• Prólogo •

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Mia

8 anos atrás

Acordo me sentindo feliz, amanhã vai ser o aniversário da mamãe e eu e o papai sempre nos reunimos no dia anterior para planejar todas as surpresas, afinal ela adora surpresas de aniversário. E eu entendo ela não ser neurótica com a idade como a maioria das mulheres, minha mãe é linda, olhos azuis e cabelo loiro curtinho e o corpo e saúde bem cuidados. Isso não é para todas.

Tomo um banho e desço para o café da manhã, onde meus pais já estão sentados à mesa. Na semana de aniversário da mamãe ela dispensa a maioria dos funcionários pois gosta de ficar mais só nós 3, todo ano é assim. Sim, funcionários. Minha família é podre de rica.

- Bom dia gente - digo me sentando e já pegando um pão e colocando geleia de amora

- Bom dia amor - meus pais dizem

Olho para cima e percebo uma coisa estranha, minha mãe está com a feição meio pálida.

- O que foi mãe? Tudo bem? - pergunto preocupada

- Sua mãe está bem filha, só não dormiu bem essa noite, ela estava sentindo um sensação ruim. - meu pai diz segurando a mão da minha mãe forte

Um outro detalhe sobre minha mãe, ela sempre foi muito sensitiva, quando ela tem um pressentimento ruim geralmente ele se mostra válido. Então logo fico mais preocupada ainda. Olho ao redor na mesa e vejo que não tem Nutella, isso sempre alegra ela, na verdade isso sempre alegra qualquer um de nós.

- Hum... eu já sei um remédio para essa sua carinha baixo astral: NUTELLA! - sorrio e antes de ir correndo para a cozinha dou um abraço duplo nos meus pais e faço cosquinhas na minha mãe.

- Ai filha você leu minha mente amor, eu te amo mais que nutella - ela diz sorrindo

- Nós te amamos mais que nutella - meu pai diz

Sorrindo vou para a cozinha pegar o pote, eu tenho ideias fantásticas mesmo. De repente um barulho alto me faz tomar um susto, ouço vidros se quebrando, alguns gritos e logo depois o som de muitos tiros perfuram o ambiente. Dou um grito e me abaixo tremendo, até que percebo que o som estava vindo da sala de café da manhã. Pulo em pé com o coração disparado e corro.

Mas nada poderia me preparar para o que eu vi quando cheguei lá. Três homens grandes vestidos de preto de baixo a cima, estavam em pé ao redor da mesa agora destruída, eles tinham armas e olharam na minha direção antes de se virar e sair rápido.

Minha mãe estava jogada no chão com sangue manchando sua roupa, seus olhos estavam fechados e meu pai... ele também caído no chão, só que de bruços, com os braços meio largados. Quando o choque liberou as minhas pernas eu corri e fui primeiro para a minha mãe, eu não ouvia nada além do zumbido ensurdecedor nos meus ouvidos, mas eu sabia que estava gritando, eu sabia que estava berrando, eu sabia que estava chorando. Mas eu não sentia nada, nem os caquinhos de vidro quebrado cortando meus pés.

Me joguei ao lado do papai depois de ver que a mamãe tinha um pulso fraco e o virei, os olhos verdes do meu pai estavam abertos, e ele tinha vários tiros no peito.

- PAI! PAI! Olha pra mim - gritei ou sussurrei não sei, mas ele não olhava o seu olhar estava vidrado para cima.

A realidade me atingiu como uma bala. O meu pai não estava mais aqui, seus olhos abertos encaravam a eternidade. O abracei com força chorando copiosamente, a essa altura várias pessoas já estavam entrando pela porta, enfermeiros carregavam a minha mãe em uma maca, mas eu não soltei meu pai. Minhas roupas encharcaram de sangue, o sangue dele, e então eu chorei mais. Enfermeiros chegaram perto dele, de nós, e confirmaram que ele estava morto, fechando seus olhos com delicadeza.

Me afastei dele um pouco e olhei para ele ali deitado em silêncio parecendo em paz e me inclinei para beijar sua testa. Coloquei as mãos sobre seu coração e lhe disse as últimas palavras que esperava que ele pudesse ouvir do lugar que estivesse.

- Obrigada por tudo papai, eu nunca vou te esquecer, vai estar sempre guardado no meu coração e na minha alma. Eu te amo e sempre vou te amar mais do que Nutella, mas do que a vida. Se existir mesmo um céu, eu espero que o senhor esteja lá alegrando os anjos com sua presença. Adeus papai.

Enfermeiros me direcionavam olhares de pena, alguns médicos vinham com um saco preto entrando na casa e eu logo desviei o olhar. Me examinaram e me disseram que minha mãe estava viva e passando por algum procedimento. Eu implorei para que me levassem para perto dela. Meu tio Martin, o irmão mais novo do papai chegou e me abraçou, minhas lágrimas pareciam que tinham acabado e eu ouvi a rouquidão na minha voz quando disse para ele.

- Me leve para ver minha mãe, tio, por favor

Ele concordou e me tirou dali, ele fez o que eu pedi, como faria muitas vezes dali pra frente. Minha mãe tinha levado um tiro em um lugar que não foi fatal graças a agilidade dos médicos. Mas ela entrou em uma depressão forte, que tirou os melhores traços da sua personalidade, a fazendo ter que ficar internada em um hospital psiquiátrico. Eu fui mandada para morar com meu tio. A minha melhor amiga Nathalie sempre estava por lá me visitando, e a partir daquele dia Nutella não me deixava mais feliz, eu só consegui me permitir sentir algo parecido com felicidade muito tempo depois.

Doce Veneno -  Série Gangue Justiceiros 1Onde histórias criam vida. Descubra agora