Laura fez treze anos.
Deu a informação à Matilda com certa surpresa, percebendo, enquanto esfregava os braços com a esponja, que ela mesma havia se esquecido do dia.
— É hoje — disse. — Meu aniversário é hoje — Verão; trinta de julho. Criança do verão, era como Blanche costumava chamá-la.
Matilda piscou algumas vezes, confusa. Laura colocou a esponja dentro da bacia, um calor agradável entrando pela janela aberta, dissipando o arrepio que a água fizera brotar em sua pele.
— Por que não disse antes? — Matilda perguntou.
— Eu me esqueci — Laura admitiu. — Acha que ele sabe?
— Sir William mal se lembra do próprio aniversário — Matilda disse. — Eu nem mesmo sei qual é o dia certo. Acho que minha Ma costumava saber. Lady Viviane — Matilda, por hábito, pronunciava o nome da falecida senhora do castelo como um murmúrio. — sempre insistia em dar uma festa. Mas ele odeia festas—Sir William.
Laura não duvidava. Sir William—Will, ela agora o chamava—parecia desafeito a qualquer coisa que envolvesse barulho e comoção excessiva. Quietude era o reino dele.
— Foi a morte da senhora que o deixou assim — a Sra. MacFarland tinha explicado, fazendo o sinal da cruz. Lady Viviane havia morrido cerca de quatro anos antes de Laura ter chegado àquele lugar. Lady Viviane, uma prima distante de Marisa, segundo Will dissera. A madrinha de Laura, a mulher que, um dia, segurara-a nos braços—e da qual Laura não tinha nenhuma lembrança.
Lady Viviane morrera ao dar à luz. O bebê teria sido o segundo filho do casal Whitney, que já tinha um menino—um rapaz, na verdade. De que Will pouco falava, e que parecia viver em Londres.
Laura imaginava-o como imaginava Richard, que só conhecia por retratos da família. Primogênito, educado em universidade, traçando um caminho longe da família, antes do dia em que assumiria o o peso de sua herança.
E o que vai ser de mim?, Laura pensava. Quando ele voltar? Quando Will não estiver mais aqui?
Sissy odiava o irmão. Jamais perdia a oportunidade de dizer como Richard era egoísta e mal-humorado, como nunca dera atenção para ela. O que aquele homem—único herdeiro dos Whitneys—faria da situação de Laura, quando o padrinho da menina já estivesse morto?
Ele pairava sobre Laura como uma sombra, esse estranho; talvez um enigma maior do que Lady Viviane.
O que vai ser de mim?
Porque o castelo era grande demais para o pouco número de pessoas que o habitavam, algumas alas estavam trancadas; nelas, lençóis brancos ou amarelados cobriam móveis que não eram do uso de ninguém, e poeira juntava-se por todos os cantos—poeira, folhas secas; pequenas trilhas de fezes deixadas por animais, que conseguiam entrar pelos buracos que faziam nas portas, ou através de janelas quebradas. Essas áreas isoladas eram uma terra incognita para Philip e Laura, apesar dos avisos de Gertie, que não achava seguro que eles brincassem entre tanta coisa antiga; coisas que, se tombassem, poderiam esmagá-los, comprometer um pé ou uma mão.
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A coroa partida
FantasyGrã-Bretanha, século XIX. Victoria é a rainha. Laura Maypother, uma garota feita órfã por um incêndio, é levada para a Escócia, onde será criada pelo padrinho, o excêntrico Sir William. Em um castelo que parece congelado no tempo, entre quadros de m...