Michael
A dor de perder alguém não passa, apenas aprendemos a viver com ela. Foi triste a forma como William partiu, não conheceu a filha, estava com ódio dos meus pais, deve ter achado que o mundo era injusto com ele. Ele era tão jovem, foi muito precipitado nas suas decisões, contudo ele tinha razão sobre a gravidez da namorada. Na época, cheguei a concordar com os meus pais sobre a adoção, agora eu entendo o ponto de vista dele. Ele queria provar que podia cuidar da filha e da namorada. Parecia improvável, mas nunca chegamos de descobrir, talvez ele fosse nos surpreender se não tivesse partido. Tenho saudades dele todos os dias, ainda mais quando olho para Isabella.
Eu vejo William nela.
Isabella sabe sobre o pai biológico, sempre contei sobre William, acho justo ela pensar nele como seu pai, não como seu tio, coisa que meus pais queriam que eu fizesse. Porém, não pude dizer a verdade sobre sua mãe, menti que ela morreu porque seria duro saber que vendeu a própria filha por cinco milhões de dólares. William disse que ela era uma boa pessoa, mas ainda bem que não viu o lado podre dele. Não tivemos notícias daquela família, mas eu odeio aquela mulher pelo que fez com a própria filha, foi nojento. Espero não ter que conhecê-la.
Deixamos as malas no carro depois de sair do aeroporto, porque iremos para a casa dos meus pais. Fomos de férias para Londres para ficarmos um pouco afastados de Rebecca, nesse momento viemos pegar o resto das nossas coisas. Isabella está aliviada por irmos morar com os meus pais, ela não diz, mas eu a conheço.
Uso as chaves para entrar em casa e Rebecca é encontrada no sofá com um copo de whisky e os cabelos despenteados. Há vidros quebrados no chão também, o que presumo que deve ter sido para descontar sua raiva. Onde eu estava com a cabeça quando casei com ela?
Viro para a minha filha. — Meu amor, vai verificar se todas as suas coisas estão prontas lá em cima. Eu já vou.
— Sim, pai. — Ela corre até os degraus para me deixar sozinho com a minha esposa.
Cruzo os braços, furioso. — Não acredito que está bêbada a essa hora, Rebecca!
— O que queria que eu fizesse? Você vai me deixar. — Pega na garrafa de whisky e bebe.
— Esse casamento não tem mais solução. Principalmente porque você não suporta a minha filha.
— Ela nem é sua filha.
— Viu? Rebecca, nós não temos nada a ver um com o outro. Entendo que não goste de crianças, talvez o meu erro foi achar que iria gostar da Isabella, por isso insisti nisso.
— Eu nunca disse que não gostava de crianças, só da sua filha mesmo que se implica comigo. Quer dizer, sua sobrinha querida.
— Primeiro, Isabella é a minha filha. Não espero que entenda, mas pai é aquele que cria. Se você não quer a minha filha, também não terá a mim.
Ela levanta totalmente desequilibrada e enxuga as lágrimas. — Michael, por favor, não faça isso. Eu quero tentar de novo. Eu vou mudar.
— É um não. Você passou dos limites. Você bateu na minha filha e a deixou trancada no quarto o dia inteiro. — Dou um passo para trás.
— Você não sabe se ela é a vilã da história.
— Ela é uma criança. Tem treze anos apenas, Rebecca. Você tem quarenta e dois, onde está a sua maturidade? — controlo-me para não gritar. Já não sei quem essa mulher é, talvez nunca a tivesse conhecido de verdade.
— Vai para o inferno. — Ela joga a garrafa no chão, molhando e trazendo o cheiro de whisky. — Você e a sua filha.
Desisto de ter uma conversa decente com uma bêbada e vou para o meu quarto buscar as malas que pedi para as empregadas prepararem. Em seguida, vou buscar Isabella e saímos de casa, deixando Rebecca olhando para nós com ódio.
