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Choros silenciosos, rosto lamentosos, desolados e  lastimosos e alguns cochichos "Pobre alma, tão jovem", "Ela tinha tudo para uma longa vida" ou "Que Deus esteja com ela agora"  era como se estivéssemos num funeral e morto no caso sou eu, a garot...

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Choros silenciosos, rosto lamentosos, desolados e  lastimosos e alguns cochichos "Pobre alma, tão jovem", "Ela tinha tudo para uma longa vida" ou "Que Deus esteja com ela agora"  era como se estivéssemos num funeral e morto no caso sou eu, a garota órfã deixada num convento criada por freiras e vivendo tranquilamente na inocência sobre as leia divinas, e agora sendo jogada no inferno, um destino cruel para uma jovem que acabará de completar dezoito anos.

Há pouco mais de cem anos atrás um vampiro chegou na nossa região na Transilvânia, devastando os vilarejos sedento por sangue, sugando até a morte qualquer mulher que surgisse em sua frente, ele era insano e sem escrúpulos, se estabeleceu num ponto e escravizou homens os obrigando a construir um belo castelo que se tornaria sua morada.

O vampiro governava a seu modo, as pessoas deviam seguir as regras impostas por ele, trabalhar e alimentá-lo sem questionar caso se opusesse isso levaria a uma  longa tortura que no fim levaria á morte.

Mas como tudo tem um limite, as pessoas encaram seu medo e se uniram, acenderam suas tochas e foram rumo ao castelo ainda não terminado. Os pobres aldeões ameaçaram incendiar tudo se ele não os deixasse em paz, o vampiro riu com escárnio como estivesse ouvido algo cômico, depois admitiu a coragem de todos e disse que estava tudo bem, que estavam livres e os deixariam em paz, se eles fizessem o mesmo.

As pessoas voltaram para vila e festejaram a noite toda a sua liberdade mas, todos sabemos que a felicidade é algo passageiro.

Vampiros de outra regiões começaram a invadir e destruir tudo, matavam sem distinção e apenas por diversão, sem a intervenção do antigo ditador as pessoas tinham que se virar sozinhas, sua aceitação em deixar todos em paz era apenas uma lição que ele queria aplicar, era para deixar claro que ele era o senhor de todos  e sem ele um destino cruel estava destinados aos pobres e fracos humanos.

Em um momento de desespero as pessoas voltaram ao castelo e imploraram por proteção, aquilo era muito satisfatório para o vampiro que no primeiro momento recusou o pedido.

As pessoas se ajoelharam e imploraram e então ele deu sua condição: "Vocês irão terminar de construir meu castelo, irão me servir no que eu desejar e me enviarão uma jovem entre 16 e 18 anos para meu castelo quando eu necessitar, está irá servir como meu alimento!".  Foi tudo que disse e saiu em batalha.

Assim foi feito, o pacto foi selado e a cada três meses – o máximo que as garotas sobrevivem – uma nova jovem é enviada. O vampiro conquistou terras e fez o mesmo acordo com várias vilas a assim montou seu pequeno império. Serviços em troca de uma falsa proteção, antes  sugados por um sádico racional do que por sádico irracional, foi o cresci ouvindo dos adultos a minha volta.

A preferência foi dada as jovens órfãs sem família e sem compromisso, jovens que não fariam falta a ninguém, e minha vez havia chegado. Uma mensagem havia aparecido na porta da casa do responsável por levar as garotas e eu fora premiada. Estava em pé na porta do convento esperando minha carruagem fúnebre, e não preciso esperar muito.

§§§

Apenas o trote perfeitamente sincronizado do cavalo era ouvido, as árvores bloqueavam a visão para qualquer que fosse a paisagem que ela ofuscava, do lado de fora o carroceiro que nunca soube  o nome até hoje,  não dava uma única palavra mesmo quando perguntava se iria demorar para chegar.

Já havia passado um dia todo e a noite logo cairia tinha receio por um possível ataque mas meu medo não me impediu de cair num sono profundo.

Estava num belo jardim, o mais lindo ao qual poderia me deparar em toda minha vida, via um grande castelo recém construído, o céu estava azul e límpido e eu vestia um longo e belo vestido vermelho realçando meu decote esvoaçante à  brisa. Tudo estava perfeito.

