IV. Insatia sitim sanguinis et Tempestas

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"Abyssus abyssum invocat"

"O abismo invoca o abismo"

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Os céus se abriram com uma cortina de luz, despontando tons de rosa e amarelo misturados a um azul sereno, as árvores balançam suas folhas e a leve brisa faz os cabelos longos e loiros dançarem como pequenas ondas. O olor fresco do alvorecer se eleva conforme o sol surge no horizonte ioniano, os olhos cor de âmbar fitam por breves instantes a imensidão carmesim presente no olhar da semideusa, tão compenetrados em encará-la de volta que a ruiva se esquecera qual era o ritmo certo para respirar. Então, a sua respiração é devidamente presa com a aproximação da mulher que segurava seu rosto com afeto, os lábios se colaram aos seus e Ahri fechou as pálpebras, com o sentimento em seu coração aquecendo todo seu interior.

Aquilo não era novidade para a bruxa; beijou muitas bocas antes de se encontrar com a guardiã da floresta, em sua maioria durante suas caçadas, umas poucas vezes motivadas pela diversão. Certamente que não lhe era tão agradável um mero selinho tão casto, porém, se dar ao luxo de experimentar o sabor dos lábios de Ahri já lhe bastava até o presente momento. E não havia encantos, não havia magia sombria, nem maldições, nem intenções erradas, nada. Era apenas um beijo inocente e puro, tal qual os sentimentos que floresceram em ambas.

Evelynn se afastou primeiro, dando-se por satisfeita com aquele mísero toque, mas tão carregado de significados para as duas. As írises rubras encaram de perto a beleza da face de Ahri, tímida demais para erguer as pálpebras e dar de cara com a feição alegre da semideusa que lhe observava com tanta paixão e devoção. Soltou um risinho, alisando uma das bochechas quentes da Sabugueiro que se recusava a olhá-la.

— Sente-se tão constrangida assim, chacal? — interroga-lhe num timbre baixo, como se estivessem guardando um segredo. Seu rosto queima ainda mais de embaraço e na tentativa de mascarar este fato, a ruivinha se agarra com força à bruxa, escondendo-se no ombro desta última.

— Não achei que faria isso. — murmurou em retorno, se forçando a abrir os olhos — Por que você me beijou?

— Não está claro? — a loira sorri com a atitude envergonhada da jovem — Gosto de você, Ahri. Não compreendo tamanho espanto com minhas ações.

— Como posso saber que está sendo sincera? — interroga-lhe.

— Precisa de mais um beijo para comprovar? — incitou a semideusa, rindo ainda mais quando a garota se afastou do abraço com o rosto mais vermelho que seus olhos — Se necessitas tanto descobrir se estou a ser franca, podes usar tua magia outra vez. Não lhe negarei a verdade.

— Não o farei. — refuta, dando-se por convencida mais rápido do que Evelynn previu — Ouviste tudo o que disse no lago noutras noites, então já sabes o que sinto. E se minha magia a fez revelar que teu apreço por mim é verídico, não é preciso verificar uma vez mais.

— Então estais satisfeita em saber que me encantastes pra valer? — provoca-lhe apenas para observar as bochechas fofas ficando mais coradas.

— Vais ficar debochando de mim ou iremos tomar o desjejum juntas novamente, passarinha? — rebateu num chiste, causando comoção na bruxa.

— Está me apelidando agora? — ergueu uma sobrancelha, um pouco constrangida com aquela nomenclatura boba dada pela Sabugueiro.

— Chama-me de chacal o tempo todo mesmo eu sendo, na realidade, uma raposa. Então chamá-la-ei de passarinha daqui por diante. — riu a vulpina.

In Perpetuum「 ahrilynn 」Onde histórias criam vida. Descubra agora