Primavera de 1978
Quem visse de longe poderia dizer que os jovens daquela época eram os pioneiros na super popularização das HQ's e nas máquinas arcades; montados em suas bicicletas, apressados, a procura do primeiro fliperama disponível. Geralmente um, ao final da rua, onde todas as outras crianças se encontravam para passar o calor da primavera, entretidos em Pinball ou qualquer outra Jukebox que fizesse barulho.Os passos apressados pela rua de Denver sugerem a mesma ideia, crianças apressadas, animadas para se encontrar com seus amigos, batendo com seus tênis gastos pelo asfalto quente em bando, as vozes altas, porém, nenhuma risada.
Finney tentava puxar o ar pelo nariz e soltar pela boca, como havia aprendido, dessa forma seu diafragma não doeria e ele teria mais chance de correr por mais tempo, a testa pingava suor e se esforçava para manter o ritmo. Seu pescoço já queimava e o ar lhe fugia ora ou outra toda vez que virava uma esquina. Henry, Billy e Harry eram famosos pelas advertências, boletins vermelhos e pernas fortes, eles tentavam o alcançar a qualquer custo, gritando entre si atrás da garota magricela.
— Peguem-no!
O coração de Finney batia como um louco, seu all star azul acertando as pedrinhas pelo caminho, desesperado para sair daquela situação, mais um vez, fugindo dos garotos que tem feito da sua vida um inferno desde a abertura das aulas de inverno.
Desde o começo da estação não havia se arriscado nenhuma vez, não tinha ido na inauguração de Super Cobra no GrabnGo, não havia devolvido os livros da biblioteca no tempo que deveria, pedia a sua irmã para buscar as roupas da lavanderia, e o pior, estava adiando assistir o Massacre da Serra Elétrica, todos a escola falava sobre o filme. Havia criado um método de defesa, as palavras chaves eram: sangue, serra e Sally, - quem quer fosse a pobre coitada. Tinha que botar as mãos no ouvido e sair andando toda vez que passava por uma roda de adolescentes com suas vozes altas. Patético.
— Não adianta correr, Blake!
Ouviu a voz de um deles se aproximando como uma canhão, acabou virando o rosto por impulso, os três garotos o seguiam como cachorros raivosos, prontos para pegar o infeliz animal que lutava em vão, quem queria enganar? Logo estaria sendo estraçalhado pelos dentes pontiagudos Billy Bowers e sua matilha, só queria evitar outro olho roxo.
Com os pensamentos embaralhados, acabou perdendo o ritmo e se chocou miseravelmente contra um lixeira de latão, caindo feito bosta no meio da rua. Os meninos pararam assim que viram a cena, seguros de que o magricela não teria mais forças para correr depois daquela queda que fora como um presente, cruelmente hilária; o som das gargalhadas preenchiam o prólogo de sua queda, contrastando com suas mãos raladas e a enorme dor em seu joelho.
— Você é realmente patético, Finney Blake.
E existia pessoa melhor para saber disso além dele mesmo?
Com dificuldade, sentou-se sobre o chão e observou o amontoado de lixo ao seu redor, por sorte - ou não - havia caído de cara na calçada, então ao menos não fedia a ovo podre e derivados. Os garotos cessaram com as risadas, se aproximando do garoto de cabelos cachados e calças imundas, seu rosto estampava uma careta de dor.
— Achou que ia fugir da gente até quando?
— Agora você vai apanhar pra deixar de ser otário.
Finney esfregou as palmas das mãos raladas e suspirou, realmente não tinha mais para onde correr, havia feito de tudo, mas mesmo assim, Deus as vezes quer que você sofra. O mesmo Deus que Gwen rezava todas as noites sem resposta e que havia levado sua mãe. Nada muito heroico, na verdade.
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Patética 1978
RomanceDroga.. Finney se perguntava até onde ele tinha visto, o que Robin Arellano sabia? Imaginava que todas aquelas sensações era por ter uma amigo tão legal quanto Robin, do garoto valente em cima de sua bicicleta laranja, gostava da sua amizade e de s...