Eu andava e rodopiava entre   canteiros de rosas vermelhas esbanjando uma felicidade que jamais havia experimentado antes. Não me contenta apenas  admirar as belas flores,  eu paro para fazer um belo buquê e volto a dançar seguindo em frente sem me preocupar com nada.

O Sol de repente é coberto por nuvens negras e o tempo fica frio, as rosas murcham rapidamente e tudo em minha volta fica sem vida e seco, meu vestido se torna sangue puro que escorre pelo meu corpo agora nu, meu buquê de rosas é a única coisa que permanece  intacta naquele cenário obscuro. Tudo fica  escuro. Percebo ao longe olhos vermelhos e penetrantes  vindo em minha direção.

Uma silhueta  masculina vai se formando em minha frente, elegante e bem vestido em trajes negros numa postura impecável e intimidadora, eu permaneço parada sem mover, hipnotizada em seus olhos escarlates.

Logo o sinto as minhas costas,  suas mãos frias passeam pela minha cintura e seios, o corpo ainda nu e coberto de sangue,  vejo uma cova se formar a minha frente com um caixão aberto e um cadáver  seco de uma jovem garota que nunca havia visto antes lá dentro despida. Eu sabia  que ela havia sido sugada até a morte.

Ele pega o meu buquê e joga dentro do caixão que se fecha sozinho, e tudo que ouço é uma voz grave e calma sussurrando em meu ouvido: Você é a próxima!

E por fim suas presas cravadas em meu pescoço.

Acordo suada e com meus batimentos acelerados, sinto uma leve pontada e meu pescoço, sei que é apenas um reflexo involuntário por conta do meu recente sonho – pesadelo seria mais adequado, mas preciso por a mão para verificar se não havia sangue ou furos das presas vampirescas – solto um ar de alívio ao perceber que tudo realmente  não passou de um sonho – massageio o local e a dor psicológica se vai.

Dirijo meu olhar para a pequena janela da porta da carruagem e vejo uma colina e no topo desta o castelo.

O dia estava se despedindo, no horizonte o sol achapava, os últimos raios alaranjados incendiavam os campos – a vista dos campos  do alto daquela colina era formidável – eu apreciava cada detalhe daquela paisagem até a carruagem parar e me trazer de volta a minha infeliz realidade.

A porta da carruagem se abre e o meu cocheiro me estende a mão – um olhar de pena se direcionava a mim e tento não encará-lo muito – seguro em sua mão para me apoiar ao descer.

Assim que coloco meus pés no chão ouço o ranger das portas do castelo se abrirem, não tenho muito tempo para olhar o castelo do lado de fora  – posso dizer que era grande e tenebroso – o cocheiro me conduz para dentro – ele segue mudo e cabisbaixo.

Assim que passamos pela porta  damos poucos passos para dentro e ele estende o braço em minha frente num sinal de "PARE". Ficamos  em silêncio.

Me lembro de quatro dias atrás quando soube que seria a próxima a ser servida como sacrifício, eu fiquei em choque e não conseguia esboçar nenhuma reação ou assimilar direito o que estava havendo. Naquela noite a Irmã Maria a doce e gentil freira que cuidou de mim desde que cheguei aquele convento me deu três instruções:

1: Não olhe no rosto ou nos olhos daquela criatura, sempre se mantenha cabisbaixa;

2: Mantenha sua fé e sua mente firmes para que não caia nas tentações;

3: Não o questione, apenas obedeça, sabe-se lá o que ele pode fazer com você;

Eu as gravei bem e repetia mentalmente para mim naquele momento.

Passo quebram o silêncio e ecoam pelo castelo, eram calmos e sincronizados, o cocheiro começa a tremer e eu abaixo minha cabeça como ele fazia, o pavor que eu via naquele homem era contagioso e eu estava quase para entrar em desespero. Encaro meus sapatos velhos e surrados que usava a tempos e estava um pouco apertado tento puxar memórias tranquilizadoras, mas não funcionava então fechei fortes meus olhos e apelei para a velha oração – rezava muito alto em minha mente mas não conseguia abrir minha boca.

— Rezar não vai lhe salvar do seu destino  — o sussurro em meu ouvido me faz tremer.

 𝕯𝖊𝖘𝖊𝖏𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖛𝖆𝖒𝖕𝖎𝖗𝖔 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora