Capítulo 2

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Acordei em um salto, assustada, suando frio. Encarei o relógio na cabeceira, 04:45am. Cedo demais para acordar e tarde demais para dormir. Algo parecia espreitar nas sombras.

Recorri ao meu ato habitual de apanhar meu caderno de anotações, para escrever o que me lembrasse do sonho da noite anterior. No entanto, havia algo errado.

Por mais que eu sentisse que tinha a posse da informação em algum lugar oculto de minha mente, não conseguia encontrá-la. Não me lembrava de absolutamente nada. Isso nunca acontecera antes... A sensação de perder o controle era indescritível... frustrante, assustadora.

Passei as mãos pelos cabelos, pelo rosto, senti algo queimar em meu queixo. não me lembrava de ter me ferido. Me levantei e caminhei até o pequeno espelho que havia no quarto, para ver o que era. De fato, havia um corte. Um corte que eu não tinha feito.

Eu sentia como se tivesse sido roubada.

Abri o caderno assim mesmo, folheei lentamente cada página, saboreando as histórias. Antigas lembranças. Observei meus desenhos... Tudo ali, significava alguma coisa. Eu não anotava somente os sonhos, mas cada parte de mim. Se lia algum livro e alguma informação me marcava muito, eu a esboçava, em rabiscos, desenhos, da forma como minha alma a sentia.

Muitas coisas haviam sido inspiradas nos livros de minha avó. Criaturas místicas, deuses, monstros, até mesmo reinos inteiros. Tudo aquilo, resumido há um pequeno caderno de folhas amareladas. Somado a histórias de aventuras, de uma garota tão desesperada para fugir de sua realidade amaldiçoada, que criava outras, somente suas.

Parei de folhear na página em que contava a história de um dos meus sonhos favoritos... nesse, eu era a princesa Aurora. Havia o desenho de uma torre, e um dragão abaixo. Spitfyre, era o nome dele. O cuspidor de fogo.

Nessa história, meu pai era um rei muito respeitado e cruel na mesma intensidade. Me prometera em casamento a um príncipe, que era tão ruim quanto ele e eu me recusei. Então ele me trancafiou em uma torre muito alta, e me amaldiçoou a viver ali, sob os olhos de fogo de um dragão. Muitos homens tentaram chegar até ali, e todos eles morreram. Eu era obrigada a ouvir sua sentença de morte e em seguida, sentir o cheiro de carne queimada.

Até que um dia, exausta, subi na janela da torre, me agarrei em suas grades e gritei muito alto. Implorei que os antigos deuses acabassem com meu tormento. Spitfyre ouviu e rosnou furiosa por tê-la acordado. Foi até a janela e me encarou, escancarando a boca, pronta para incendiar tudo. Eu estava tão frustrada e triste, que não senti medo. Fiquei sozinha por tanto tempo... Estendi a mão por entre as grades e ergui os olhos. Pedindo silenciosamente por companhia, ou misericórdia.

Ela estava preparada para incendiar a torre e me queimar, assim como fazia com os homens que tentavam chegar ali. Eu entenderia isso como seu último ato de compaixão. Sussurrava "Dracgnis, Spitfyre... por favor..."

Era assim, que se dava o comando ao "fogo de dragão". Estava com os olhos fechados e esperando. Mas ela não soprou. Abaixou a cabeça, e a encostou na palma de minha mão. Spitfyre me permitiu tocá-la. Após isso, ela voou para longe, e novamente em minha direção. Então soprou. Incendiou o alto da torre e destruiu tudo acima de mim. Aterrissou ao meu lado, e se deitou no chão, me dando permissão para montá-la. Voamos para longe dali.

Depois disso, eu montada em Spitfyre, minha dragão e fiel amiga, conquistei o reino de meu pai. Tomei tudo o que era meu. Queimei aqueles que concordaram com ele ao me trancafiar na torre, e fui misericordiosa com aqueles que se arrependeram verdadeiramente e se ajoelharam.

Nomeei essa história de "A rainha salva pelo fogo do dragão"

Continuei folheando. Até chegar ao que deveria ser a próxima página. Estava rasgada e metade dela estava faltando. Na parte restante, haviam palavras escritas com tinta vermelha. O que certamente não era de meu feitio... Eu sempre usava canetas pretas.

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⏰ Última atualização: Jan 03, 2023 ⏰

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