Vou me divorciar de Rebecca, depois de três anos de casados. Sei que é pouco, mas não é o meu primeiro divórcio. Depois que decidi cuidar da Isabella, em meus vinte e sete anos, conheci muita gente. Primeiro, foi uma mulher simpática, namoramos por um bom tempo, mas ela me traiu. E ela até gostava da minha filha, mas não deu certo, infidelidade é uma coisa que não consigo perdoar. Aos trinta e dois conheci outra mulher, mas com essa cheguei a casar porque achei que finalmente tinha encontrado a pessoa certa, mas depois mostrou quem realmente era, ela batia na minha filha, por isso tive que me livrar dela. Depois dei um tempo nessas coisas de relacionamentos, até conhecer Rebecca numa festa, casamos e percebi que ela parecia perfeita demais, e minha filha também começou a ficar estranha. Foi quando descobri que a maltratava e fazia chantagem. E agora tenho quarenta anos e estou prestes a me divorciar mais uma vez.
Não me arrependo das decisões que tomei, prefiro estar solteiro do que com mulheres maldosas, inconsequentes, imaturas e interesseiras.
Vamos para o carro, onde Marvin está à nossa espera. Coloco as malas para dentro e vou ter com a minha filha no banco de trás.
Isabella olha para mim. Ela é parecida com William, tem o nariz dele, o sorriso lindo dele, os cabelos dele, mas acho que seus olhos âmbar e lábios carnudos são da sua mãe.
— Pai, vai mesmo se separar? — pergunta, o meu anjo.
— Sim, meu neném, é o certo a fazer.
— Está triste?
— A vida é assim mesmo. Mas estou aliviado. — Seguro a sua mão. — Você está bem com isso?
— Não vou mentir, estou feliz por saber que ela não vai mais fazer parte das nossas vidas.
— Pois é. Nesse momento só precisamos de um e do outro.
— Você vai encontrar uma boa mulher, pai, eu sei. Não desista.
— Talvez.
O que preciso nesse momento é me focar em Isabella, no trabalho e no divórcio. Acho que meus relacionamentos sempre deram errado porque me precipito e forço as coisas. O amor é algo espontâneo, natural, se é, é, se não é, não é.
****
Chegamos na casa dos meus pais, onde somos sempre bem recebidos. Todos já sabem sobre o divórcio, anunciei isso quando estava em Londres.
— Minha pequena! — minha mãe abraça Isabella. Gostaria de saber como seria se Isabella tivesse nascido igual a mãe. Provavelmente, a mãe dela não a teria vendido e meus pais iam fingir que ela não existia. Seria muito triste. Ainda é triste.
— Tenho muitas novidades, avó. E trouxe presentes de Londres.
— Vamos abrir todos juntos depois do almoço em família. — Francine beija seu rosto. — Ela está cada vez mais grande.
— Vou fazer treze daqui a pouco. — Minha princesa sorri.
August, meu irmão mais velho e CEO da Empire of Diamonds, desce os degraus e sorri ao ver a sobrinha. Quando conheceu Isabella, não queria se afeiçoar, mas não conseguiu resistir. Ninguém conseguiu resistir, mas ainda me pergunto como seria se ela não tivesse nascido branca.
— Olha só quem está aqui!
— Oi, tio. — Isabella abraça o tio. — O senhor está mais bonito.
Ele ri. — Não finja que não vê os fios grisalhos na minha cabeça.
— Eu vejo. O senhor é um sonho para as mulheres de quarenta anos. Meu pai também. — pisca um olho para mim, fazendo-me rir.
— Obrigado, mas eu sou casado. — August vem me abraçar também. — Eu sinto muito.
— É a decisão certa. — Sorrio para ele. Até estou bem com isso, não devia ter me casado tão cedo. Logo que conheci Rebecca, ela já estava com um anel de noivado, foi um erro.
— E a minha tia? — Isabella pergunta.
— Está por aí. — August senta no sofá. Acho que faz algum tempo que deixou de estar apaixonado pela esposa, mas sinceramente, Cecil não se esforça em nada, nunca se esforçou. Eles moram há dois quarteirões, mas não duvido que durmam em quartos separados. Cecil nunca quis ter filhos, não tenta agradar August, eles nem parecem casados.
Jamais ia querer um casamento assim.
Meu pai sai do escritório com um sorriso ao olhar para todos nós. — A família está toda reunida. Sejam bem-vindos.
— Obrigado, pai. — Dou um abraço nele, depois Isabella vai até ele.
— Está tão grandinha.
— Eu sei. Já tenho um metro e sessenta. Sou gigante. — Ela sorri do jeito que adoro.
— Com certeza. Está mais alta que a sua avó. — Meu pai ri.
