não era nada comparado ao vazio dentro de mim, um vazio que nenhuma paisagem, por mais bonita, parecia capaz de preencher.

A imensidão ao meu redor parecia me isolar ainda mais, como se eu não pertencesse a este lugar. Estar ali, sozinha, já era parte da minha rotina, uma tentativa de escapar de quem sou e da dor que me acompanha como uma sombra.

Enquanto o som do mar ecoava, minha mente vagava. Por que sou assim? Por que há sempre essa distância, essa barreira invisível entre mim e o resto do mundo? Sentia-me uma estrangeira no meu próprio corpo, uma sombra na areia, tão efêmera quanto a espuma das ondas. Ali, sozinha, o frio da noite parecia mais caloroso do que minha própria existência.

Enquanto encarava o mar, uma onda mais forte avançou, alcançando meus pés descalços. A água gelada foi um choque, arrancando-me dos meus pensamentos. Quase sorri, quase. Era estranho como algo tão simples podia trazer uma sensação tão real, tão presente, diferente do vazio que parecia ser minha constante companhia.

Levantei-me, deixando que o vento bagunçasse meu cabelo. O céu continuava magnífico, as estrelas piscando como se tivessem algo a me dizer, como se o universo inteiro quisesse me lembrar de algo que eu teimava em esquecer. Caminhei pela areia úmida, sentindo a textura sob meus pés, cada passo uma tentativa de me conectar com o momento, com o agora.

O vento gelado fazia o vestido branco solto dançar ao redor do meu corpo, como se tentasse me envolver em um abraço que eu sabia que nunca teria. Meus longos cabelos pretos, lisos, eram jogados para trás, cobrindo meu rosto às vezes, como se quisessem esconder a expressão de quem já não sabe mais como lutar.

A dor começou a crescer em meu peito, uma pontada profunda que parecia vir do coração e se espalhar, sufocante, invadindo cada canto do meu corpo. Eu não conseguia mais segurá-la. A máscara que carreguei por tantos anos começou a rachar.

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⏰ Última atualização: 15 hours ago ⏰

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