Porque eu te matei...

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Desde pequeno notei que havia algo de diferente em mim, sentia vontade de fazer coisas que outras pessoas não sentiam.
A única pessoa que me entendia era minha mãe, outras poucas pessoas que eu conheci me disseram que eu era estranho e maluco, todos eles se afastaram.
Mas eu não me importava, nunca senti vontade de fazer amigos.

Nem sempre minha mãe soube que eu era diferente, ela só descobriu quando eu matei o cachorro da vizinha.
Aquela coisa fedia, fazia sujeira e barulhos irritantes, sem falar que tinha noites que eu não dormia de tanto que aquela merda latia.
A sensação foi boa, foi fácil resolver aquele problema, agora não tinha mais aquele fedor, não tinha mais barulho.
No dia seguinte a vizinha veio até nossa casa para perguntar se minha mãe tinha visto alguém entrar no quintal dela, lembro de ir até elas e dizer "fui eu".

As duas olharam confusas pra mim minha mãe me disse:

- Filho, você escutou direito? A Cleusa tá perguntando se a gente viu alguém entrar no quintal dela, você entrou lá?

Lembro-me de responder:

- Sim, eu entrei lá pra matar o cachorro dela.

Devido aos rumores que se espalharam, nos mudamos uma semana depois.

Depois daquele dia minha mãe ficou estranha comigo por um tempo, mas depois entendeu que ela era diferente de mim, e não deixou de me amar.
Embora ela tentava me explicar que as coisas que eu fazia era errado ao olhar dela e da maioria das pessoas.

Mas chegou o dia em que ela simplesmente desistiu de tentar me mudar.
Embora depois disso ela nunca mais falou nada, nem comigo nem com ninguém.
Pouco a pouco ela foi parando de falar, de andar e de comer.
E então chegou o dia que ela parou de respirar.

Embora eu nunca tivesse sentindo nada forte antes, senti um leve desgosto por perder a única pessoa no mundo que me entendia.
Mas não durou muito tempo, fui embora da casa da minha mãe no dia seguinte, não fiz funeral, nem sequer avisei a ninguém que ela morreu, apenas parti.

Eu nunca precisei trabalhar, pois desde que meu pai morreu quando eu ainda era um feto, eu e minha mãe vivíamos da herança que ele deixou para nós.
Por algum motivo nenhuma autoridade veio atrás de mim, ninguém me procurou depois que eu deixei minha mãe.
Apenas vivi minha vida normalmente vivendo em casas ou apartamentos alugados, em que os donos se preocupavam mais com o pagamento e não com quem você era.

Não é difícil achar pessoas assim.

Havia mais um motivo por qual eu matei aquele cachorro naquele dia, e talvez isso seja uma das principais coisas que me faz diferente das outras pessoas.

A necessidade que eu sinto de matar.

Nunca tinha sentido nada até aquele dia, aquele prazer que eu senti...
Foi tão bom...
Foi tão bom sentir aquilo... Senti esse poder... O poder que eu tenho sobre seres inferiores a mim.
Nunca tinha sentido algo assim, e eu queria sentir de novo...
Depois daquele cachorro, matei outros animais do mesmo tamanho ou menores.
Era incrível ter todo aquele trabalho de montar a armadilha e ver que o pássaro caiu exatamente do jeito que eu queria.
Um sentimento prazeroso vinha a tona quando tudo tinha dado certo e eu tinha o pássaro ali nas minhas mãos e eu podia fazer tudo o que eu quisesse com ele.
O destino dele estava em minhas mãos, a vida dele agora era minha.

Assim como um viciado em drogas quer sentir aquela sensação incrível e aquele alívio que sente quando usa, eu queria sentir aquilo novamente.

De novo, de novo e de novo.

Até que animais não eram mais o suficiente, chegou um momento em que não importava o tamanho do animal nem a quantidade.
Não era o suficiente pra aliviar aquela necessidade.
Eu precisava de um desafio maior, algo que seria tão difícil que a recompensa pelo meu esforço pudesse saciar meu desejo a um ponto que eu não precisasse fazer o que faço por um grande período de tempo.
Eu sabia exatamente o que eu tinha que fazer.

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2023 ⏰

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