— Não sei vocês, mas estamos com muita fome. E ainda temos muitas coisas para contar, porquê não vamos almoçar?
— Eu concordo. — Isabella sai dos braços do avô. — Vou procurar a tia Cecil.
— Está bem, meu amor. — Francine diz.
Assim que Isabella sai da sala de estar, meu pai começa com o assunto que não quero tocar.
— Qual é o motivo do divórcio, filho? — vai direito ao assunto.
— Ela bateu na Isabella e a deixou trancada no quarto sem comer o dia todo quando eu viajei a trabalho, achando que estava tudo bem.
— Céus! — minha mãe senta ao lado de August. — Não acredito nisso.
— Eu não podia perdoar. Se aconteceu uma vez, vai acontecer de novo. Não confio mais nela.
— Eu entendo. — August olha para mim. — Acho que tomou a decisão certa.
— Obrigado.
— Iremos te apoiar em todas as decisões, Michael. — Meu pai fica na minha frente. — O que decidir está bom para nós.
— Obrigado.
Minha mãe vem me abraçar porque acha que estou devastado por dentro. Na verdade, não estou. Apenas estou triste por ter confiado e ter perdido o meu tempo com alguém que não valia a pena, e por achar que talvez relacionamentos não sejam uma coisa para mim.
— Então, não vamos tornar isso numa coisa triste. Vamos almoçar. — August levanta num movimento rápido.
— Vamos sim. — Digo ao me afastar da minha mãe.
E seguimos para a sala de jantar.
****
Na empresa, fico feliz por saber que tenho muito trabalho para poder distrair a minha cabeça. Assim que piso o chão da Empire of Diamonds minhas preocupações são do trabalho, e só saio se for um assunto familiar. Gosto de trabalhar aqui, sempre quis ser mineiro e agora tempos uma empresa de lapidação de diamantes que é a número um de Oregon. Algumas das pedras vão para a loja de jóias da minha mãe, mas temos muitos clientes. Lapidamos várias pedras, mas os diamantes são os que mais encontramos.
Dou um breve aceno para a recepcionista e caminho para chegar ao elevador, quando uma mulher passa por mim. Alguma coisa nela chama a minha atenção, não apenas a sua beleza, há algo mais. Não sei se é seu cabelo extremamente volumoso, sua pele acastanhada, seus olhos que ao longe parecem amarelos, simplesmente não sei explicar.
Observo ela sair e olha por cima do ombro, mas não olha que mim. Nunca a tinha visto aqui, porque tenho uma sensação estranha, como se a conhecesse. Não gosto de ignorar a minha intuição, embora o tenha feito muitas vezes quando casei com as pessoas erradas.
A mulher atravessa a estrada e entra no café que vende o meu preferido, como se não tivesse saído daqui.
Volto para a recepcionista que olha para mim como se eu tivesse batido com a cabeça. Deve visto que fiquei congelado ao notar aquela estranha, mas não me interessa se todos viram.
— Quem é aquela mulher? — sou direto.
— Ela tinha uma entrevista de emprego. Pelo menos é o que disse quando chegou.
Não digo mais nada e vou para o elevador tentar esquecer o assunto. É só mais alguém que quer trabalhar, nada mais. Não importa que me faça lembrar de alguma coisa, talvez seja... Não pode ser da faculdade, ela parece ser mais nova.
Esqueça isso, homem.
— Esqueça. — Digo para mim mesmo. Deve ser por isso que me relaciono com as pessoas erradas. Provavelmente só tenha sentido atração.
Vou para o piso do meu irmão, mas não encontro a secretária, então decido continuar, mas paro ao vê-lo abraçado a ela pela porta entreaberta. A mulher que ele disse que nunca tocaria. A mulher que os meus pais reprovariam, tão negra quanto a mãe da minha filha.
Desisto de falar com ele e volto para o elevador. Todos nós temos segredos, uns mais cabeludos que os outros, mas que serão descobertos algum dia.
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Céu de Diamantes [COMPLETO NA AMAZON]
RomanceMariza odeia a família Marshall mais que tudo no mundo. Tudo começou quando se envolveu com William Marshall, um romance intenso e proibido entre adolescentes que terminou numa gravidez indesejada. Após esse acontecimento, tudo passou para pio...