Capítulo 1 - A Carta

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Estava eu deitada na areia da praia mais próxima, enquanto o meu irmão se aventurava pela floresta de arco e flecha ás costas.

Não havia outro lugar onde eu mais quisesse estar, nem o meu irmão, acho. Bem que precisávamos, de espairecer, estar fechada naquele maldito colégio onde o nosso pai nos pôs, não era coisa que desejasse a ninguém.

Como era fim-de-semana, todos os alunos vinham a casa para visitar os seus pais, mas, neste caso, o meu pai não era a pessoa com quem eu e Darther mais gostassemos de estar.

Após a suposta morte da minha mãe, o meu pai isolou-se e fechou-se durante muito tempo na sua torre, sem comer, sem dormir, sem nada, apenas ele entre quatro paredes.

Quando finalmente decidiu sair do seu refúgio, tornou-se frio e arrogante e decidiu voltar ao poder, o reino tornou-se um lugar solitário, já ninguém visitava a ilha de Cressilian e os habitantes viviam no medo e na tristeza.

Sinceramente, não sei, não sei mesmo qual foi a causa da morte da minha mãe, nunca ninguém me explicou, nem a mim nem ao Darther, bem essa história, pois quando tudo aconteceu, tínhamos apenas 4 anos, e até hoje, por mais que insistamos, ninguém nos responde, e levam as nossas questões como ofensas.

E foi então, depois disso tudo, que o meu pai, como não nos conseguia criar sem a minha mãe, contratou um ama e depois "livrou-se" de nós, para aquele colégio onde aprendemos a lutar e combater alguém.

O meu irmão tornou-se o melhor arqueiro de Cressilian, e eu, a melhor atacante juvenil. Além de conseguir perceber de imediato os pontos fracos das pessoas, e de conseguir pressentir onde é que elas vão primeiro atacar, sou também muito rápida e tenho muito bons reflexos, o meu irmão também, nada passa despercebido por ele, parece que ele sente o paradeiro do alvo dentro de si, que até lhe consegue acertar de costas viradas e olhos fechados.

Apesar de odiar o facto de o meu pai nos ter enfiado naquele lugar, onde a rivalidade reina, e o ambiente é de inveja e snobismo, gosto daquilo que faço lá, ajuda-me a descarregar tudo o que tenho dentro de mim, e isso alivia-me muito.

O meu pensamento interrompeu-se quando uns dos guardas do meu pai me chamou:

- O que é que quer? - disse.

- Está na hora de jantar, e seu pai já está à sua espera - respondeu-me o homem - Onde esta o menino Darther?

- Eu vou chamá-lo.

Ainda demorei um bocado a chegar à floresta, mas quanto mais tarde chegasse ao jantar melhor.

- Darther? Onde estás?

- Estou aqui, Fay! - respondeu ele, o meu irmão de trás de um rochedo, era o único que não me chamava Fayrith - O que foi?

- Está na hora de jantar e o guardas já estão à nossa espera - disse eu, por mais aborrecido que fosse.

- Ai, a sério ... Mas pronto, vamos lá - disse ele como se não tivesse outra opção.

Os guardas levaram-nos até ao castelo, e mandaram as criadas prepararem-nos a roupa para irmos jantar com o meu pai, como acontecia todos os fins-de-semana.

Depois de prontos, os guardas acomparam-nos até à sala de jantar.
Sentámo-nos na mesma mesa de sempre, longa e comprida.

O meu pai sentava-se numa ponta e eu e Darther na outra, entre nós, distavam dez passadas.
Ninguém dizia nada, eu ainda olhei para Darther, mas ele mantinha a cabeça baixada, tal como o meu pai.

Depois de acabarmos a refeição, retirámo-nos e foi cada um para os seus quartos. A caminho do meu quarto ainda tive tempo para dar um beijo de boa noite a Darther, mas mantêmo-nos ambos calados, sem dizer uma única palavra.

E isto tudo repetia-se, todos os fins-de-semana.

Quando cheguei perto da porta do meu quarto, decidi voltar para trás e ir dar uma volta pela casa, para espairecer.

O castelo tinha milhares de salas e quartos, mas havia um onde eu gostava sempre de ir, o quarto da minha mãe.
Eu era a única que lá entrava, sem ninguém saber.

O meu pai julga que aquele quarto está trancado à mais de 12 anos, após da morte de a minha mãe, mas engana-se. Eu consegui encontrar a chave nas coisas do meu pai quando era mais nova, mas depois, nunca mais entrei no quarto dele.

Tirei a chave do meu pescoço, anda sempre comigo, abri a porta, entrei e voltei a fechá-la.

Ao contrário do que as pessoas da casa podiam pensar, aquilo não estava cheio de pó ou teias de aranha, porque eu, preocupava-me em deixar o quarto da minha mãe sempre limpo, e comecei a tratar dele como se fosse um espaço meu, só meu, onde pudesse partilhar as memórias com a minha mãe, gostava de estar entre as coisas dela, era como se ela estivesse lá comigo.

Dirigi-me à prateleira de livros da minha mãe e tirei um livro, um qualquer. Um dia havia de os ler a todos, eram imensos, mas já tinha lido metade.
Deitei-me sobre a cama dela e abri o livro. O estranho é que havia algo no meio desse livro, algo como... Uma carta!

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